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terça-feira, 27 de novembro de 2012

OPERAÇÃO PORTO SEGURO: O TURBULENTO E INFINDÁVEL VÔO DE DEUS, DAS ÌNDIAS ÀS TERRAS DO BRASIL. Embora chamado de Deus por Marta Suplicy, Lula, embora pareça, não é onipresente. E não pode voar. Então enfrentou as turbulências dentro de um avião carregado de más notícias.


O TURBULENTO VÔO DAS ÍNDIAS PARA O BRAZIL
Maybe yes, maybe not. O Estado fez um bom editorial sobre a Operação Porto Seguro, que catapultou para a triste fama a chefe de gabinete da Presidência da República, em São Paulo, Rosemary Nóvoa. Segundo informam as reportagens em diversos jornais, Rosemary Nóvoa de Noronha, Rose, "Madame" (como gostava de ser chamada, dizem os jornais), a agora exonerada amiga de Lula e Dirceu, de longa data, usava o nome de Lula para obter pareceres de funcionários federais em relação a processos de interesse de diversas empresas. 

Isso significa dizer que ela facilitava ou pedia mais que simples favores, mas pareceres falsos em troca de propina. Corrupção da grossa!

Assim, já li, e concordo, que seria um tanto quanto difícil imaginar uma simples secretária, distante da máquina dos ministérios, sediada em uma sala em São Paulo, a disparar telefonemas ou emails pedindo favores em nome do ex-presidente Lula, sem que ele pudesse ao menos ficar sabendo dessas travessuras.

Claro, Lula desembarcou do longo e politicamente turbulento vôo das Índias para o Brasil lamentando-se da punhalada recebida. É exatamente o que se deve esperar do ex-presidente, tão afoito a dar lições ao mundo e a tratar de qualquer assunto, ao mesmo tempo em que sempre desconheceu o que se passava nas salas ao lado de seu gabinete.

Lula, um dia, ainda será estudado como um caso parecido com o de Mr. Hide e o Dr. Jeckyll.

GJ

O dono do escândalo

Editorial de O Estado de S. Paulo
27/11/2012

Recém-desembarcado de um voo decerto turbulento para ele, depois de uma viagem à África e à Índia, o ex-presidente Lula teria dito a pessoas de sua confiança que se sentia "apunhalado pelas costas" por outra pessoa de sua confiança, a então chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose. Secretária do companheiro José Dirceu durante 12 anos, da década de 1990 até a ascensão do PT ao Planalto, Lula a empregou na representação do governo federal na capital paulista. Dois anos depois, em 2005, entregou-lhe a chefia da repartição.

Na sexta-feira passada, ela e José Weber Holanda, o sub do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, foram indiciados pela Polícia Federal (PF), no curso da Operação Porto Seguro, pela participação em um esquema de venda de facilidades instalado em sete órgãos federais.

O indiciamento alcançou 11 outros ocupantes de cargos públicos, além do notório ex-senador Gilberto Miranda. Cinco pessoas foram presas, entre as quais três irmãos, o empresário Marcelo Rodrigues Vieira, um diretor da agência reguladora da aviação civil (Anac), Rubens Carlos Vieira, e outro da agência de águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira - ambos patrocinados pela amiga de Lula. A PF devassou o apartamento de Rose e o gabinete de Holanda.

No dia seguinte, a presidente Dilma Rousseff afastou de suas funções os diretores das agências (tendo mandato aprovado pelo Senado, eles não podem ser demitidos sumariamente) e mandou abrir processo disciplinar contra eles. O caso da nomeação de Paulo Rodrigues, tido como chefe da gangue e também chegado a Lula e a Dirceu, é um capítulo de livro de texto sobre a esbórnia no Estado sob o governo petista e a serventia de seus aliados nos altos círculos do poder nacional.

Submetida ao Senado, como requerido, a indicação começou mal e seguiu pior. A primeira votação terminou empatada. Na segunda, o nome foi rejeitado por um voto de diferença. Se os mandachuvas da República se pautassem pela decência, a história terminaria por aí. Não terminou porque, contrariando até mesmo um parecer da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, o seu presidente José Sarney ordenou uma terceira votação da qual o afilhado de Rose saiu vencedor por confortável maioria.

A essa altura, 2010, estava para mudar a sorte da madrinha - cuja influência derivava diretamente de sua intimidade com Lula, a quem, aliás, acompanhava nas viagens ao exterior, não se sabe bem para fazer o que. Eleita Dilma, que só a manteria no posto em São Paulo para não criar caso com o padrinho, Rose tentou em vão conseguir uma boquinha em Brasília. O imponderável fez o resto.

Em um dia de março do ano passado, um servidor do Tribunal de Contas da União (TCU) procurou a Polícia Federal para se confessar. Contou que aceitara uma propina de R$ 300 mil, dos quais já havia recebido um adiantamento de R$ 100 mil, para produzir um parecer técnico sob medida para uma empresa que atua no Porto de Santos. Além disso, Paulo Rodrigues Vieira falsificou um documento acadêmico para beneficiar o funcionário. Mas este se arrependeu, devolveu o dinheiro e revelou aos federais o que sabia.

A PF abriu inquérito, obteve autorização judicial para grampear telefonemas e interceptar e-mails. Do material, emergiu uma Rose que lembra a personagem do samba de Chico Buarque que pedia apenas "uma coisa à toa" - no caso, um cruzeiro de Santos a Ilha Grande animado por uma dupla sertaneja, um serviço de marcenaria, uma pequena operação… Claro que ela também empregou uma filha na Anac e o marido na Infraero. Tinha fama de mandona e jeito de alpinista social.

Mas o dono do escândalo é quem deu a Rose o aparentemente inexplicável poder de que desfrutava, a ponto de o Senado de Sarney inovar em matéria de homologação de um futuro diretor de agência reguladora. Ao se declarar "apunhalado pelas costas", Lula faz como fez quando o mensalão veio à tona, e ele, fingindo ignorar a lambança, se disse "traído". Resta saber se, desta vez, tornará a repetir mais adiante que tudo não passou de uma "farsa" - quem sabe, uma conspiração da Polícia Federal com a mídia conservadora, a que a sua sucessora no Planalto afinal sucumbiu.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-dono-do-escandalo-,965722,0.htm
Imagem da Internet

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