Carta ao kamarada José Dirceu
Carlos Azambuja
10 Junho 2013
Nota:
José Dirceu, o “kamarada Daniel”, quando ainda estudante em São Paulo , antes de
receber treinamento militar em Cuba, já torturava seus inimigos, como relata o
editor da revista Veja, Otavio Cabral, em seu livro "Dirceu - A
Biografia", recém-lançado.
Esse livro relata
algumas verdades que muitos desconhecem ou esqueceram: que o kamarada Daniel
recebeu o título de "comandante", voltou para o Brasil
clandestinamente e foi o ÚNICO dos do MOLIPO, sua organização, que não morreu
em combate (mas essa é uma história que ainda não foi contada...). Por quê?
Simples. Porque nunca combateu, ao contrário do que propalou em seu discurso ao
assumir a Casa Civil da presidência da República, quando, dirigindo-se a
Dilminha Bang- Bang, tratou-a como “companheira d’armas”.
A verdade é que
nenhum dos dois lutou. Ficaram sempre na sombra de seus companheiros.
(NOTA DO EDITOR DO Laudaamassada: Uma coisa que me chamou DEMAIS a atenção, e que é altamente reveladora, é a informação, tirada do livro sobre Dirceu, à página 64 de Veja - edição 2325 - de que Dirceu, quando jovem, era "terror da vizinhança e CONTUMAZ TORTURADOR DE GATOS" !!!
Torturadores de animais sempre deveriam receber atenção especial.)
FOTO UESLEI MARCELINO - FUTURA PRESS* |
Em seu discurso no retorno à Câmara dos Deputados, você
disse que “lutou com armas na mão e na clandestinidade”. Fala sério, kamarada Daniel!
Na clandestinidade, sim. De armas na mão, não, pois você jamais participou de
uma ação armada. Enquanto seus companheiros do Movimento de Libertação Popular
(MOLIPO), que receberam treinamento em Cuba como você, estes sim, de armas na
mão, morriam nas ruas de São Paulo e no Brasil Central, você ficou enfurnado em
Cruzeiro do Oeste até o final da luta armada.
Anteriormente, ao passar o cargo de ministro da Casa Civil,
você dirigiu-se à nova ministra tratando-a como “companheira d’ armas”. Que
armas, kamarada Daniel? Somente em Cuba você pegou em armas. Depois ,
quando você deveria fazer a hora, desertou.
Você também falou que tem “as mãos limpas e que nunca
respondeu a um processo”. Fala sério,
kamarada Daniel! Você foi preso quando
do Congresso da União Nacional de Estudantes (UNE), em outubro de 1968, em
Ibiuna, São Paulo, foi indiciado em um inquérito e só foi libertado em setembro
de 1969, quando foi incluído na relação dos terroristas trocados pela liberdade
do embaixador Charles Elbrick, dos EUA, no Brasil.
Na página 110 do livro “Abaixo a Ditadura, escrito por você
e por Wladimir Palmeira, você escreveu : “participei da luta armada, achava que
era necessária...”. Fala sério, kamarada Daniel! Você não participou de luta
armada nenhuma! A única “luta armada” que você participou foi do “treinamento
militar em Havana, que era um teatrinho, um vestibular para o cemitério”, como
você declarou ao Jornal do Brasil em 27 de dezembro de 1998.
Em um seminário do Partido dos Trabalhadores, realizado dias
15 e 16 de abril de 1989, você, talvez já vislumbrando, erradamente, uma
vitória do Lula na eleição presidencial, declarou que “em vez de comandar uma
coluna guerrilheira, o grande sonho da minha vida, vou ter de comandar uma
coluna de carros oficiais em Brasília”. Fala sério, kamarada Daniel! Você não
comandou uma coluna guerrilheira porque desertou da luta, ficando enfurnado em
Cruzeiro do Oeste, enquanto seus companheiros, que confiavam em você, eram
dizimados graças a um informante que
havia no meio deles.
O responsável pela atual política do Partido dos
Trabalhadores, de aliança com tudo e com todos, hoje rejeitada pela maioria dos
militantes do partido, foi você, kamarada Daniel, que em 1995, quando foi
eleito presidente do partido por apenas 28 votos de diferença num universo de
550 delegados, minimizou as disputas internas – que sempre existiram e
continuam existindo -, e defendeu a reforma dos Estatutos do partido, e bem
como uma “política de alianças”. Foram esses os eixos que o levaram à presidência
do partido, kamarada Daniel.
Você, kamarada Daniel, que integra o aparato dirigente do
partido desde que ele existe (você foi Secretário Nacional de Formação Política
de 1981 a 1983; Secretário Geral do Diretório Regional de São Paulo de 1987 a
1993; depois Secretário-Geral Nacional; e, finalmente, a partir de 1995,
presidente do partido). Você, portanto, não pode eludir sua responsabilidade na
transformação do partido nisso que aí está.
Foi você, kamarada Daniel, que ao assumir a presidência do
partido, passou a defini-lo como “social-democrata” (que no jargão do partido
tem o peso de um palavrão) e “de esquerda”.
Com isso, você disse que o partido é um pleonasmo e, com isso, o partido
deixou de ser “diferente”, como sempre se proclamou. Fala sério, kamarada
Daniel!
Em meados de agosto de 1998 você, como presidente do
partido, em entrevista à imprensa, ameaçou não aceitar o resultado da eleição
presidencial que já se configurava favorável ao candidato do PSDB, deixando no
ar uma ameaça:
“se a campanha eleitoral continuar assim, a eleição perde a
legitimidade e não vamos responder pelo que vai acontecer no país (...) pois a
disputa está sendo fraudada e o processo eleitoral corrompido”.
E mencionou como exemplo da fraude, “o apoio unânime da
grande mídia a Fernando Henrique Cardoso”, Essa não foi uma afirmação de bêbado
na mesa de um bar, mas sim do presidente de um partido, cujo maior patrimônio –
dizia-se – era a ética. Fala sério, kamarada Daniel! Você não se cansa de dizer
e repetir que é um democrata, que “sempre lutou para instaurar a democracia no
país”.
Foi no II Congresso do partido, em novembro de 1999, uma
sessão coletiva de psicanálise partidária, quando você, por uma maioria escassa
(55,8% dos votos dos 926 delegados) foi reeleito presidente do partido, relegou
a bandeira do socialismo – aquele socialismo que você havia definido
anteriormente – a uma “possibilidade histórica”, deixando de considerá-lo uma
inevitabilidade, conforme proclama a “doutrina científica”. Nesse congresso,
kamarada Daniel, José Genoino – kamarada Geraldo – que depois você apoiaria
para lhe suceder na presidência, admitiu que o socialismo não era mais um
modelo, mas sim “um conjunto de valores”.
No entanto, kamarada Daniel, você, na revista “Teoria e Debate”,
de agosto/setembro/outubro de 1999 (uma revista destinada aos militantes, já
que é uma publicação da Fundação Perseu Abramo) você praticamente desmentiu que
o partido tenha se tornado “light”. Nessa revista você escreveu que
“o grande desafio da sociedade brasileira nos próximos anos,
será a superação dessa crise por meio de uma ruptura histórica que liberte o
país da atual dependência e realize as tarefas da revolução democrática que o
Brasil não viveu...Essa revolução terá que ser não apenas ruptura com a
dependência, mas a refundação da República...Trata-se de uma revolução
nacional, popular, social e democrática”.
Ou seja, marxismo-leninismo em estado puro. Fala sério,
kamarada Daniel! Por que, em dois anos de poder, o PT não realizou essa tal
”revolução nacional, popular, social e democrática”? Ao contrário, afastou-se mais dela ao inundar
o país com todo o tipo de cartões.
Você também escreveu nesse mesmo artigo que
“numa Nova Ordem, o Brasil deverá romper a relação de
subordinação com o FMI e revisar todos
os acordos da dívida externa...que as privatizações serão revistas por meio de
auditorias e comissões parlamentares de inquérito... e que os “movimentos
sociais” são as bases permanente que podem viabilizar uma mudança duradoura na
correlação de forças da sociedade”. Enfim, você concluiu: “trata-se de fazer
uma revolução”.
Fala sério, kamarada Daniel! Isso que você escreveu – para
dentro do partido – foi apenas pirotecnia!
Hoje, tudo mudou. Você não mais comandará uma frota de
carros oficiais em
Brasília. Hoje você terá que explicar suas relações estreitas
com o seu assessor Waldemiro Diniz, um corrupto, e outras mutretas que
surgirão. Essa sim, é a grande revolução. A revolução dos costumes.
E, no que diz respeito a você, kamarada Daniel, viva o
ministro Joaquim Barbosa!
(Versão atualizada do artigo publicado no MSM em 14 de junho
de 2005.)
Carlos Azambuja é historiador.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITEMÍDIA SEM MÁSCARA
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