A ESQUIZOFRENIA DO PT
Nivaldo
Cordeiro
21 Junho 2013
No Brasil, a mão que comanda o Estado é a mesma que comanda
a subversão em praça pública. O grande paradoxo é que o PT é, a um só tempo, a
força da ordem e o seu contrário. Como isso é possível? Vou tentar analisar o
fenômeno.
O PT chegou ao poder liderando uma frente de esquerda que, a
grosso modo, o tornou o sucessor legítimo do Partidão. Seus líderes, sensatos,
reconheceram que precisavam abandonar velhas palavras de ordem sobre a dívida
externa, a dívida pública e a administração do Estado, de sorte que assinaram a
famosa Carta ao Povo Brasileiro, compromisso pelo qual legitimou-se para
assumir o poder.
Durante os dois mandatos de Lula foi assim. A gestão do
Estado foi feita de forma profissional. Os radicais, todavia, estavam sempre à
espreita, usando como meio de ação as chamadas conferências nacionais, entre
elas a Confecom, que tinha o firme propósito de controlar a produção de
conteúdo da mídia e a internet. Essa meta totalitária continua de pé. São esses
radicais, braços operacionais da cúpula petista, que estão atiçando as massas
para a rua.
Qual é a lógica do processo que convocou o povo às ruas? Em
primeiro lugar, a ânsia dos radicais de fazerem valer alguma forma de
democracia direta. Movimentos na ruas é seu anseio mais romântico. Mas o
objetivo principal do Movimento Passe Livre é desgastar e desestabilizar o
governo de Geraldo Alckmin. Sua derivação nos demais estados se deu por pura
imitação, o instinto humano mais primário.
O PT conseguiu de fato desgastar a imagem do governador de
São Paulo, em virtude dos seus vacilos e incoerências. O problema é que agora o
movimento saiu do controle e logrou alcançar escala nacional. O que fazer com
ele? Como governantes, só resta ao PT baixar a repressão e restabelecer a
ordem. Mas, é importante esse ‘mas’, o plano para desestabilizar Geraldo
Alckmin exige a mobilização e o atrevimento das massas nas ruas. A ideia é
manter a pressão até as eleições. Como administrar o processo sem perder o
controle?
É evidente que o interesse imediato de Dilma Rousseff e de
Fernando Haddad é governar “tecnicamente”. Por isso Haddad não queria reduzir
tarifas e Dilma Rousseff recusou-se a mais um casuísmo tributário. Certíssimos.
Mas o ato de governo é operacional, tático, enquanto o movimento é estratégico,
é a via dourada para o PT alcançar o poder total, dominando o Estado de São
Paulo.
Todas as incoerências ficam explicadas se o analista levar
isso em conta. O
agravante é a deterioração da situação econômica, em face das políticas
populistas levadas a cabo pelo governo da Dilma Rousseff. De longe, o
problema mais grave é a depreciação do
real, que só pode ser superada mediante uma forte mudança na política
econômica.
O teatro político brasileiro está bem interessante, prenhe
de todos os perigos. Os dirigentes do PT têm demonstrado realismo e sangue frio
desde que chegaram ao poder. Estarão agora eventualmente diante de seu teste
mais decisivo. Vamos ver o que farão. Uma medida sinalizadora para estabilizar
o processo é substituir Guido Mantega por um nome confiável para conduzir a
política econômica. Esse será o momento da escolha de Sofia.
O PT precisará abraçar novamente a bandeira da
estabilização, sob pena de perder o controle. E quer porque quer ganhar o
governo de São Paulo e a reeleição. Podem ser objetivos incompatíveis, mas fato
é que, sem a estabilidade, a condição de governança de Dilma Rousseff
desaparecerá.
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