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domingo, 23 de dezembro de 2012

ROSE, A MULHER DO ANO, LULA, A CORRUPÇÃO E OS CARAS-PINTADAS. Como afirma, Guilherme Fiúza, Rosemary é a mulher do ano.

Os caras-pintadas ainda serão estudados, um dia, como uma manifestação das peculiaridades brasileiras. Temos acompanhado protestos pela imprensa de dezenas de milhares de pessoas, em diversos países, nos últimos anos, pelos mais diferentes motivos.

A chamada Primavera Árabe forneceu  alguns exemplos; a crise grega e espanhola outros tantos. A periferia londrina também se manifestou fortemente, assim como italianos protestaram contra os escândalos de Berlusconi.

Mas, no Brasil, a última onda de protestos foi a dos caras-pintadas. Muito intrigante. Jovens foram às ruas contra a corrupção, para derrubar Collor de Mello, no início da década de 90.

Vinte anos!

A GERAÇÃO DOS CARAS PINTADAS CHEGOU AOS 40! HOJE NÃO SE ESPANTAM COM MAIS NADA. E NÃO CRIARAM HERDEIROS PARA A SUA INDIGNAÇÃO. O BRASIL É O PAÍS PERFEITO.
Depois disso, o País parece haver entrado numa fase maluca, em que nada mais espanta a população, seja o que for, nem um nível de corrupção que deixaria Collor de Mello na situação de um escoteiro que fez traquinagens. 

O Mensalão foi o maio escândalo de corrupção da República, liderado, segundo a PGR e o STF, pelo ex-deputado e lide petista José Dirceu, além de outras figuras carimbadas do entorno de Lula.

E o que aconteceu? Nada. A população segue a sua marcha de passividade bovina fazendo parecer que o Brasil é um novo tipo de paraíso.

O PIB estaciona e começa a cair, exames internacionais mostram a degradação da educação dos jovens, os escândalos envolvendo desvios gigantescos de dinheiro púbico se sucedem, uma CPI como a do Cachoeira acaba numa imensa pizza.

É como se a população, a imprensa e outras instituições e movimentos sociais, antes tão combativos e indignados tivessem tomado uma dose extra de algum chá alucinógeno e mágico, que mudou as cores da realidade.

Os brasileiros estão enfeitiçados, e este tempo de feitiços nos deu Rose. É sobre Rose que escreve Guilherme Fiúza.

Afinal, o que está acontecendo entre nós?  

Gutenberg J.    


Rosemary, a mulher do ano

GUILHERME FIUZA

Nesses tempos de devoção às minorias, não é justo deixar de destacar a contribuição de Rosemary Noronha para a causa feminina. O Brasil progressista explode de orgulho por ser governado por uma mulher — que aliás deu a Rosemary sua chance de brilhar — e não pode agora se esquecer de reverenciar mais uma expoente do gênero. Assim como Dilma, Rose chegou lá. O fato de estar enrolada com a polícia é um detalhe.

Rose e Dilma escreveram seus nomes na história do Brasil por serem, ambas, utensílios de Lula. A finalidade de cada uma para o ex-presidente não vem ao caso. O que importa é que ambas funcionaram muito bem. Como se nota pelo ufanismo nacional em torno de Dilma, não se espera mais da mulher moderna opinião própria, autonomia e iniciativa. Basta botar um tailleur vermelho, um colar de pérolas e decorar suas falas. E muito importante: falar o mínimo, para errar pouco. Até outro dia isso era piada entre Miguel Falabella e Marisa Orth (“cala a boca, Magda!”). Hoje é sinal de poder.

O grande símbolo feminino brasileiro da atualidade, que desperta a admiração de Jane Fonda — que tempos! — não tinha feito nada de extraordinário na vida até ser levada pela mão do padrinho ao topo. O feminismo realmente mudou muito.

Lá chegando, seu maior mérito foi usar vestido e não ser o Lula (para os que não suportavam mais o ogro bravateiro), ou ser o Lula de vestido (para os que seguem venerando o filho do Brasil). Sem nenhum plano de governo, com um ministério fisiológico de cabo a rabo, sem um mísero ato de estadista em dois anos de mandato, Dilma se destaca por ser ou não ser Lula, dependendo do ponto de vista. É a apoteose da nulidade, que o Brasil progressista e feminista consagra com aprovação recorde.

Diante desses novos valores, seria injusto não consagrar Rosemary também. A representante da Presidência da República em São Paulo fez exatamente o que Dilma fez em Brasília: cacifada por Lula, passou a reger o parasitismo do PT, cuidando da nomeação de companheiros e dando blindagem política às suas peripécias para sucção do Estado.

No caso de Dilma, a grande orquestra fisiológica foi desmoronando ao vivo, com nada menos que sete ministros nomeados (e protegidos até o fim) por ela caindo de podres, graças à ação da imprensa. A mulher-modelo de Jane Fonda ainda havia parido uma Erenice, a quem preparava para ser a dama de ferro de seu governo (Jane não pode imaginar o que seria isso) — derrubada por fazer na Casa Civil algo muito parecido com as operações fantásticas de Rosemary. Até o uso da Anac como balcão de negócios se repetiu. Por que só Dilma é ícone feminino, se Rosemary mostrou ser um prodígio da mesma escola?

Por algum mistério insondável, a Polícia Federal não fez escutas nos telefones de Rose, ou diz que não fez. As conversas da mulher que regia uma quadrilha grudada em Lula, se apresentando como sua namorada, e que tramou até sabotagem ao julgamento do mensalão — o mesmo que Lula tentara com Gilmar Mendes — não interessou aos investigadores. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que não havia motivos para grampear Rosemary — uma suspeita que está impedida pela Justiça de sair de sua cidade. Esses ministros farsescos do PT podiam ao menos ser mais criativos. Mas não precisa, porque o Brasil engole qualquer coisa.

Marcos Valério disse que Lula teve despesas pagas pelo esquema do mensalão e autorizou operações bancárias do valerioduto. É comovente a desimportância atual dessas declarações. Lula é o líder de um projeto político montado para a permanência no poder a qualquer custo — e essa fraude está exaustivamente demonstrada pelo mensalão, por Dirceu, Erenice, Palocci, Pimentel, aloprados, Rosemary e praticamente todo o estado-maior petista, tanto de Lula quanto de Dilma, flagrados em tráfico de influência para se aferrar ao poder na marra. O que mais é preciso denunciar?

O eleitor brasileiro está brincando com fogo. Enquanto o desemprego estiver baixo, vai continuar afiançando a fraude que finge não ver. O país vai sendo empurrado com a barriga pelos fisiológicos — e essa conta vai chegar. O governo desistiu de controlar a inflação, que vai se afastando da meta (apesar da mudança de cálculo que reduziu o índice). A gastança pública é disfarçada com truques contábeis para esconder o déficit. A arrecadação brutal banca a farra dos companheiros, sem sobra para investimentos decentes — e tome literatura de trem-bala e tarifas mentirosas de energia, que já multiplicam os apagões por manutenção precária.

Como se viu na funesta CPI do Cachoeira, a mafiosa Delta comandava o planejamento da infraestrutura terrestre.

Mas está tudo bem, e oito governadores podem ir de cara limpa prestigiar Lula e sua democracia de aluguel. Se este é o país que queremos, Rosemary é a mulher do ano.

GUILHERME FIUZA é escritor.

21/12/12

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