CABO ANDRÉIA, SARGENTO PESSEGHINI, MARCELO |
A casa da família dos PMS sargento
Luiz Pesseghini e cabo Andréia Bovo Pesseghini, número 42 da rua Dom Sebastião,
na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo, está destinada a chamar a atenção
das pessoas que passam por ali, assim como a virar local de visitação, às vezes
nem tão discreta, como ficou a famosa casa do caso da Rua Cuba, ou o que restou
da Boate Kiss, em Santa Maria,
no Rio Grande do Sul.
As pessoas passam, param, olham
atentamente, querendo entender o que aconteceu; outras fazem o sinal da cruz,
como a abençoar o local onde ocorreram as mortes do pai, da mãe, da tia-avó e
da avó, de Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, de 13 anos, ele também morto, mas
suspeito de haver atirado em todos os parentes e, ao final, dado um tiro na própria
cabeça.
Cinco pessoas, cinco sentenças,
cinco balas, cinco mortes.
Atualmente, em paralelo às
investigações policiais, ouvindo pessoas, cruzando dados examinando chamadas
telefônicas e computadores, e aos
procedimentos da Polícia Científica na produção dos laudos, a imprensa gera uma
confusão danada por conta de relatos diversos que são lidos às partes, e fora
de ordem, pelo público.
Assim, embora a tragédia real da família
Pesseghini, de qualquer modo que seja vista, tenha sido tão dramática, no
imaginário popular gera diversas histórias e narrativas conflitantes e
amalucadas. Há desde versões sobre o envolvimento de quadrilhas de bandidos até
à participação de policiais bandidos, tudo isso ocultado e manipulado pela Polícia
Militar.
É da ordem das coisas. Quanto
mais improvável um desfecho, mais discussão e surpresa causa. Lamentavelmente,
a tragédia dos Pesseghini foi um acontecimento real, não uma novela de televisão.
E, pelo modo como as pessoas imaginam e fabulam enredos, fica parecendo
tratar-se de uma novela do mundo da ficção.
Que a verdade seja dita
RUA DOM SEBASTIÃO, 42, VILA BRASILÂNDIA |
A grade de metal que fecha a
entrada da garagem recebeu uma pichação que revela muito bem como milhares de pessoas
encaram a história da família morta dos policiais: “Que a verdade seja dita”. Não
picharam “Que a verdade apareça”, mas que seja dita!
Qual a diferença?
Muita, ora. Numa
investigação aguardamos que a verdade apareça e não que seja dita. Quando alguém
formula a frase assim, é porque se acredita que alguém sabe, já conhece a verdade,
mas não quer revelá-la.
No caso dos Pesseghini, só Deus
sabe a resposta. E o matador. Mas, conforme a hipótese da linha de investigação,
na qual acredito, o garoto é essa pessoa e, lamentavelmente, ele também morreu.
A verdade aparecerá pela
investigação e pelos laudos, não por meio de palpites, enquetes, pesquisas de
opinião.
A verdade é o que é, não aquilo
que queiramos que ela seja.
Exatamente isso que faz o caso
Pesseghini ser tão discutido e atrair a atenção de milhões de pessoas; o
inusitado. Quanto mais imaginamos que é de um modo, mais fácil, mais conforme ao
noticiário do cotidiano, com PMS sendo mortos por bandidos, que demoramos a aceitar a possibilidade de que
o matador de todos seja um menino de 13 anos de idade, bom aluno, comportado, tranqüilo.
DESMOND MILES |
Mas esse menino tranqüilo, pelo
visto, ficava horas e horas no computador jogando, e gostava de jogos violentos
como Assassin´s Creed.
Talvez ele imaginasse ser Desmond Miles,o vingador do
jogo.
Adam Lanza, aquele que matou 20 crianças e seis adultos, inclusive a mãe,
em Sandy Creek,
e depois se suicidou, era fanático pelo jogo Call of Duty, um jogo em que
soldados devem cumprir sua missão: matar.
Sou contra os jogos eletrônicos?
Não, pois estudos médicos mostram que os jogos podem ser estimulantes positivos
para funções cerebrais. Mas e se o jogador for propenso ao exagero ou
predisposto por algum tipo de patologia? Bem, aí estamos falando de juntara
fome com a vontade de comer.
Seria o caso de Marcelo Pesseghini?
Não sabemos; ainda não sabemos; talvez nunca saibamos. Isso ainda depende dos
exames de ligações telefônicas e conteúdos pesquisados nos computadores.
O menino era doente, tinha
fibrose cística, uma doença mortal. Segundo os pais contavam, ele teria, ao
nascer, poucos anos de vida. O amor dos pais ao garoto, filho único, fez que
com ele chegasse bem aos 13 anos de idade. Tinha 1,60 metro de altura, não era
franzino.
Certamente levava uma vida
regrada, por conta dos remédios e tratamentos que tinha que fazer. Aparentemente
seu perfil mais tranqüilo ajudou a que vivesse tanto. Poderia ter vivido mais,
mas médicos dizem que em média chegaria a uns trinta anos. Ele sabia de tudo isso, mas nunca deu sinais de revolta por conta dessa situação.
Ultimamente havia ficado com diabete,
tendo que receber uma dose diária de insulina. Esse controle todo poderia afetar um adolescente?
Que respondam os psicólogos e psiquiatras. Os pais e parentes pareciam não
haver observado nada de diferente.
Mas alguns relatos à polícia
mostram uma outra faceta do menino. Andou falando para um amigo (o amigo contou
ao delegado do caso) que queria matar os pais e transformar-se em assassino
profissional, fugindo com o carro da família. Já sabia dirigir e atirar.
Algumas questões
Se não foi Marcelo que matou a
família e atirou na própria cabeça, o que aconteceu, então?
Se o pai, a mãe, a tia e a avó
morreram no fim da noite de domingo ou na madrugada de segunda-feira (dia 5),
porque o assassino poupou o menino?
Afinal, o menino foi à aula no
outro dia normalmente, todo o mundo o viu lá, e, na volta para casa pediu ao
pai de seu colega que lhe deu carona para parar o carro porque queria pegar
alguma coisa no carro de sua mãe que estava estacionado perto da escola.
Como
sabia que o carro estava ali?
Se Marcelo não matou a família,
onde ficou entre a morte deles e a manhã em que foi para a escola? Ficou cinco ou seis horas perambulando em São Paulo?
Se um matador houvesse entrado em
sua casa para matar a todos porque deixaria o garoto ir à escola no outro dia? Ou
porque deixaria o garoto dar umas voltas no carro de sua mãe de madrugada?
Isso tudo não parece absurdo aos
senhores?
Se o matador fosse alguém muito
conhecido ou próximo de Marcelo mataria a família toda e deixaria a morte de
Marcelo para o outro dia, após a volta da escola? Então quando o matador matou
quatro pessoas o menino não estava em casa? De madrugada?
Nada disso se encaixa.
O que se encaixa, embora nos
horripile, nos assuste, nos assombre, é que Marcelo possa ter planejado a morte dos pais,
pesquisado sobre como fazer adultos adormecerem na Internet, esperado que
adormecessem, deu um tiro na cabeça de cada um (talvez a mãe tenha tentado
alguma reação), pego o carro da mãe, enchido uma mochila com alguns pertences,
como poucas roupas, papel higiênico, uma faca, e ter ido para perto da escola, onde
dormiu dentro do veículo.
Porque não dormiu em casa naquela madrugada?
De manhã foi à aula e depois voltou para casa.
Já escrevi antes, acho que ao
entrar em casa (não sei porque não voltou com o carro da mãe) e ver a família
morta caiu em si, percebeu o que havia feito, que aquilo não era um jogo eletrônico,
era a vida real.
Como Marcelo talvez, apesar de tudo,
fosse um bom filho, uma boa criança, embora com alguma perturbação não percebida,
preferiu pagar com a própria vida.
Se fosse um garoto perverso
qualquer, como tantos outros sobre os quais lemos no noticiário policial, que
fazem barbaridades sorrindo, teria escolhido outro fim para essa tragédia.
Milhares de jovens da idade dele
já mataram pessoas, até com prazer, por conta da frouxidão do Estatuto da
Criança e do Adolescente-ECA. São menores maus, perversos, pequenos psicopatas.
Se Marcelo fosse assim teria preferido ir para a Fundação Casa. Dela sairia em
poucos anos.
Vocês acham que um menino esperto,
filho e parente de policiais, não saberia as vantagens de ser uma criança
assassina neste País?
Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini,
já disse antes, agiu, ao fim das contas, como um pequeno samurai.
Preferiu morrer.
Preferiu morrer.
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