A polícia de São Paulo está investigando há semanas, de modo
sigiloso, a morte de Viviane Alves G. Wahbe, 21 anos, que caiu do edifício em que morava.
Inicialmente considerada um suicídio, a morte passou a ser investigada como em decorrência de um suposto estupro, pois a família encontrou alguns papéis com palavras ou pedaços de frase que faziam referência a ela ter sido drogada e vítima de estupro.
Uma coisa que aprendi é que em Jornalismo perguntar não ofende, desde que a pergunta seja feita de modo educado e da maneira certa. Mas perguntar é essencial na profissão. Assim como no trabalho policial.
As perguntas que faço como leitor são as mesmas que faria na cobertura do caso, até o limite profissional. Daí adiante os procedimentos são do campo da Polícia e da Justiça. Todos nós que lemos sobre a morte de Viviane podemos estar chocados, intrigados, tristes, e fazendo perguntas. Mas muitas pessoas, pelo que tenho lido, e isso me espanta, já partem de convicções, de crenças, de certezas, de versões parciais absolutizadas.
Isso é um grande erro. Assim, muitas vezes, inocentes são linchados.
Costumo ler, diariamente, muitas notícias dos mais variados tipos, em sites jornalísticos e blogs de informações. Uma coisa que chama a minha atenção é como segmentos da Opinião Pública são levados, induzidos, ou conduzidos por narrativas.
Narrativas são o equivalente a versões sobre os fatos. Mas uma coisa que sei é que as coisas não se resolvem no velho joguinho de colocar um lado em oposição ao outro lado, por exemplo, sem maior aprofundamento da investigação. O famoso ouvir o outro lado, uma medida correta, mas que se não for adiante, não passa de procedimento meramente burocrático.
GUERRA DE VERSÕES
Vejamos, se tenho duas pessoas em campos opostos, e ambas me contam cada uma uma versão de um mesmo fato, não adianta publicar as duas versões e pronto. As duas podem ser, simplesmente, mentirosas. Eu publicaria duas mentiras. Não se pode colocar duas mentiras para o público e esperar que este escolha uma versão; e aquela que ele preferir será considerada verdadeira. As coisas não são e não podem ser assim.
A chuva molha, não adianta a população toda dizer que não. Isso remete sempre a Galileu. A história de Galileu sempre me fascinou. Um sujeito que foi contra a convicção geral de que a Terra era plana. Não era. Isso é um fato.
O trabalho jornalístico, nesse sentido, é parecido com o da polícia, respeitados seus limites naturais. Se tenho duas versões, preciso checar as versões, cruzar dados, fazer verificações, ouvir outras pessoas. Não é muito diferente da metodologia de um trabalho de natureza científica na área social.
Assim, não tem cabimento querer que a população, em um plebiscito escolha: houve ou não estupro? Então, se a população votar que sim, houve? Pode não ter havido, ora. Só houve um estupro se ele aconteceu. Pode ter acontecido? Claro que sim, mas é exatamente isso que a polícia procura esclarecer. E se a conclusão for que não houve. Vamos destruir a sede da polícia? Evidentemente que isso seria prova de estupidez.
PROVAS
Além do mais, todos sabemos que, o fato de às vezes um crime não ser provado isso não impede que ele tenha acontecido. O que gera toda discussão é essa possibilidade. Mas aí seria o seguinte:um crime houve mas não foi possível prová-lo. Outra coisa diferente é, por simpatia com uma vítima, por exemplo, querermos que o crime tenha acontecido.
Nunca acreditei no mito do crime perfeito. Sempre fui bom leitor de histórias e contos policiais, especialmente os clássicos. A verdade, quase sempre, é descoberta. Na ficção, ou na vida real.
Viviane foi ou não estuprada? Pode ter sido, sim, pois era jovem, bonita, inteligente, amigável. Poderia atrair a atenção de um colega canalha e tarado? Sim, canalhas e tarados existem em todos os ambientes, e por esses e outros motivos foi que surgiram as delegacias da Mulher e a Lei Maria da Penha. Mas nós querermos que sim, ou não, é irrelevante diante da verdade dos fatos. E isso ainda não sabemos.
Mas pode não ter sido. Fico espantado é com a resistência de muita gente em admitir que seres humanos possam ter problemas psicológicos ou psiquiátricos. Isso não é ofensa. Não estou afirmando que esse era o caso da moça. Só a família dela pode dizer se alguma vez havia feito algum tratamento, antes desses episódios, por algum outro motivo. Sempre me vem à mente o filme sobre a vida do matemático John Forbes Nash, "Uma mente brilhante" (A beautiful mind). Viram? Não? Então vejam. Saberão de que estou falando.
Essa é uma questão que a polícia examinará, certamente. Um fato, ao menos o que foi publicado nos jornais, é que Viviane se suicidou e, antes da família haver levado os bilhetes à polícia, ela já havia falado para a mãe sobre ter sido estuprada. Essa diferença de tempo é que é estranha. Se a mãe havia acreditado nela, mesmo sem ter encontrado os bilhetes, porque a polícia não acreditaria? Mas essa é uma questão que compete à família da estudante e às investigações policiais.
Outra coisa que foi considerada nas matérias que li sobre o caso, foi se ela teria tomado algum remédio que pudesse haver provocado alucinações, vozes, algo que a tivesse desorientado e feito cair do andar em que morava. Remédios tomados, é bom dizer, para tranqüiliza-la, após o suposto ataque criminoso.
Não teria sido a primeira e nem a última vez para algo assim. Drogas (remédios) provocam efeitos desse tipo, sim, embora isso tenha que ser analisado pelos peritos policiais-judiciais. Mas quase nunca tais alucinações aconteceriam com um ou dois comprimidos, apenas.
Algumas matérias informam que ela teria dito à mãe que estaria sendo assediada por um superior do escritório em que trabalhava. É possível que algo assim aconteça, não seria a primeira vez, e não à toa há cada vez mais processos por assédio moral, por exemplo. Certamente a polícia, que já ouviu mais de 30 pessoas, levará tudo isso em conta.
Onde quero chegar com isto tudo? Ao fim do texto, diria.
Quero chegar ao seguinte: Viviane não terá sido estuprada porque as pessoas queiram que isso tenha acontecido. Ela terá sido vítima de um criminoso se crime foi cometido e se um criminoso houver.
Se isso não aconteceu, será essa a verdade, resguardando a possibilidade de a polícia, apesar de todos os depoimentos, exames e verificações, chegar a um resultado em que não se possa acusar alguém.
Nesse caso, então, talvez, pode ter havido, como nos contos policiais, o crime perfeito. E um criminoso estará circulando por aí, pensando que escapou da Justiça. Mas não escapou, um dia será pego, certamente.
Inicialmente considerada um suicídio, a morte passou a ser investigada como em decorrência de um suposto estupro, pois a família encontrou alguns papéis com palavras ou pedaços de frase que faziam referência a ela ter sido drogada e vítima de estupro.
Uma coisa que aprendi é que em Jornalismo perguntar não ofende, desde que a pergunta seja feita de modo educado e da maneira certa. Mas perguntar é essencial na profissão. Assim como no trabalho policial.
As perguntas que faço como leitor são as mesmas que faria na cobertura do caso, até o limite profissional. Daí adiante os procedimentos são do campo da Polícia e da Justiça. Todos nós que lemos sobre a morte de Viviane podemos estar chocados, intrigados, tristes, e fazendo perguntas. Mas muitas pessoas, pelo que tenho lido, e isso me espanta, já partem de convicções, de crenças, de certezas, de versões parciais absolutizadas.
Isso é um grande erro. Assim, muitas vezes, inocentes são linchados.
Costumo ler, diariamente, muitas notícias dos mais variados tipos, em sites jornalísticos e blogs de informações. Uma coisa que chama a minha atenção é como segmentos da Opinião Pública são levados, induzidos, ou conduzidos por narrativas.
Narrativas são o equivalente a versões sobre os fatos. Mas uma coisa que sei é que as coisas não se resolvem no velho joguinho de colocar um lado em oposição ao outro lado, por exemplo, sem maior aprofundamento da investigação. O famoso ouvir o outro lado, uma medida correta, mas que se não for adiante, não passa de procedimento meramente burocrático.
GUERRA DE VERSÕES
Vejamos, se tenho duas pessoas em campos opostos, e ambas me contam cada uma uma versão de um mesmo fato, não adianta publicar as duas versões e pronto. As duas podem ser, simplesmente, mentirosas. Eu publicaria duas mentiras. Não se pode colocar duas mentiras para o público e esperar que este escolha uma versão; e aquela que ele preferir será considerada verdadeira. As coisas não são e não podem ser assim.
A chuva molha, não adianta a população toda dizer que não. Isso remete sempre a Galileu. A história de Galileu sempre me fascinou. Um sujeito que foi contra a convicção geral de que a Terra era plana. Não era. Isso é um fato.
O trabalho jornalístico, nesse sentido, é parecido com o da polícia, respeitados seus limites naturais. Se tenho duas versões, preciso checar as versões, cruzar dados, fazer verificações, ouvir outras pessoas. Não é muito diferente da metodologia de um trabalho de natureza científica na área social.
Assim, não tem cabimento querer que a população, em um plebiscito escolha: houve ou não estupro? Então, se a população votar que sim, houve? Pode não ter havido, ora. Só houve um estupro se ele aconteceu. Pode ter acontecido? Claro que sim, mas é exatamente isso que a polícia procura esclarecer. E se a conclusão for que não houve. Vamos destruir a sede da polícia? Evidentemente que isso seria prova de estupidez.
PROVAS
Além do mais, todos sabemos que, o fato de às vezes um crime não ser provado isso não impede que ele tenha acontecido. O que gera toda discussão é essa possibilidade. Mas aí seria o seguinte:um crime houve mas não foi possível prová-lo. Outra coisa diferente é, por simpatia com uma vítima, por exemplo, querermos que o crime tenha acontecido.
Nunca acreditei no mito do crime perfeito. Sempre fui bom leitor de histórias e contos policiais, especialmente os clássicos. A verdade, quase sempre, é descoberta. Na ficção, ou na vida real.
Viviane foi ou não estuprada? Pode ter sido, sim, pois era jovem, bonita, inteligente, amigável. Poderia atrair a atenção de um colega canalha e tarado? Sim, canalhas e tarados existem em todos os ambientes, e por esses e outros motivos foi que surgiram as delegacias da Mulher e a Lei Maria da Penha. Mas nós querermos que sim, ou não, é irrelevante diante da verdade dos fatos. E isso ainda não sabemos.
Mas pode não ter sido. Fico espantado é com a resistência de muita gente em admitir que seres humanos possam ter problemas psicológicos ou psiquiátricos. Isso não é ofensa. Não estou afirmando que esse era o caso da moça. Só a família dela pode dizer se alguma vez havia feito algum tratamento, antes desses episódios, por algum outro motivo. Sempre me vem à mente o filme sobre a vida do matemático John Forbes Nash, "Uma mente brilhante" (A beautiful mind). Viram? Não? Então vejam. Saberão de que estou falando.
Essa é uma questão que a polícia examinará, certamente. Um fato, ao menos o que foi publicado nos jornais, é que Viviane se suicidou e, antes da família haver levado os bilhetes à polícia, ela já havia falado para a mãe sobre ter sido estuprada. Essa diferença de tempo é que é estranha. Se a mãe havia acreditado nela, mesmo sem ter encontrado os bilhetes, porque a polícia não acreditaria? Mas essa é uma questão que compete à família da estudante e às investigações policiais.
Outra coisa que foi considerada nas matérias que li sobre o caso, foi se ela teria tomado algum remédio que pudesse haver provocado alucinações, vozes, algo que a tivesse desorientado e feito cair do andar em que morava. Remédios tomados, é bom dizer, para tranqüiliza-la, após o suposto ataque criminoso.
Não teria sido a primeira e nem a última vez para algo assim. Drogas (remédios) provocam efeitos desse tipo, sim, embora isso tenha que ser analisado pelos peritos policiais-judiciais. Mas quase nunca tais alucinações aconteceriam com um ou dois comprimidos, apenas.
Algumas matérias informam que ela teria dito à mãe que estaria sendo assediada por um superior do escritório em que trabalhava. É possível que algo assim aconteça, não seria a primeira vez, e não à toa há cada vez mais processos por assédio moral, por exemplo. Certamente a polícia, que já ouviu mais de 30 pessoas, levará tudo isso em conta.
Onde quero chegar com isto tudo? Ao fim do texto, diria.
Quero chegar ao seguinte: Viviane não terá sido estuprada porque as pessoas queiram que isso tenha acontecido. Ela terá sido vítima de um criminoso se crime foi cometido e se um criminoso houver.
Se isso não aconteceu, será essa a verdade, resguardando a possibilidade de a polícia, apesar de todos os depoimentos, exames e verificações, chegar a um resultado em que não se possa acusar alguém.
Nesse caso, então, talvez, pode ter havido, como nos contos policiais, o crime perfeito. E um criminoso estará circulando por aí, pensando que escapou da Justiça. Mas não escapou, um dia será pego, certamente.
Não concordo com a frase "a verdade, quase sempre, é descoberta". Na verdade, na maioria das vezes a verdade não é descoberta. As pessoas preferem aceitar que alguma hipotese, alguma "teoria", que aparente ter alta probabilidade, seja efetivamente "a verdade". A grande maioria dos crimes não é resolvida. De fato, crimes de maior repercussão têm uma maior chance de serem resolvidos, devido a um maior empenho de investigadores, família e mídia. Mas no mundo real, a maioria dos criminosos, vivem soltos e não em presídios.
ResponderExcluirOlá.
ExcluirTavez você tenha razão, mas devemos, sempre que possível, trabalhar nessa direção.
Abraço
Gutenberg