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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ROUBAR PELO POVO É MELHOR QUE ROUBAR PARA SI? Ou, a nova modalidade do "roubo, mas faço". Como os petralhas vão se tornando, a cada dia, mais transparentes.



No primeiro texto de hoje, em que comento que Lula é o deus que nunca sabe de nada, a propósito do editorial do Estadão “O inimputável”, citei o livro “Partido de Deus”, de Luis Mir. Toco outra vez no assunto, agora a propósito do texto de Carlos Alberto Sardenberg publicado em O Globo, com o título “Roubar pelo povo”.

A cada dia fica mais claro que o PT é um partido muito complicado, e mais trasparente do que os petistas imaginam. Um grupo de homens, décadas atrás, criou, com base em uma filosofia difusa, apoiada em teses da CNBB, da esquerda católica, de diversas variantes marxistas, de messiânicos salvadores, um partido para ser a verdadeira salvação do Brasil. De fato, sem mais e nem menos, um tipo de religião; se não, um partido de características religiosas, exclusivo.

Um grupo especial de pessoas, dotadas de revelações e clarividência, com um tipo de carta branca para fazer o bem a todos. Aqui é que se revela o aspecto complicado do PT. Sendo um grupo meio messiânico, salvacionista, acaba usando, na prática as idéias de Lênin sobre os meios e os fins.

Num primeiro momento, os petistas pareciam estar separados da sociedade brasileira. Quando alguém entrava para o partido passava ser um ente especial. Com a estrelinha no peito, e calças sujas e sandálias rasgadas, então, eram o máximo. Aqueles que teriam vindo do subsolo para salvar os brasileiros. Aqueles que quisessem ser salvos, claro.

Assim, numa primeira faze de embate os petistas eram avessos a qualquer contato com outros partidos e pessoas “de fora”. Tinham a solução para tudo. Assim, foram administrando prefeituras e sempre com o uso dos “estrangeiros”, os petistas de outros lugares, os militantes, para ocupar o lugar dos locais.

Mas a política é mais complexa do que parece e ao há lugar, na vida social, de uma população heterogênea e religiosa, conservadora, para muitas experiências alucinantes.
Uma vez que as lideranças perceberam que seria necessário “tolerar” os diferentes para crescer e governar, mas sempre mantendo a virgindade e a inocência, claro!, o PT foi crescendo e se enraizando.

Mas, um partido de um povo “especial”, que não quer mistura com os demais povos que habitam o mesmo espaço é um bicho estranho. Na verdade, depois do Mensalão, e com as reações dos líderes petistas às denúncias de suas falcatruas, ficou claro que o partido joga com duas morais.

Quem nunca foi petista nunca se enganou com essa pureza toda suposta. Quem já foi e percebeu o monstro, se arrependeu. Tiraram as estrelinhas e andam envergonhados. A Igreja tomou um susto, e ficou meio sem rumo no apoio que dava ao partido.

Ficou claro que o partido, de fato, nunca deixou de ser de caráter salvacionista e totalitário. Em suma, nunca acreditou muito no desenho republicano e democrático. Tanto que, pegos os petistas em calças curtas, se lambuzando com dinheiro do povo, desviado para isto ou aquilo, pouco importa, os gurus saem repetindo o mantra protetor: foram os aloprados, não o partido. Como se um partido fosse uma entidade metafísica, sem contato com os homens.

Cada condenação dos chefões petistas no Mensalão atingiu, sim o partido, diretamente.
O que começa a ficar claro é que um bando de crentes petistas percebeu que não há como criar um país do zero. Nem Lula e nem o PT inventaram ou reinventaram o Brasil. O partido é que se propôs diferente, com pessoas feitas da mesma sociedade e cultura das demais partes da população.

Como chegou com arrogância salvadora, melou-se todo. Agora quer ser arrogante também na hora da queda.

WWW.SPONHOLZ.ARQ.BR
O que Marco Maia faz agora, de querer enfrentar o Judiciário, com relaçao à condenação de petistas corruptos, só prova a incapacidade petista de conviver com instituições republicanas e democráticas. Para os petistas, os corruptos do PT são melhores que os corruptos dos outros partidos, por exemplo. 

O PT teria que inventar um povo, outras instituições e outro país. Mas isso não é possível. O Brasil é o que é, eles estão no Brasil.

Não é o Brasil que está dentro do PT.

GUTENBERG J

Agora leiam o artigo de Sardenberg   


Roubar pelo povo 

Carlos Alberto Sardenberg, O Globo

Intelectuais ligados ao PT estão flertando com uma nova tese para lidar com o mensalão e outros episódios do tipo: seria inevitável, e até mesmo necessário, roubar para fazer um bom governo popular.

Trata-se de uma clara resposta ao peso dos fatos. Tirante os condenados, seus amigos dedicados e os xiitas, ninguém com um mínimo de tirocínio sente-se confortável com aquela história da “farsa da mídia e do Judiciário”.

Se, ao contrário, está provado que o dinheiro público foi roubado e que apoios políticos foram comprados, com dinheiro público, restam duas opções: ou desembarcar de um projeto heroico que virou bandidagem ou, bem, aderir à tese de que todo governo rouba, mas os de esquerda roubam menos e o fazem para incluir os pobres.

Vimos duas manifestações recentes dessa suposta nova teoria. Na “Folha”, Fernanda Torres, em defesa de José Dirceu, buscou inspiração em Shakespeare para especular: talvez seja impossível governar sem violar a lei.

No “Valor”, Renato Janine Ribeiro escreveu duas colunas para concluir: comunistas revolucionários não roubam; esquerdistas reformistas roubam quando chegam ao governo, mas “talvez” tenham de fazer isso para garantir as políticas de inclusão social.

Tirante a falsa sofisticação teórica, trata-se da atualização de coisa muito velha. Sim, o leitor adivinhou: o pessoal está recuperando o “rouba mas faz”, criado pelos ademaristas nos anos 50. Agora é o “rouba mas distribui”.

Nem é tão surpreendente assim. Ainda no período eleitoral recente, Marilena Chauí havia colocado Maluf no rol dos prefeitos paulistanos realizadores de obras, no grupo de Faria Lima, e fora da turma dos ladrões.

Fica assim, pois: José Dirceu não é corrupto, nem quadrilheiro — mas participou da corrupção e da quadrilha porque, se não o fizesse, não haveria como aplicar o programa popular do PT.

Como se chega a esse incrível quebra-galho teórico? Fernanda Torres oferece uma pista quando comenta que o PT se toma como o partido do povo brasileiro. Ora, segue-se, se as elites são um bando de ladrões agindo contra o povo, qual o problema de roubar “a favor do povo”?

Renato Janine Ribeiro trabalha na mesma tese, acrescentando casos de governos de esquerda bem-sucedidos, e corruptos. Não fica claro se são bem-sucedidos “apesar” de corruptos ou, ao contrário, por serem corruptos. Mas é para esta ultima tese que o autor se inclina.

Não faz sentido, claro. Começa que não é verdade que todo governo conservador é contra o povo e corrupto.

Thatcher e Reagan, exemplos máximos da direita, não roubavam e trouxeram grande prosperidade e bem-estar a seus povos.

Aqui entre nós, e para ir fundo, Castello Branco e Médici também não roubavam e suas administrações trouxeram crescimento e renda.

Por outro lado, o PT não é o povo. Representa parte do povo, a majoritária nas últimas três eleições presidenciais. Mas, atenção, jamais ganhou no primeiro turno e os adversários sempre fizeram ao menos 40%. E no primeiro turno de 2010, Serra e Marina fizeram 53% dos votos.

Por isso, nas democracias o governo não pode tudo, tem que respeitar a minoria e isso se faz pelo respeito às leis, que incluem a proibição de roubar. E pelo respeito à opinião pública, expressa, entre outros meios, pela imprensa livre.

Por não tolerar essas limitações, os partidos autoritários, à direita e à esquerda, impõem ou tentam impor ditaduras, explícitas ou disfarçadas. Acham que, por serem a expressão legítima do povo, podem tudo.

Assim, caímos de novo em velha tese: os fins justificam os meios, roubar e assassinar.

Renato Janine Ribeiro diz que os regimes comunistas cometeram o pecado da extrema violência física, eliminando milhões de pessoas. Mas eram eticamente puros, sustenta: gostavam de limusines e dachas, mas não colocavam dinheiro público no bolso. (A propósito, anotem aí: isto é uma prévia para uma eventual defesa de Lula, quando começam a aparecer sinais de que o ex-presidente e sua família abusaram de mordomias mais do que se sabe).

Quanto aos comunistas, dizemos nós, não eram “puros” por virtude, mas por impossibilidade. Não havia propriedade privada, de maneira que os corruptos não tinham como construir patrimônios pessoais. Roubavam dinheiro de bolso e se reservavam parte do aparelho do estado, enquanto o povo que representavam passava fome. Puros?

Reparem: na China, misto de comunismo e capitalismo, os líderes e suas famílias amealharam, sim, grandes fortunas pessoais.

Voltando ao nosso caso brasileiro, vamos falar francamente: ninguém precisa ser ladrão de dinheiro público para distribuir Bolsa Família e aumentar o salário mínimo.

Querem tudo?

Dilma consegue aprovar a MP que garante uma queda na conta de luz. O Operador Nacional do Sistema Elétrico diz que haverá mais apagões porque não há como evitá-los sem investimentos que exigiriam tarifas mais caras.

Ou seja, a conta será mais barata, em compensação vai faltar luz.

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

FONTE:

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