'A ilha do doutor Castro'
Bruno Braga
30 Agosto 2013
"Jamais poderemos nos tornar ditadores (...). Eu sou um
homem que sabe quando é preciso ir embora.
Fidel Castro, 08 de Janeiro de 1959, primeiro discurso após
a entrada em Havana".
Depois de mais de meio século desde o seu primeiro
pronunciamento, o “Comandante” permanece firme no poder, fazendo de Cuba a
ditadura mais duradoura da face da Terra. Um regime que resiste aos efeitos do
tempo. Conserva-se apesar da decrepitude de seu líder máximo. Sobrevive mesmo
espalhando miséria, destruição e morte. Cuba segue como modelo inspirador para
lideranças políticas e chefes de Estado, para “pseudo-Intelectuais” engajados,
para a juventude rebelde e um sem número de “idiotizados” por uma publicidade
enganosa vagabunda.
Os jornalistas Corine Cumerlato e Denis Rousseau viveram em
Cuba durante três anos, de 1996 a 1999. “A ilha do doutor Castro” é o registro
desta experiência. O livro é uma boa fonte de informação sobre Cuba – e também
sobre a vida cotidiana dos cubanos, que é regida por Fidel Castro. Ele aborda o
aspecto histórico da revolução, o “sistema” e a arquitetura do regime
totalitário, a economia e os elementos socioculturais.
Os autores descrevem a
doutrinação socialista-comunista nas escolas. A vigilância das autoridades
através dos comitês de bairro. O mercado duplo – de dólares e pesos. O mercado
negro e a corrupção. Os apagões e racionamentos. A verdadeira medicina cubana,
que tem uma estrutura precaríssima e carece dos medicamentos mais básicos – em
que os pacientes e suas famílias são responsáveis por suas roupas e pela
alimentação durante a internação hospitalar. As estatísticas monstruosas de
aborto. A fome e a prostituição.
O regime castrista–socialista-comunista se auto-elegeu
guardião e provedor do “povo” cubano. Assumiu o projeto de construir um “mundo
novo” fundado na “igualdade entre todos”. No entanto, criou verdadeiramente
cidadãos de segunda classe: os próprios cubanos.
Enquanto os estrangeiros – os
turistas – são adulados com todos os mimos e regalias para que, imbecilizados,
façam publicidade da ilha e do regime no exterior – e a elite revolucionária se
farta de privilégios instituídos por ela mesma –, o restante da população é
proibido de frequentar certos locais públicos, tem limitações impostas na
assistência médica e até na compra de medicamentos.
Cumerlato e Rousseau contam que a visita do Papa João Paulo
II, em 1998, levou uma fagulha de esperança aos cubanos. “Não tenham medo”
[...] “sejam os protagonistas de vossa história”, proclamou o Pontífice. Porém,
“El Comandante” demonstrou desprezo e indiferença: “Escuto com sorriso de
Gioconda e paciência de Jó” [...] “Cuba permanece inamovível em seus
princípios”.
Enfim, o livro dos jornalistas franceses é o relato de uma
experiência sob o regime totalitário conduzido por um ditador sanguinário – e
dos efeitos tenebrosos que eles impõem aos cubanos. Em Fidel Castro uma
telespectadora da ilha observou: “ele tem olhos de louco!” – e uma pessoa
próxima a corrigiu: “mas ele sempre teve esses olhos; não tinha notado?” (p.
22).
Não, depois de mais de meio século, a América Latina não notou. Porque
quem dita as regras, quem rege o continente é o Foro de São Paulo - a
organização fundada pelo “Comandante” cubano e por Luiz Inácio – e pelo PT, que
hoje detém o poder no Brasil – para fomentar a revolução socialista-comunista.
Quer dizer, disseminar não apenas uma cultura revolucionária, mas cristalizar
uma forma de governo de dimensões continentais – a “Pátria grande” inspirada em
um modelo que produziu concretamente apenas destruição, morte, controle e
repressão.
CUMERLATO, Corine. ROUSSEAU, Denis. “A ilha do doutor
Castro”: a transição confiscada. Trad. Paulo Neves. Editora Peixoto Netto: São
Paulo, 2001.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
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