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quinta-feira, 5 de maio de 2011

OSAMA BIN LADEN. UM JOVEM RICO, REBELDE E ENFASTIADO COM O LUXO OU UM MÍSTICO FANÁTICO QUE ODIAVA O OCIDENTE? Leia e conclua você mesmo.

O pai de Osama Bin Laden era um pobre imigrante do Yemen que foi tentar a vida na rica Arábia Saudita. De carregador de malas passou a ser o homem mais rico e poderoso do país, ficando somente abaixo do rei. Osama foi filho único da décima esposa de seu pai, Hamida a-Attas. Seu pai teve 54 filhos. O pai de Bin Laden criou a maior construtora da Arábia Saudita e tinha muitas obras nos locais onde ficam as mesquitas sagradas. Isso, segundo alguns estudiosos pode ter impressionado bastante o jovem Bin Laden, que, segundo alguns parentes, nunca pisou fora de terras islâmicas, detestando tudo o que fosse ocidental. 

Osama Bin Laden nasceu em Riad, em 1957. Seu pai morreu em um desastre aéreo quando ele tinha dez anos. Em 1973, aos 16 anos, foi atraído por grupos mais radicais islamitas. Em 1979 foi para o Afeganistão para lutar contra os invasores soviéticos (foi o Vietnã da União Soviética), com o apoio da Arábia Saudita e   
dos Estados Unidos. Ao fim da guerra, rico, mudou-se para o Sudão (um país que estimula o terrorismo) e iniciou negócios empresariais. Paralelamente criou a AlQaeda (A Base), com a finalidade de combater a família real saudita. Ele considerava a família real ostentadora, ocidentalizada. Sob a influência de líderes religiosos fanáticos Osama Bin Laden ampliou o leque de seus inimigos, passando a combater os judeus, os próprios islâmicos xiitas e os ocidentais, em geral, especialmente os americanos.

Leia, a seguir, o excelente trabalho de pesquisa de Sofia Lorena, publicado no site Público (link ao final) quando Bin Laden completou 50 anos:


Como é que o líder da Al-Qaeda chegou aos 50 anos em liberdade?

Por Sofia Lorena

Já se escreveu que morreu. Que está no Afeganistão. No Paquistão. Que fugiu de vespa ou de bicicleta. Que tem cancro. Que fez uma operação plástica. Mas nunca que faz 50 anos... É hoje? A propósito, cinco aniversários passados em solo muçulmano.

Há muitos dados contraditórios na biografia de Osama bin Laden. A data em que nasceu podia ser mais um: no FBI, o "mais procurado" tem apenas direito a ano de nascimento, enquanto os que com ele partilham essa lista têm dia e mês. Diferentes especialistas em Osama e na Al-Qaeda apontam diferentes datas, mas o próprio Bin Laden afi rma ter nascido "de pais muçulmanos na Península Arábica, no bairro Malazz de Riad, a 10 de Março, 1957" (Al-Jazira, 1999). Acreditemos então que faz hoje 50 anos será que alguma vez sonhou chegar a este dia? Na verdade, não sabemos se chegou. Hipótese um: o homem mais procurado do mundo nunca foi encontrado porque morreu antes da captura.

"O único vídeo autenticado de Osama bin Laden remonta ao fim do ano de 2004 [Novembro]. Apesar de terem sido difundidos registos áudio de Bin Laden entre 2004 e 2007 [o último é de Janeiro de 2006], a ausência de imagens alimenta as especulações. Alguns dizem que está doente, outros moribundo.

Uma nota da Direcção Geral da Segurança Externa (DGSE, serviços secretos franceses), divulgada pela imprensa francesa em Setembro de 2006, anuncia mesmo a sua morte", recordou ao PÚBLICO Mark Hecker, analista do Institut Français des Relations Internationales (IFRI).

O Paquistão não acredita que esteja morto. Pela mesma altura da nota da DGSE, o ministro do Interior, Aftab Khan Sherpao, explicava ao jornal The Washington Post porquê.

"A Al-Qaeda vai chorar a sua morte e vai retaliar em grande. Estamos muito seguros de que Osama está vivo." E a semana passada, numa entrevista à televisão britânica Channel 4, o principal comandante militar dos taliban, mullah Dadullah, garantiu que não só está vivo, mas em contacto com a insurreição.

"Ainda não cometeu martírio", assegurou.

Autoconfi ança perigosa Robert Fisk, que entrevistou Osama bin Laden três vezes e foi o primeiro jornalista ocidental a encontrar-se com ele, em 1993 no Sudão, lembrou há uma semana no Independent como foi vendo a barba de Osama tornar-se grisalha. Sobre o último encontro de ambos, em 1997, escreve que "a idade estava a dar a Bin Laden uma autoconfi ança perigosa".

"Leio os peritos, dizendo-me que Bin Laden tem cancro, que precisa de máquinas para sobreviver. Mas dizemos isso sobre todos os nossos inimigos. Bin Laden usa um pau para andar pouco habitual num homem de 50 anos mas sabemos que foi ferido no Afeganistão. A verdade é que e esqueçam os peritos que possam dizer-vos o contrário Bin Laden ainda está vivo. Como a escarlatina, pode estar condenado e ser difícil de localizar, mas permanece nesta terra. Com 50 anos." Consideremos então que está vivo e livre, apesar de existir há mais de cinco anos uma recompensa milionária 25 milhões de dólares à espera de quem ajude a capturálo e de a única superpotência gastar anualmente milhões à sua procura.

Escapa porque quem o procura não o quer verdadeiramente encontrar, não se esforça o suficiente ou não o faz eficazmente? Será simplesmente muito bom a fugir? Ou terá alguma qualidade rara que o ajuda a permanecer incógnito? Primeiro era "uma questão de tempo" "morto ou vivo". "Não sei se vamos apanhá-lo amanhã ou daqui a um mês ou daqui a um ano. Mas vamos apanhá-lo", ouvimos em Dezembro de 2001.

Mas aos poucos, as palavras Osama bin Laden foram fazendo cada vez menos parte do vocabulário de George W. Bush. "Eu não sei onde Bin Laden está. Não faço ideia e realmente não me importo.

Não é importante e não é a nossa prioridade", corrigiu o Presidente Bush em Março de 2002.

Vida sem luxos Nesse momento, segundo os peritos, já era tarde. Osama devia e podia ter sido capturado nas grutas de Tora Bora ( Jalalabad, Afeganistão), em Dezembro de 2001, ou logo depois. Num vídeo obtido pela CIA nesse mês, Bin Laden instrui combatentes sobre como cavar buracos para passar a noite indetectável, enquanto um avião americano larga uma bomba ao longe. "Estávamos ali ontem à noite", diz tranquilamente. Dois meses depois, sabe-se agora, Bush decidiu retirar grande parte das tropas especiais e dos paramilitares da CIA que lideraram a caça, ordenando-lhe que começassem a preparar a guerra no Iraque."Fiquei horrorizado quando soube. Não conheço ninguém que pensasse que isso era uma boa ideia.

Se não tivéssemos feito isto, é muito provável que Bin Laden estivesse morto ou sob custódia americana", afirmou o ano passado ao Post Flynt L. Leverett, que em 2001 era perito em Médio Oriente do Conselho de Segurança Nacional.

O analista do IFRI avança pelo menos duas hipóteses para Osama nunca ter sido capturado: simplesmente "porque nunca foi encontrado ou porque há um interesse em vigiá-lo mais do que em capturá-lo". "Isso permitiria na verdade controlar quem o visita, quem são os seus colaboradores mais próximos", admite Hecker.

Steve Biddle, do Council on Foreign Relations, resume assim os obstáculos "É muito difícil encontrar indivíduos em meios muito hostis". "Levou-nos meses a localizar Saddam Hussein depois de já termos assumido o controlo do Iraque, por exemplo. Bin Laden está rodeado de comunidades locais simpatizantes num terreno muito duro onde as forças do Governo paquistanês raramente entram. Isso faz com que seja muito difícil encontrá-lo", explicou ao PÚBLICO o perito sedeado em Washington.

Esforços redobrados Para o seu livro de 2006 The Osama bin Laden I Know, Peter L. Bergen fez a mesma pergunta a Abdel Bari Atwan, autor de The Secret History of Al-Qaeda e editor do jornal Al-Quds al-Arabi, que entrevistou Bin Laden em 1996. Resposta: "Não encontraram Osama bin Laden por uma razão: Osama é um homem humilde. Pode viver com pouca comida. Pode viver sem qualquer luxo. E também é amado pelas pessoas que se movem em seu redor ou com ele, onde quer que estejam, seja no Paquistão ou no Afeganistão.

E não acredito que o entreguem. Ele é adorado".

Todos estes analistas acreditam que Osama está vivo e algures entre o Afeganistão e o Paquistão onde as poucas pistas dos últimos anos o colocam. Apesar das poucas pistas e da ideia generalizada de que as buscas arrefeceram há muito, também há indicações recentes de redobrados esforços para o encontrar.

"EUA perto de capturar Osama", escreveu terça-feira o Daily Telegraph. Convenhamos, o título não tem nada de original, mas há já algum tempo que não o líamos. Aparentemente, os EUA estão a enviar agente de topo da CIA para seguir uma nova pista no Paquistão. Certo é que há sinais de um ressurgimento da Al-Qaeda com a participação directa de Osama.

Talvez isso o tenha deixado mais exposto. O Internacional Herald Tribune escreve que os EUA o colocam numa zona tribal do Norte do Waziristão.

Importa que Bin Laden faça 50 anos em liberdade? Sim, para os EUA e até para a Al-Qaeda ou a jihad global. Mas provavelmente não é fundamental.

"Bin Laden criou a Al-Qaeda. O monstro nasceu. Qual é sentido de continuar à procura de um Bin Laden de 50 anos?", escreve Fisk.

Peter Bergen diz que o monstro são "os mil Bin Ladens" que conseguiu criar em vida. Para Heckner, morto ou vivo "é incontestavelmente um ícone do terrorismo contemporâneo que terá sempre um papel mais importante em termos de propaganda do que em termos operacionais". "Hoje, ele é talvez no jihadismo internacional o que Che Guevara era no meio dos anos 1960 para a guerra revolucionária."

Principais datas da vida de Bin Laden

1967 Infância abençoada

Quando Bin Laden fez dez anos, em 1967, o pai, Mohammed Awad bin Laden, já tinha tido pelo menos 54 filhos 25 rapazes e 29 raparigas de umas 20 mulheres.O patriarca, que começara por carregar malas aos peregrinos que chegavam à Arábia Saudita, já era então o rico presidente do Grupo Bin Laden, a maior construtora do país. Osama nasceu em Riad "depois Deus foi gracioso o suficiente para que nos mudássemos para a Medina Sagrada e pelo resto da minha vida fiquei em Hejaz, movendome entre Jidá, Meca e Medina", descreveu o próprio à Al-Jazira, em 1999. Nessa entrevista notou como o pai teve a sorte de em dados momentos poder fazer três das cinco orações do dia nos três locais santos o seu grupo teve a cargo, em simultâneo, a restauração da mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, e a expansão das de Meca e Medina.

Entrevistado por Peter Bergen, o seu professor de inglês, Bryan Fyfield-Shayler, lembra-se de um aluno discreto e não particularmente brilhante; um vizinho de Jidá, Khaled Batarfi, recorda que no futebol jogava a avançado, "porque era alto e podia usar a cabeça para marcar golos", e que era tímido, bom observador e bom ouvinte. Pouco depois de completar onze anos, o pai morreu na queda de um avião.

1975 Marido e pai aos 18

Muito se especulou a seguir ao 11 de Setembro sobre a adolescência de playboy que Osama terá tido em Beirute. Pela mesma altura, os jornais europeus publicavam fotos de um grupo de adolescentes de férias na

O segundo à direita, ao lado do jovem de paletó laranja,
seria Bin Laden na Suécia, em 1971, aos 14 anos. Sua cunhada Carmen Bin Laden
(que escreveu o belo livro Véu Rasgado) diz que não deve ser ele,
 e sim seu irmão (de  Osama) Salah.
 Carmen acredita que Osama nunca deixou terras islâmicas.
 Suécia: calças à boca de sino, roupas coloridas. Osama foi identificado como um dos rapazes sorridentes, cabelo ondulado, camisa verde e calças azuis. A ex-cunhada Carmen bin Laden escreve em Véu Rasgado que tudo não passa de ficção e que o rapaz identificado como Osama é na verdade outro dos irmãos, Salah.

Tanto quanto é possível saberse, Bin Laden nunca terá pisado solo não muçulmano. "Preferia morrer do que viver num Estado europeu", diria anos mais tarde ao jornalista Abdel Bari Atwan.

Estudou quase sempre em Jidá, licenciando-se em Administração Pública na Universidade Rei Abdul-Aziz. Quando completou 18 anos, a 10 de Março de 1975, continuava por Jidá e estudava, apesar de já estar casado com Najwah, uma síria sobrinha da mãe. Tinha pelo menos um filho, Abdallah. Carmen bin Laden conta que era já visivelmente um dos irmãos Bin Laden mais religiosos num dos primeiros encontros, Carmen abriu a porta de sua casa de rosto descoberto e Osama virou-lhe a cara.

1982 Um jovem em guerra

Bin Laden ainda não tinha 23 anos quando a União Soviética invadiu o Afeganistão e partiu de imediato para ajudar os mujahedin. Passaria os anos seguintes entre Peshawar, onde organizava a recruta e recepção de combatentes, e os campos de batalha afegãos, ao lado do seu primeiro mentor, Abdullah Azzam, o carismático palestiniano que começou por fornecer energia ideológica ao movimento. 

Foi nestes primeiros anos que ganhou reputação de guerreiro corajoso, ao mesmo tempo que se revelava eficaz angariador de fundos. Para dar resposta às famílias que perguntavam por combatentes mortos ou desaparecidos criou uma base de dados, o primeiro passo para fazer erguer a Al-Qaeda. Quando fez 25 anos já tinha visto a morte de perto.

Nesse ano, em Nangahar, um míssil soviético caiu sem explodir ao seu lado. Osama contou a Robert Fisk ter sentido "sequina", qualquer coisa como calma religiosa. "Durante a jihad afegã, ele esteve sob intenso bombardeamento mais de 40 vezes. Em pelo menos três destas ocasiões, seguiu-se uma matança horrível, com pedaços de pele e de corpos a voar pelos ares, mas nenhum vestígio de medo foi visível em Bin Laden", escreve Atwan em The Secret History of Al-Qaeda.

1995 Apátrida no Sudão

Terminada a jihad contra os soviéticos, em 1989, Bin Laden tinha um exército os milhares de muçulmanos recrutados e treinados nos campos afegãos e não tinha guerra. Mas já começava a achar que tinha uma missão superior. De regresso ao reino saudita, passou algum tempo em prisão domiciliária porque as suas intenções de abrir uma nova frente de batalha no Sul do Iémen (então comunista) não eram bem-vistas. Um corte mais profundo aproximava-se: quando Saddam Hussein invadiu o Kuwait e o regime ignorou a sua oferta de colocar os mujahedin a defender os locais santos do islão. 

Em vez disso, os sauditas convidaram os norte-americanos a fazê-lo. Com um novo regime e a bandeira do islão içada, o Sudão recebe-o, assim como ao egípcio Ayman al-Zahawiri, que nos anos seguintes se tornaria no ideólogo da Al-Qaeda. Quando fez 32 anos, em 1995, vivia numa quinta no deserto perto de Cartum e tinha acabado de perder a cidadania saudita. É desse ano uma das suas primeiras mensagens importantes "A invasão da Arábia". Escrita, como muitas que se seguiriam, em forma de diálogo, dirig-se aos "veneráveis exegetas da Arábia" e ataca a presença de soldados americanos na Península, descrevendo-a como "uma calamidade sem precedentes" na história da comunidade de crentes.2002 Em local incerto

A 10 de Março de 2002, quando completou 45 anos, Osama bin Laden já era o homem mais procurado do mundo e já vivia a monte em fuga permanente ou em sólido refúgio. Já tinham passado quatro anos desde a sua "Declaração de Jihad contra os Americanos" e alguns meses desde que os atentados de 11 de Setembro levaram os EUA a atacar o regime taliban que lhe tinha dado refúgio no Afeganistão. Já tinha tido onze filhos e cinco mulheres. Já tinha perdido muitos dos seus principais lugar-tenentes, como Mohammed Atef. E ainda não tinha aliados que entretanto também já perdeu, como o sanguinário Abu Mussab al-Zarqawi, morto pelas forças americanas no Iraque. O aniversário de há cinco anos, como o de hoje, pode ter sido passado numa casa de Quetta ou de outra cidade paquistanesa, numa cabana de montanha acima do vale Pech, no noroeste afegão, ou numa cave do tempo da luta contra os soviéticos. Pouco importa: seguindo as indicações de alguns religiosos e a prática comum no seu país, Bin Laden não celebra aniversários por não existirem provas de que Maomé alguma vez o tenha feito.
02.05.2011 - 11:16


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