O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que já foi o comandante militar da Amazônia, passou para a reserva esta semana. Na sua despedida lembrou seu pai, “lutastes contra a comunização do Pais e me ensinastes a identificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticas para tentar impor o regime totalitário, de qualquer matiz”.
O general foi o primeiro comandante brasileiro da Força de Paz da ONU no Haiti e comandante do Exército na Amazônia.
Ultimamente ocupava um posto burocrático: “quando fui nomeado (para o Dep. de Ciência e Tecnologia) ouviram que eu estava sendo colocado na geladeira profissional. Sem dúvida, o DCT não tinha a ver com meu perfil e minha aptidões. Por decisão do comandante supremo, eu me tornara o exemplo típico do homem errado no lugar errado”.
O comandante supremo do general Heleno era, então, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Este era o general Heleno:
REVISTA ÉPOCA
07/01/2008 - 17:22 | EDIÇÃO Nº 502
“Nossas fronteiras são altamente vulneráveis”, diz general
Comandante Militar da Amazônia admite que falta até combustível para patrulhar as fronteiras do Brasil
RODRIGO RANGEL, DE MANAUS
O general-de-exército Augusto Heleno Ribeiro é um dos mais experimentados integrantes da cúpula do Exército Brasileiro. Tem bom trânsito no alto comando e é respeitado na tropa. Maneja as nuances da política como poucos na caserna. Foi o primeiro comandante da Força de Paz da ONU no Haiti, a cargo do Brasil, e, em setembro passado, assumiu o Comando Militar da Amazônia, o mais importante posto do Exército depois do comando-geral da Força. Nesta entrevista a ÉPOCA, o general admite a deficiência na vigilância das fronteiras na região amazônica.
ÉPOCA - Há uma discrepância gritante entre o discurso político sobre a necessidade de proteção da Amazônia e a realidade das fronteiras na região. Por quê?
General Augusto Heleno Pereira - Hoje eu penso que a grande ameaça à Amazônia não é invasão estrangeira, mas o vazio de poder. Quando sobrevoa a Amazônia, a gente tem idéia do que é um vazio demográfico, e quando bota o pé no chão verifica o que é vazio de poder, o que é ausência de Estado. Isso realmente precisa ser sanado a curto prazo. Nós podemos perder a Amazônia sem dar nenhum tiro. A ocupação da Amazônia pode se dar de forma desordenada, sub-reptícia, sem controle, e vai ser muito mais sério do que qualquer invasão física que aconteça. O que tem salvo a Amazônia de uma ação mais agressiva é o fato de que na selva tudo é muito difícil. Mas eu não tenho dúvida de que, à medida que a evolução tecnológica for dando condições econômicas de exploração, essa ocupação vai ser acelerada.
ÉPOCA - As organizações não-governamentais que atuam na região são a ponta aparente dessa ameaça?
General Heleno - Também. Eu acho que algumas organizações não-governamentais fazem um trabalho altamente meritório. Mas outras nem tanto. E são essas que fazem trabalhos por baixo do pano, que colhem informações, que levantam nossas reservas de minério, que estão trabalhando para o futuro. Não tenho a mínima dúvida disso. Há ainda outras áreas altamente sensíveis que têm sido bastante avaliadas por estrangeiros que vêm à Amazônia para isso, para terem oportunidade de sentir qual é o futuro que eles podem ter aqui. A biopirataria é um exemplo disso. É só circular pela Amazônia que a gente percebe presenças estrangeiras que são até inexplicáveis em determinadas áreas. Onde é rarefeita a presença do Estado, o ilícito ganha espaço. Chega um ponto em que você vai transformando a Amazônia num paraíso para o ilícito.
ÉPOCA - O Exército está preparado para os problemas existentes nas fronteiras do Brasil na Amazônia?
General Heleno - Nossos pelotões de fronteira são forças de vigilância. Estão ali para alertar sobre qualquer movimento pouco usual de tropas do outro lado. Em termos de soberania, de manutenção de integridade territorial, não há risco. Nós estamos bem posicionados na fronteira. Nós não estamos preparados para combater o ilícito, e nesse ponto as fronteiras realmente são altamente vulneráveis.
ÉPOCA - Por quê?
General Heleno - É preciso dar melhores condições de vida para os homens que se propõem a ir para a fronteira defender o país. Eu tenho consciência de que falta até combustível. Isso não pode continuar acontecendo. Além do mais, para desempenhar bem esse papel o Exército precisa ter plataformas de combate altamente móveis. Sem elas, eu não consigo me fazer presente. As distâncias na Amazônia são gigantescas. Tem pelotões que estão a 300 quilômetros um do outro. É uma fronteira extremamente difícil de ser vigiada, área de selva. Não se vê nem os marcos de fronteira. Muitas vezes a fronteira é um rio, um igarapé. Nós não temos helicópteros, não temos voadeiras (barcos de alumínio com motor de popa) suficientes para realizar as patrulhas que nós desejamos.
ÉPOCA - As Farc, que agem bem próximo da fronteira, oferecem risco ao Brasil?
General Heleno - Fatalmente, pela própria posição geográfica, a gente tem certeza que as Farc se abastecem no Brasil. É claro que o camarada não vem no Brasil como guerrilheiro. Ele vem como cidadão colombiano, é recebido como cidadão colombiano, vem aqui, compra algumas coisas e as recebe lá na Colômbia. O comerciante brasileiro entrega a mercadoria lá. O pagamento muitas vezes é feito numa moeda que não é legal. Muitas vezes é droga. E isso nos preocupa porque, se esse pagamento é feito em pasta de cocaína, podem estar sendo montados laboratórios dentro do território brasileiro para transformar a pasta em cocaína.
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