PLEBISCITO EM COPACABANA
Olavo de Carvalho
08 Agosto 2013
Se Dona Dilma Rousseff queria um
plebiscito, já o teve: o recente encontro entusiástico e triunfal do Papa
Francisco com três milhões de fiéis na Praia de Copacabana, a maior
manifestação de massas de toda a nossa história, mostrou que o povo brasileiro
ama tudo o que a presidenta odeia e odeia tudo o que ela ama: feminismo,
gayzismo, abortismo, comunismo, tudo o que é anticristão só sobrevive neste
país graças à proteção do governo e de bilionários imbecis. Não tem raízes na
nossa sociedade, não tem eco na alma popular, não tem nada a ver com a nossa
vida. Quem tem é a Igreja, quem tem é o Papa.
A Presidência da República e a
dita "grande mídia" sabem perfeitamente disso, mas querem dar a
impressão de que a "Marcha das Vadias" é tão representativa da
opinião nacional, tão legítima e tão digna de carinhosa atenção, quanto a
grandiosa e multitudinária proclamação popular de adesão incondicional aos
valores da fé cristã.
É assim que uma minoria ínfima,
estrambótica e grotesca adquire, artificialmente, foros de respeitabilidade, no
instante mesmo em que se avilta a si própria com micagens dignas de doentes
mentais e violações ostensivas do Código Penal (art. 280, "vilipendiar
publicamente ato ou objeto de culto religioso") e da lei federal 7716/89,
art. 20 ("praticar, induzir ou incitar a discriminação ou o preconceito de
religião").
Essa legitimação forçada vai
espalhando entre as vítimas o sentimento de inibição que as impede de reagir
contra a ofensa e as vai habituando, pouco a pouco, mas cada vez mais
velozmente, a curvar-se caladas ante os mais cínicos e despudorados, até
reconhecê-los, por fim, como únicas encarnações concebíveis do bem e da
autoridade moral. É esse processo de autocastração voluntária induzida que a
socióloga alemã Elizabeth Noëlle-Neumann descreveu como "Espiral do
Silêncio".
Quando Dona Dilma, com a mesma
prótese de sorriso inócuo encaixilhada na boca, posa para fotografias ao lado
do Papa e das "Vadias", ela nos ensina que na democracia a fé e o
crime são igualmente valiosos e dignos de respeito. E ela faz isso com plena
consciência de que algum gemido de protesto, por mais discreto e inaudível que
seja, será imediatamente estigmatizado como "terrorismo de direita",
anunciando para breve – muito breve, nas esperanças do sr. Mauro Santayana – o
encarceramento do impudente e imprudente reclamão.
Mas o aparente indiferentismo
democrático, por mais asqueroso que seja em si mesmo, é uma pura camuflagem
provisória. Por baixo dele, Dona Dilma e seu governo já mostraram de que lado
estão. Para sabê-lo basta perguntar: quanto se esforçaram pela cristianização
do povo e quanto pela vitória de tudo o que as "Vadias" representam?
A lógica aí subentendida é a
mesma que enaltece a prática do aborto em massa, mas pune como obscena
incitação ao ódio a divulgação de vídeos que simplesmente descrevem o que é um
aborto. Assim, gradativamente, tudo o que é abjeto e monstruoso vai-se
transformando primeiro em coisa permitida, em seguida protegida, por fim
obrigatória.
Essas tendências começam a
germinar nos bas fonds da classe universitária e do ativismo organizado, quase
inconscientemente de início, mas a velocidade da sua transformação postiça em
"clamor público" é cada vez maior. O próprio elemento caricatural e
grotesco que carregam em si inerentemente protege-as contra qualquer reação
inicial, de modo que elas vão crescendo até o ponto em que toda reação se torna
inviável.
Tudo o que os conservadores e a
população em geral consideram demasiado absurdo, demasiado louco para ser
verdade, acaba acontecendo precisamente porque julgavam que era impossível.
A transmutação do criminoso em
vítima e do denunciante em criminoso torna-se por fim regra geral, até que o
país inteiro se transforme numa societas sceleris onde só criminosos psicopatas
são admitidos nas altas esferas da fama e do poder.
As grandes mudanças da
mentalidade das massas são, por definição, invisíveis e insensíveis para as
próprias massas. Tanto mais invisíveis e insensíveis quanto mais velozes.
Apenas o recuo no tempo permite ao
historiador, depois do fato consumado, retraçar a transmutação violenta e
radical que levou milhões de pessoas a aceitar passivamente aquilo que de
início lhes parecia não só horroroso como impensável.
Alguém, no Facebook, lembrou o
contraste entre dois Brasis: aquele que anos atrás protestou em massa quando um
único fanático anticatólico chutou diante das câmeras de TV uma imagem de Nossa
Senhora Aparecida, e aquele que agora contempla inerme e passivo o espetáculo
das "Vadias" num canto da praia de Copacabana lotada de fiéis.
O povo brasileiro que expressa
entre gritos e lágrimas o seu amor ao Papa e a Nosso Senhor Jesus Cristo já é
também o mesmo que emudece, com um sentimento que se aproxima do temor reverencial,
diante do ataque mais brutal já desferido contra a religião católica neste
país.
Talvez Dona Dilma, não sem alguma
perspicácia, considere que este segundo aspecto é, entre os resultados do
plebiscito de Copacabana, a parte mais significativa.
Publicado no Diário do Comércio.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
FOTO DO CRIME DAS VADIAS:
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