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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MARCELO EDUARDO BOVO PESSEGHINI. O DESCONHECIDO QUE MORAVA ENTRE NÓS. A cada dia os sinais de que o garoto de 13 anos matou os pais, os PMs. Luiz Marcelo e Andréia, a tia-avó e a avó, suicidando-se em seguida, são mais fortes. Milhões preferem não encarar os fatos de frente, aderindo a teorias da conspiração. A chacina da Vila Brasilândia chocou o País e deveria servir para algumas reflexões.



Quanto mais inesperado o fato, maior o choque. A morte de cinco pessoas da família Pesseghini foi tão assustadora e inesperada quanto um ato terrorista. Porque o terrorismo choca tanto? Porque é gratuito, cruel e inesperado. Absolutamente inesperado. As mortes daquelas pessoas seriam chocantes por si mesmas, mas tudo ficou muito mais estranho pelas suspeitas recaírem sobre uma criança.

Me perguntam, como eu sei que foi o garoto que matou quatro pessoas tão próximas? Eu não sei. Nada sei. Apenas analiso os sinais deixados por Marcelo e que são tornados públicos pelas narrativas da imprensa, dos policiais envolvidos na investigação e de testemunhas que conheciam o menino.

O ser humano, de certa forma, é uma máquina que emite e lê sinais. Alguns prestam maior atenção a esse fato, outros o negligenciam. Além disso, há uma cultura que parece tentar explicar tudo com apoio em teorias de conspiração, pondo em duvida a honestidade ou seriedade das instituições.

Ainda de modo mais profundo age uma visão de mundo, surgida há alguns séculos, que inocenta os seres humanos por suas violências, repassando a culpa ou a origem do mal a causas de natureza social. É uma idéia baseada em Jean-Jacques Rousseau, que acreditava que o ser humano sempre é puro, em estado natural, sendo corrompido pela pela vida social.

Essa visão é insuficiente para examinarmos muitas coisas. Vejamos: pode-se admitir que o menino matou os pais; mas, aí, sempre aparecerá alguém para dizer “é culpa dos jogos eletrônicos violentos”, “é culpa dos filmes violentos”, “é culpa dos programas policiais da TV”, é culpa disto e daquilo, sempre isentando o indivíduo.

Ocorre que há pessoas más (não estou afirmando que o menino Marcelo era mau), ocorre que a maldade existe, ocorre, também, que a pessoa ao nosso lado pode ser um absoluto desconhecido, embora possamos ter uma convivência diária.

Creio que Marcelo seja um desses casos em que, num certo momento, algo aflora e a verdadeira face da pessoa aparece. Qual o motivo? Não sei. Mas a história de Marcelo não é única. Há inúmeros casos parecidos, em termos de surpresa, inesperado e violência.

Talvez nunca alguém tenha observado um sinal diferente de pensamento ou comportamento emitido pelo garoto. Talvez ele não tenha mesmo emitido nenhum sinal que pudesse ser percebido. A surpresa também existe.




Sinais, indícios

O exame dos computadores e telefones da família revelará muitas coisas. Talvez muitas coisas não interessem a ninguém. São conversas e hábitos de pesquisa nos computadores extremamente pessoais, que não ajudam em nada a elucidação do crime.

Porém, tudo o que for verificado como sendo pesquisa feita por Marcelo, ou temas que se encaixem no assunto chacina interessam.

Por exemplo: alguém naquela família pesquisou sobre como dopar pessoas e fazê-las adormecer profundamente. Os senhores acreditam que foi um dos mortos, exceto Marcelo?  

Alguém postou no final do ano de 2012, no Facebook de Marcelo, uma imagem referente a uma chacina familiar acontecida em 1974, nos Estados Unidos, conhecida como Massacre de Amityville, quando um rapaz matou seu pai, a mãe e mais quatro irmãos a tiros de espingarda. Quem fez a postagem, a sua mãe?

O menino, de 13 anos e 1,60 m de altura sabia dirigir, sabia atirar; ironicamente aprendeu as duas coisas com seus próprios pais.

Marcelo também tinha como identidade visual no Facebook uma imagem de um assassino vingador de um jogo eletrônico chamado Assassin´s Creed. Foi Marcelo que perguntou para a professora se havia dirigido carro quando criança e se ela já havia feito algum mal aos próprios pais.

Também foi Marcelo que telefonou para um colega de escola (o mesmo cujo pai deu carona a Marcelo na manhã em que ele morreu, antes da chacina, para convidá-lo a participar, segundo o seu colega revelou ontem (14) ao delegado que investiga o caso.

O colega dele já estava tão acostumado com certas idéias de Marcelo sobre matar os pais que nem estranhou e nem falou com ninguém sobre isso. E, dessa vez, horas depois, Marcelo realmente cumpriu o que estava planejando.

Assim, há muitos sinais, e, certamente, os investigadores encontrarão outros para provar que foi Marcelo o autor dos crimes.

Claro que há turbulências geradas pela pressa da imprensa em informar, uma novidade a cada segundo! Há as pessoas que desconfiam os investigadores; há quem acredite que, por serem policiais, Luiz e Andréia poderiam ter muitos inimigos.

E tudo isso é aceitável. Mas o fato do sargento Pesseghini ser da Rota ou de sua esposa poder haver investigado ou denunciado policiais corruptos, ou bandidos (que existem, de fato), não significa que, apesar disso, as mortes tenham sido causadas por alguém de fora da família.

O curioso é que essa triste história mostra a todos nós que precisamos prestar mais atenção ao outro, ao próximo. Não por conta de escapar da morte. Não. Mas prestar atenção ao ser do nosso lado, o marido, a mulher, o filho, a filha, pode permitir que algum problema seja revelado. O menino era considerado educado, calmo, tranqüilo, então incapaz de matar a própria família. Ficava horas quietinho no computador. Pois é, o que fazia ali durante tanto tempo?

Qual pai e mãe, sem ser controlador e ditatorial, tenta conversar sobre os assuntos que interessam à criança que usa um computador muitas horas?

Na correria de nossa vida, cada um está quase por si. Isso certamente resultará em surpresas.

As pessoas formam imagens das outras que são falhas. Quando foi divulgado que o menino era canhoto e que havia guiado o carro até a escola e havia atirado nos pais, seus parentes mais próximos negaram isso tudo.

Um tio disse que ela era destro (não era) outros parentes disseram com convicção que ele não sabia nem dirigir e nem atirar (sabia). Não viviam tão perto dele para saber essas coisas como vizinhos ou colegas de escola. Formaram uma imagem de uma convivência comum às famílias, leituras parciais, superficiais, e erradas. Mas essas leituras formaram crenças equivocadas. Eram todos parentes do menino, mas de algum modo ela era um desconhecido para eles.

Essa é a questão. Sabemos pouco sobre a natureza humana e os mistérios da alma e da mente; alguns estudiosos que crêem mais nas diretrizes rousseaunianas, acreditam que nem existe uma natureza humana. Acho que deveriam rever seus conceitos, e prestar mais atenção aos fatos.

Há sinais demais apontando para o menino. A polícia deve checar as outras pistas e indícios? Claro. Esse cuidado é necessário. Mas costumo dizer que a realidade de algo não é o que a gente quer que seja, a realidade é por si mesma.

Isto é, a realidade de certos fatos não resulta de nossa crença ou vontade. Fatos acontecem.

Uma votação popular indicando que 100% da população não acredita que Marcelo não matou os parentes não muda em nada a realidade caso ele seja mesmo o autor dos crimes. Certas coisas não podem ser submetidas a plebiscito.

Lamentavelmente.  



(ACRESCIDO NO DIA 03 DE SETEMBRO:

A polícia divulgou hoje (3) laudo que mostra que Marcelo distendeu a mão esquerda ao usar a arma de sua mãe, uma pistola calibre 40, usada para matar seus familiares e no suicídio. O cano da pistola tinha cabelos de Marcelo chamuscados grudados e os cabelos na cabeça dele também estavam chamuscados, sinal de de que ele deu um tiro na própria cabeça.)

2 comentários:

  1. Parabens pelo seu comentário, você escreve muito bem, mas ... eu NÃO acredito em nada desta história ridículo que a polícia contou e burlou todo mundo. Pra mim, o Marcelo é inocente...e ponto final.

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    1. Boa noite, Victor. Obrigado pelo comentário. O caso realmente é fora do comum, e deixa muita gente na dúvida. Mas procure ler sobre crimes cometidos por crianças; elas são capazes de coisas terríveis, lamentavelmente.
      esse caso, embora diferente, pode remeter a essa história da mãe e quatro filhos mortos em Ferraz de Vasconcelos. Cheguei a pensar no boliviano, pois foi o que chegou ao local e chamou a polícia. Muitas vezes quem faz isso é o suspeito número um. Até que surgiu a história do outro sujeito que morreu há 3 meses, no mesmo apartamento, asfixiado por gás. O apartamento tinha vazamentos. Creio que serei obrigado a aceitar que foi o gás, e não o boliviano.
      No caso do menino Pesseghini, há muitos depoimentos sobre ele e as intenções que tinha.
      Grato, Gutenberg.

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