Enquanto a Polícia Federal desencadeia a operação Porto
Seguro, que investiga corrupção ativa, passiva e formação de quadrilha por
funcionários federais, o silêncio paira sobre o Planalto Central.
A presidente
Dilma Rousseff teve reuniões ontem (23) com o ministro Eduardo Cardozo, da
Justiça, e o com Advogado Geral da União (AGU), Luis Inácio Adams, para avaliar
o tamanho do estrago. A coisa pode ser bastante séria, tal a quantidade de
pessoas envolvidas.
E de tal modo as coisas chegaram às portas da Presidência da República e na AGU.
Rosemary Nóvoa era figura freqüente nas viagens
internacionais de Lula, e um dos outros suspeitos investigados, é José Weber
Holanda Alves, que é ninguém menos que o segundo na hierarquia da AGU, praticamente o braço direito
de Luis Inácio Adams.
A coisa parece ser, de fato, uma quadrilha encastelada junto
às verdadeiras portas do Poder central. Sabe-se lá quanta experiência Rosemary
acumulou ao longo de tantos anos, e ao lado de pessoas tão experientes como Lula e José Dirceu.
Só a Polícia Federal será capaz de nos dizer, se o processo
não for, de ora em diante, transformado em segredo de sete chaves, segredo de
Estado, como os milionários gastos com os cartões corporativos da Presidência
da República o foram, há alguns anos.
E daquelas despesas Rosemary também sabia
algo, pois era uma das beneficiárias dos cartões liberados para aquela farra com
dinheiro público.
Em 16 de agosto de 2010 a Folha de São Paulo publicou matéria sobre as suspeitas de tráfico de influência de Rosemary Nóvoa, chamada de Rose, que à época era Chefe de Gabinete de Lula em São Paulo. Dois anos após, de árduo trabalho de investigação, parece que as coisas não eram apenas suspeitas infundadas.
Dilma Roussef ainda não fez qualquer referência oficial ao caso. Lula mantém o silêncio de sempre, nunca sabe de nada. E José Dirceu, talvez junto com os textos esculhambando a Justiça Brasileira, desta vez escreva algo sobre Rose, de quem foi chefe por doze longos anos. Ele deve ter percebido a sua existência.
GJ
FOLHA DE SÃO PAULO DE 16 DE AGOSTO DE 2010. LULA ERA PRESIDENTE, JÁ HAVIA A DESCONFIANÇA SOBRE ROSE. |
Leia, a seguir, matéria da Revista Veja sobre a ação da PF: (23/11/2012)
Por Laura Diniz, na VEJA.com:
A chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo , Rosemary
Nóvoa de Noronha, usava o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para
fazer tráfico de influência, indicam escutas telefônicas feitas pela Polícia
Federal. Rosemary foi indiciada nesta sexta-feira por corrupção ativa e
passiva. A investigação da PF começou há mais de um ano. Rosemary foi flagrada
negociando suborno em dinheiro e favores, como uma viagem de cruzeiro (que ela
depois reclamou não ser luxuoso o suficiente) e até uma cirurgia plástica. Na
última conversa dela gravada antes da deflagração da operação, a ex-assistente
de Lula pediu 650 000 reais pelos serviços prestados.
Segundo a investigação, o papel dela era fazer a ponte entre
empresas que queriam comprar pareceres fraudulentos de órgãos do governo e as
pessoas do governo que poderiam viabilizar a emissão dos documentos. Rosemary
foi nomeada por Lula para esse cargo em 2005 e, desde então, esteve muito
próxima ao petista. O fato de assessorar o ex-presidente fez com que ela
própria se tornasse uma pessoa politicamente articulada. Assim, foi capaz de
influir na nomeação de homens do alto escalão de agências do governo, como os
irmãos Paulo Rodrigues Vieira, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), e
Rubens Carlos Vieira, diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac), ambos presos hoje pela PF.
Rose, como é conhecida, era presença constante nas comitivas
presidenciais ao lado de Lula. Também foi assessora do ex-ministro José Dirceu
por 12 anos antes de trabalhar diretamente com Lula. Em 2006, o nome de
Rosemary constava de uma lista de 65 servidores que efetuaram saques a título de
pagamento de despesas da Presidência da República por meio de cartões
corporativos. Na época, havia registros de saques no valor de 2 100 reais no
cartão dela. Deputados de oposição tentaram aprovar sua convocação para prestar
esclarecimentos à CPI que investigou a farra dos cartões corporativos, mas
aliados do Planalto conseguiram barrar o pedido.
A operação da PF, chamada de Porto Seguro, atingiu mais de
40 pessoas, entre elas o número dois da Advocacia-Geral da União, José Weber
Holanda Alves. Na sede da AGU, foram recolhidos documentos na sala de um alto
assessor do órgão. Procedimento interno de apuração foi aberto por determinação
do advogado-geral Luís Inácio Adams para investigar a participação de
servidores da autarquia no esquema criminoso.
Investigação
As investigações policiais levaram à desarticulação de uma
quadrilha que, infiltrada em órgãos da administração pública federal, negociava
a redação de pareceres técnicos fraudulentos para beneficiar interesses
privados e praticava tráfico de influência.
Os investigados na operação responderão pelos crimes de
formação de quadrilha, tráfico de influência, violação de sigilo funcional,
falsidade ideológica, falsificação de documento particular, corrupção ativa e
passiva. As penas variam de dois a 12 anos de prisão.
Segundo o superintendente da PF de São Paulo, Roberto
Ciciliati Troncon, os mandatos eram de prisão preventiva e temporária. Além dos
dois servidores da ANA e da Anac, foram presos três advogados e um empresário –
todos de São Paulo. O papel dos irmãos Paulo Rodrigues Vieira e Rubens Carlos
Vieira era encontrar funcionários dentro dos órgãos para produzir os laudos
fraudulentos, que facilitavam processos das empresas. Já os advogados e o
empresário faziam a ponte com o setor privado, oferecendo a facilitação nos
procedimentos.
“É possível que haja funcionários de outros órgãos e
localidades envolvidos, mas até agora se identificou que toda a interação da
quadrilha acontecia no estado de São Paulo”, disse Troncon. Segundo o
superintendente, foi investigada a atuação da quadrilha na Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq), no Ministério da Educação e no Tribunal de
Contas da União (TCU) – além de Anac, ANA e AGU.
Segundo Troncon, a operação será concluída em 60 dias. A
próxima fase será pedir a autorização da Justiça para o compartilhamento das
provas da investigação com as corregedorias dos órgãos envolvidos para que
possam aplicar suas medidas administrativas. O superintendente informou que os
servidores agiam por conta própria e que não houve conivência dos órgãos, que
ajudaram nas investigações.
Delação
Participaram da operação em São Paulo e Brasília 180
policiais. A quadrilha foi descoberta graças a um servidor do Tribunal de
Contas da União (TCU) que foi cooptado pelo esquema com a oferta de receber 300
000 reais para produzir um laudo falso. “Ele chegou a receber a primeira
parcela de 100 000 reais e fez o laudo, mas se arrependeu, devolveu o dinheiro
e denunciou o esquema”, contou Troncon.
VEJA/Reinaldo Azevedo:
Folha S Paulohttp://www1.folha.uol.com.br/poder/783573-faz-tudo-de-lula-em-sao-paulo-influencia-nomeacoes.shtml
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