A tragédia que abalou Santa
Maria, mais diretamente, e o Brasil inteiro, fez com que a presidente Dilma Rousseff
passasse por lá, vinda de uma viagem ao Chile, para prestar solidariedade aos
familiares que perderam parentes e aos feridos. No que fez muito bem.
Inicialmente seria uma visita
discreta, de consolo, mas começaram a vazar fotos da presidente abraçando
pessoas e chorando.
Bem, choramos e ficamos emocionados com eventos assim, tão inesperados e brutais, longe, parece no caso da boate Kiss, de uma simples fatalidade.
Bem, choramos e ficamos emocionados com eventos assim, tão inesperados e brutais, longe, parece no caso da boate Kiss, de uma simples fatalidade.
Estou tão chocado e indignado com
os fatos como qualquer outro cidadão; espero que a polícia faça o seu trabalho
de forma correta e indicie os culpados, pois a fatalidade não pode ir para a cadeia.
Pessoas, sim, por imperícia, imprudência, negligência.
Como esse caso foi uma das
maiores tragédias do Brasil, certamente as autoridades terão todo o empenho em
esclarecer a sequência dos fatos, desde antes do incêndio, isto é, desde a história
do tal alvará vencido há meses, para checar se a boate Kiss cumpria, mesmo,
todos os regulamentos e normas de segurança.
Como o incendio ocorreu, mais
pareceu trata-se de uma armadilha ou arapuca que contou, de certa forma, com
uma ajudazinha da sorte, e a negligência de alguns.
Mas, voltando à presidente Dilma.
Ela (certamente a sua assessoria) não vai deixar passar a oportunidade política
de se manifestar sobre o caso, embora o drama o mereça, de olho no futuro.
O CHORO DE DILMA E O SEU PASSADO
Mas uma coisa chama sempre a
minha atenção. Sou muito mais velho que a maioria dos leitores, com certeza,
pois faço parte da geração de Dilma Rousseff. O que chama a minha atenção, e
uma vez escrevi a propósito, foi que a presidente também se emocionou quando do
massacre do Realengo, no Rio de Janeiro, em que um maluco matou a tiros muitas
crianças.
Ela também se emocionou quando
houve o problema dos desabamentos na serra do Rio de Janeiro, como muitas
perdas de vida. E é bom ou ruim que a presidente se emocione diante de fatos
assim tão tristes e dramáticos?
Acho bom, isso demonstra que ela
tem uma alma sensível e que consegue captar o drama daquelas pessoas e se empatiza
com elas. Uma pessoa humana, como diriam alguns... como se pessoas pudessem ser
outra coisa. Mas agora dispara frases (coisa de sua assessoria) sobre quantos
futuros presidentes o Brasil teria perdido no incêndio da boate Kiss! Tenha dó,
com o devido respeito aos mortos, vamos parar com isso!
Mas trato do choro de Dilma como
chamou a minha atenção a forma de Barack Obama manifestar a sua dor no caso de
Sandy Hook, quando dezenas de crianças também foram mortas a tiros por outro atirador
maluco.
Eu acredito que políticos
consigam sentir emoções. Acredito que possam ser sinceros. Mas é preciso
colocar as coisas em uma certa perspectiva. A foto de Obama com o dedo
indicador no canto do olho não me convenceu totalmente. Há muito histrionismo
em muitas das manifestações de quem tem mandato e depende de votos.
Bem, pode pensar o leitor, como
você pode julgar a emoção de Dilma ou de Obama? De fato não estou julgando
ninguém, apenas observando cenas e a história. Roland Barthes no livro “A Câmara
Clara” fala sobre “punctum”, um ponto que chama a atenção em uma foto e que nos
atrai, nos fascina.
No caso de Obama foi a forma como
ele tocou o canto dos olhos com o dedo indicador, como a sugerir a existência
de uma lágrima que não vi cair.
“PUNCTUM”
No caso de Dilma, bem, não se
trata de “punctum” de alguma foto dela, mas de uma questão mais antiga, e que
sempre me persegue: Como a presidente de todos os brasileiros consegue sentir
tanta emoção diante da tragédia provocada por incêndios ou chuvas torrenciais e
nunca falou uma única palavra de conforto, não importa que tenham passado
tantas décadas, às famílias das vítimas do terrorismo nos anos 70?
Dilma, a presidente, talvez mais
amadurecida, na casa dos 60 anos, com filha e neto, tenha aprendido a chorar,
ou a externar o seu sentimento.
Mas, porque ela nunca se referiu à dor das famílias
das vítimas do terrorismo? Enquanto os que empunharam armas para lutar e
derrubar a ditadura para implantar outra ditadura (estilo cubano, chinês)
receberam indenizações, os familiares de suas vítimas nunca receberam um aceno
qualquer.
Ela já disse –aceitemos de boa
vontade a sua palavra – que nunca matou ninguém nos tempos do terrorismo
(chamado eufemisticamente de luta armada). Embora ela nunca tenha apertado o
gatilho, nem explodido bombas, ela já disse que participava em planejamento,
logística de grupos clandestinos que praticavam atos terroristas violentos. Isso é da História do Brasil. Mas que diabos seria logística em eventos de natureza terrorista?
Percebem onde quero chegar? Sei
que houve a Anistia geral – e que os
ex-terroristas teimam em querer apagar uma parte da história – mas a essa
parte, a das vítimas do terror, ninguém se refere, mesmo para pedir desculpas quarenta
anos depois.
Está aí a Comissão da Verdade, que não me deixa mentir. Ninguém
naquela comissão parece interessado em saber das vítimas deles (os terroristas), os que
participaram da luta armada. Sim, muitos civis que nada tinham a ver com a luta morreram de forma horrível.
Aquelas famílias de mais de 100
brasileiros, mortos em atentados terroristas, a maioria vítimas inocentes, nunca
recebeu um afago, creio, uma lembrança, um pedido de desculpas de nenhum dos
ex-terroristas, alguns, hoje, altas autoridades da República.
Dilma Rousseff, uma senhora de
mais de 60 anos, mãe e avó, presidente de todos os brasileiros, pode ter
aprendido com a vida, amolecido o coração. Se enternece com os fatos recentes. Ainda hoje sua assessoria divulgou uma frase sobre a tragédia: "muitos deles poderiam ter sido futuros presidentes".
Mas
teria se esquecido do passado? E quantos daqueles mortos poderiam, também ter
sido presidentes? Quantos deixaram de ver os filhos, os irmãos, as irmãs, os pais?
Essas questões me perseguem, como
o “punctum” das fotografias para Roland Barthes.
Acho que há um limite em que é
necessário tocar o alarma do pudor.
A comissão da verdade parece pouco pro autor da missiva... ORA, se Dilma fez história à época dela com a luta armada, continua fazendo-a com a comoção e emoção a flor da pele, em detrimento das tragédias e mazelas, embora trágicas acidentais.
ResponderExcluirMeu caro amassador de laudas, a frase proferida pela presidente "...quantos futuros presidentes o Brasil teria perdido...", é a mais pura projeção e possibilidade SIM, e não entendo sua hojeriza pela comparação, ou, aqueles jovens universitários mortos no incéndio (na sua ótica) não poderiam vir a ser presidentes?
Na minha, SIM, poderiam sim senhor!
O pedido de desculpas que tanto alardeia e tão sofregamente suscita às famílias de quem participou da história do Brasil, pode até vir a ser pedido... Quando houver arrependimento, sim, daquilo que se achava correto no tempo passado, e agora não concorda. Seria como admitir que estava errada...
Da mesma forma que o blogueiro, em sua luta "silenciosa" e ferina, poderia "mostrar" alguma lágrima sobre os assuntos aqui tragediados e até mesmo repensar suas cobranças, pois cobrar menos sentimentos do ser humano (Dilma) é a primeira vez que vejo.
Quando todos cobram MAIS sensibilidade, o autor (gutemberg) sugere exatamente o contrário, mascarado na exigência de num pedido de desculpas.
Mas, quando não se tem "nada" a atacar alguém, procura-se qualquer pretexto, e usa-se qualquer texto pro intento.
Tenho dito.
Caro senhor Nabuco.
ResponderExcluirEm nenhuma linha do texto trato de pedir "menos sentimentos do ser humano". Parece que o senhor é do grupo que lê o que não está escrito e o atribui a quem não escreveu.
Não sei sua idade. Tenho 63 anos, sou da mesma geração da presidente. Critico o que me parece um certo oportunismo. Se ele chorou com sinceridade, ótimo, é o que se espera de quem tem coração. Mesmo que isso tenha demorado décadas para acontecer.
A sua frase "quando houver arrependimento, sim, daquilo que se achava correto no tempo passado, e agora não concorda..."
Senhor Nabuco, a presidente fez parte de grupos terroristas -embora ela tenha dito que não matou ninguém! O senhor crê que ela imaginava que bombas e armas eram para festas juninas? Então o senhor está justificando a morte de dezenas e dezenas de civis que nada tinham a ver com a luta entre grupos armados e os militares? Quem está sendo insensível?
Então pessoas que foram explodidas em nome do ideal da senhora presidente e seus amigos, à época, merceram morrer?
É claro que essa tragédia gigantesca matou jovens que, sim,poderiam chegar muito longe, até a dirigentes da Nação. Mas o que argumentei foi que aquela que agora diz isso colaborou para que dezenas de outros, em outros tempos, e não me importam as razões, também não pudessem chegar a presidentes, ou continuassem a sendo filhos, irmãos, pais. Isso é pouco, senhor?
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