Pesquisar este blog

sábado, 14 de maio de 2011

"OS OLHOS DELE PELOS MEUS OLHOS". Esse foi o pedido de uma moça iraniana aos juízes. Ela ficou cega depois que um pretendente jogou ácido em seu rosto. Os juízes concordaram, e será a aplicada Lei de Talião: "olho por olho, dente por dente".

Era um final de tarde em um dia do ano de 2004, em uma cidade do Irã. Ahmeneh Bahrami caminhava sozinha para casa, pensando na vida,  após sair da fábrica da área de bioquímica em que trabalhava.

AHMENEH ANTES DO CRIME
Observava as pessoas na rua, as falhas da calçada, alguns veículos passando, uma flor em um canteiro, uma pedra fora de lugar, um pássaro cantando sobre um fio elétrico. Alguns instantes depois e ela nunca mais poderia ver coisas simples assim, para as quais mal olhamos quando vamos ao trabalho, ou ao final do expediente.

Há sete anos Ahmenh mora no reino da escuridão. Não vê mais nada. A última imagem que tem na memória é, exatamente, o que ela jamais gostaria de ter que olhar outra vez. Mas é a imagem que a persegue e a atormenta, desde então.

A última coisa que ela pode ver, enquanto enxergava foi o rosto impassível e os olhos frios de Majid Movahedi quando ele lhe atirou um líquido vermelho que estava em um frasco. Quando ele a deixou cega para sempre, com um pouco de ácido sulfúrico. Ela negou-se a casar com ele, que a incomodava sempre com a mesma proposta, até que naquele dia Majid resolveu acabar coma história.

Diante de mais uma negativa da moça, ele atirou ácido sulfúrico sobre o rosto de Ahmeneh, desfigurando-a e deixando-a cega, definitivamente. Assim Ahmeneh conseguiu livrar-se de Majid, permanecendo, no entanto, ligada para sempre à sua imagem, que a assombra todos os dias.
APÓS VÁRIAS CIRURGIAS
À imprensa ele contou, uma vez, que tem muitos pesadelos, dorme mal, acorda à noite assustada. E nos seus pesadelos Majid, além de jogar o ácido sobre o seu rosto (aquela dor horrível!) ainda aparece como um demônio que a ameaça: "Vou matá-la. Vou fazer kbabe com a sua carne". Ela não consegue mais dormir.

MAJID, O QUE FICARÁ CEGO

Ontem (sábado) parte do pesadelo de Ahmeneh poderia ter encontrado um fim (ao menos ao modo como ela pensa). Apenas uma parte, é claro, pois ela teria a oportunidade de estar no local onde as autoridades judiciais do Irã determinaram que fosse cumprida a sentença contra Majid.   

O criminoso será cegado com cinco gotas de ácido sulfúrico aplicadas em cada vista. Na ocasião do julgamento de Majid, em 2008, as autoridades do Tribunal Criminal de Teerã atenderam ao pedido de Ahmeneh para que fosse aplicada a Sharia, a Lei Islâmica, de forma que pudesse ser utilizada a Lei de Talião, isto é a punição de um delito de justa vingança (qsas).

Assim, segundo Ameneh, Majid sentiria o que ela sentiu. Quando foi questionada pelos juízes sobre se ela mesmo queria aplicar a pena, negou-se, dizendo ser horrível demais. Ela quer apenas que Majid sinta o que ela sentiu, e que não faça isso mais com qualquer outra moça. Ela acha que Majid ainda teve muita sorte, pois os juízes mandaram aplicar anestésico antes que o ácido fosse aplicado em seus olhos.

Mas Ahmeneh, que viajou da Espanha, onde mora, para o Irã, não pode acompanhar a execução da sentença. Devido à repercussão internacional do fato e da própria sentença, o governo iraniano tem sido muito pressionado por organizações que defendem os direitos humanos e até governos. Todos pedem que a aplicação da sentença seja suspensa e a pena não seja de castigo físico, não seja pela execução do princípio milenar do "olho por olho, dente por dente".

As autoridades do tribunal acreditam que uma punição assim serviria de exmplo para que outros crimes desse tipo não acontecessem mais, pois são muitos comuns naquela região. Mas os ativistas de direitos humanos pressionaram, pedindo a revisão da pena. Então, o tribunal suspendeu a aplicação da sentença, temporariamente.

Ainda não foi desta vez que Majid deixará de ver pedras, flores, pássaros e, até, a desfigurada Ameneh, que talvez fosse a sua última visão.


NELSON RODRIGUES

A história de Ahmenh e Majid é universal, isto é, pode ocorrer em qualquer lugar. Não é uma história de paixão e crime que aconteça apenas em países islâmicos como muitos tendem a acreditar. Nelson Rodrigues poderia ter feito peças baseadas nesses dramas.
É tipicamente rodriguiano o desfecho: "Se não ficares comigo, ninguém mais a terá".

Não, não é um crime ligado a um povo ou a uma religião, mas provém da natureza meio louca do ser humano. Aí sim, dito isto, podemos afirmar que em alguns países, em que os homens têm um valor maior do que as mulheres, em que há opressão contra as mulheres, em que há aplicação de leis religiosas para pubir os crimes, aí sim os loucos ou mais espertos se aproveitam disso para impor sua vontade. 

Crimes de  honra, vingança e paixão ainda são comuns no interior do Brasil. Temos notícias de histórias horríveis por aqui mesmo, não precisamos ir ao Irã. Outro dia mesmo o tal Ananias matou duas irmãs porque dizia amar uma delas, uma adolescente de 15 anos que não quis o seu amor. "Eu a amava demais", disse o sujeito que a matou com um tiro no rosto.
Puro Nelson Rodrigues.

Mas há uma diferença entre as duas situações. Nos países de fundamentação cristã os indivíduos, mesmo os criminosos, devem ter sua integridade física e psicológica mantidas. Por isso não aceitamos tortura, pena de morte (embora a pena de morte seja aplicada em alguns países) e a Lei de Talião.

O cristianismo mudou a face do mundo ao preservar a individualidade. E é isso que nos orienta. Revolta uma história como a de Ameneh? Sim, bastante. Os multiculturalistas e relativistas poderão dizer, isso é lá com os costumes deles. Pois é. Lá, que seja assim. Eles que se entendam. Mas acontece que quando islâmicos mudam-se de país querem levar seus costumes, e até a Sharia, e isso pode ser um grande problema.

Como seria julgado Majid no Brasil? Pela Sharia ou pela Constituição e o Código Penal. Por estes dois, óbvio. Mas o estrago na Europa já é grande e os britânicos, por exemplos, aceitam a sharia, quando se trata de julgar  islâmicos. Um absurdo! Então um estuprador britânico tem uma pena de um tipo, mas se for um islâmico terá outra pena?

Percebem como o multculturalismo, à guisa de democrático, é absolutamente perverso e antidemocrático? Em um país todos devem estar submetidos à mesma lei. E leis que preservam a integridade física e psicológica das pessoas, mesmo os criminosos, são melhores. Caso contrário, como condenar a tortura aplicada nas ditaduras? A mentalidade politicamnte correta vai deixando as pessoas meio idiotizadas.

Como condenar a tortura e, ao mesmo tempo, aceitar as diferenças culturais? Afinal, devemos ou não ter uma visão universal do ser humano?

Nenhum comentário:

Postar um comentário