Junto à Madonna da Kornmarkt
Percival Puggina
15 Junho 2013
Apesar da diversidade de credos
provavelmente adotados por turistas de várias etnias, oriundos de diferentes
recantos do planeta, ninguém ali estava de nariz torcido, sentindo-se afrontado
ou ultrajado em sua sensibilidade com a imagem de Maria Santíssima.
A mulher vestia um niqab preto,
do tipo utilizado em países da Península Arábica. Niqab (máscara) é aquela
vestimenta feminina muçulmana que deixa apenas uma fresta para os olhos. Embora
tenha sido concebida em tempos anteriores a Maomé como uma das mais recatadas
roupas com que uma mulher se pudesse vestir, a figura diante de mim se
destacava em meio à colorida multidão de turistas das mais variadas origens.
De repente, num gesto rápido, que
pretendia ser discreto, ela fez surgir do meio dos panos uma câmera digital.
Levou-a aos olhos e, com apenas a mão esquerda (também coberta por luva negra),
capturou a imagem perante a qual se comprimiam vários grupos de visitantes. A
mesma que me levava, uma vez mais, até a praça Kornmarkt da encantadora cidade
de Heidelberg.
Há ali pequena fonte sobre a qual
se eleva uma escultura de Nossa Senhora. É a Madonna da Kornmarkt. Traz ao colo
o Menino Jesus e tem sob os pés o mundo, representado por uma esfera dourada. O
Menino segura longa haste encimada por uma cruz e com a outra extremidade fere
uma serpente. Era diante dessa imagem que, como acontece a cada dia, todos os
dias do ano, se encontravam os turistas em meio aos quais a mulher de niqab.
Poucos haveriam de saber que
aquela Madonna é apenas cópia da obra original, preservada no museu de arte e
arqueologia da cidade. Foi esculpida por Peter van der Branden, em 1718, a
ordem do príncipe local empenhado em difundir o catolicismo. À época, outras
Madonnas também foram inseridas na paisagem de Heidelberg e muitos protestantes,
como consequência, abandonaram a cidade.
Passados três séculos, esses
acirramentos político-religiosos perderam sentido. As imagens, no entanto,
continuam suscitando interesse e são motivo de encantamento aos milhões de
visitantes dos mais variados credos que fazem turismo no Velho Continente.
Esplêndidas obras com inspiração
cristã estão em toda parte - nas fachadas dos prédios particulares, no centro
das praças, nos afrescos, telas, tapeçarias e imagens que decoram prédios
públicos. Estão nos museus (repletos de tais obras), e são, junto com
catedrais, mosteiros e grandes palácios o carro-chefe do imenso negócio
turístico da Europa.
Pois bem, observando a mulher de
niqab e seu interesse em capturar a imagem da Madonna da Kornmarkt, percebi que,
apesar da diversidade de credos provavelmente adotados por turistas de várias
etnias, oriundos de diferentes recantos do planeta, ninguém ali estava de nariz
torcido, sentindo-se afrontado ou ultrajado em sua sensibilidade com a imagem
de Maria Santíssima.
Nem com qualquer símbolo ou
representação artística, de qualquer religião, em parte alguma do mundo. Bem ao
contrário, a atitude civilizada, nesses casos, é de respeito e encantamento
perante expressões da tradição religiosa e cultural de cada local.
Portanto, incivilizada é a
atitude de pequenas minorias que, no Brasil, se declaram ultrajadas com a
presença desses símbolos e obras em espaços públicos. Aliás, duvido de que,
distantes da base, desfrutando de umas férias na Europa, não posem para fotografias
aos pés da Coluna Mariana na Marienplatz de Munique, da Pestsäule (coluna em
reverência à Santíssima Trindade) em Viena, ou ao lado de qualquer dos 30
santos que adornam a belíssima Ponte
Carlos em Praga. Aqui,
porém, são inimigos de um crucifixo na parede.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA
SEM MÁSCARA:
IMAGEM DA MADONNA
MULHER DE NIQAB
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