O TURBULENTO VÔO DAS ÍNDIAS PARA O BRAZIL |
Isso significa dizer que
ela facilitava ou pedia mais que simples favores, mas pareceres falsos em troca
de propina. Corrupção da grossa!
Assim, já li, e concordo, que seria um tanto quanto difícil
imaginar uma simples secretária, distante da máquina dos ministérios, sediada
em uma sala em São Paulo, a disparar telefonemas ou emails pedindo favores em
nome do ex-presidente Lula, sem que ele pudesse ao menos ficar sabendo dessas
travessuras.
Claro, Lula desembarcou do longo e politicamente turbulento
vôo das Índias para o Brasil lamentando-se da punhalada recebida. É exatamente
o que se deve esperar do ex-presidente, tão afoito a dar lições ao mundo e a
tratar de qualquer assunto, ao mesmo tempo em que sempre desconheceu o que se
passava nas salas ao lado de seu gabinete.
Lula, um dia, ainda será estudado como um caso parecido com
o de Mr. Hide e o Dr. Jeckyll.
GJ
O dono do escândalo
Editorial de O Estado de S. Paulo
27/11/2012
Recém-desembarcado de um voo decerto turbulento para ele,
depois de uma viagem à África e à Índia, o ex-presidente Lula teria dito a
pessoas de sua confiança que se sentia "apunhalado pelas costas" por
outra pessoa de sua confiança, a então chefe do escritório da Presidência da
República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose. Secretária do
companheiro José Dirceu durante 12 anos, da década de 1990 até a ascensão do PT
ao Planalto, Lula a empregou na representação do governo federal na capital
paulista. Dois anos depois, em 2005, entregou-lhe a chefia da repartição.
Na sexta-feira passada, ela e José Weber Holanda, o sub do
advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, foram indiciados pela Polícia
Federal (PF), no curso da Operação Porto Seguro, pela participação em um
esquema de venda de facilidades instalado em sete órgãos federais.
O indiciamento alcançou 11 outros ocupantes de cargos
públicos, além do notório ex-senador Gilberto Miranda. Cinco pessoas foram
presas, entre as quais três irmãos, o empresário Marcelo Rodrigues Vieira, um
diretor da agência reguladora da aviação civil (Anac), Rubens Carlos Vieira, e
outro da agência de águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira - ambos patrocinados
pela amiga de Lula. A PF devassou o apartamento de Rose e o gabinete de
Holanda.
No dia seguinte, a presidente Dilma Rousseff afastou de suas
funções os diretores das agências (tendo mandato aprovado pelo Senado, eles não
podem ser demitidos sumariamente) e mandou abrir processo disciplinar contra
eles. O caso da nomeação de Paulo Rodrigues, tido como chefe da gangue e também
chegado a Lula e a Dirceu, é um capítulo de livro de texto sobre a esbórnia no
Estado sob o governo petista e a serventia de seus aliados nos altos círculos
do poder nacional.
Submetida ao Senado, como requerido, a indicação começou mal
e seguiu pior. A primeira votação terminou empatada. Na segunda, o nome foi
rejeitado por um voto de diferença. Se os mandachuvas da República se pautassem
pela decência, a história terminaria por aí. Não terminou porque, contrariando
até mesmo um parecer da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, o seu
presidente José Sarney ordenou uma terceira votação da qual o afilhado de Rose
saiu vencedor por confortável maioria.
A essa altura, 2010, estava para mudar a sorte da madrinha -
cuja influência derivava diretamente de sua intimidade com Lula, a quem, aliás,
acompanhava nas viagens ao exterior, não se sabe bem para fazer o que. Eleita
Dilma, que só a manteria no posto em São Paulo para não criar caso com o
padrinho, Rose tentou em vão conseguir uma boquinha em Brasília. O imponderável
fez o resto.
Em um dia de março do ano passado, um servidor do Tribunal
de Contas da União (TCU) procurou a Polícia Federal para se confessar. Contou
que aceitara uma propina de R$ 300 mil, dos quais já havia recebido um
adiantamento de R$ 100 mil, para produzir um parecer técnico sob medida para
uma empresa que atua no Porto de Santos. Além disso, Paulo Rodrigues Vieira
falsificou um documento acadêmico para beneficiar o funcionário. Mas este se
arrependeu, devolveu o dinheiro e revelou aos federais o que sabia.
A PF abriu inquérito, obteve autorização judicial para
grampear telefonemas e interceptar e-mails. Do material, emergiu uma Rose que
lembra a personagem do samba de Chico Buarque que pedia apenas "uma coisa
à toa" - no caso, um cruzeiro de Santos a Ilha Grande animado por uma
dupla sertaneja, um serviço de marcenaria, uma pequena operação… Claro que ela
também empregou uma filha na Anac e o marido na Infraero. Tinha fama de mandona
e jeito de alpinista social.
Mas o dono do escândalo é quem deu a Rose o aparentemente
inexplicável poder de que desfrutava, a ponto de o Senado de Sarney inovar em
matéria de homologação de um futuro diretor de agência reguladora. Ao se
declarar "apunhalado pelas costas", Lula faz como fez quando o
mensalão veio à tona, e ele, fingindo ignorar a lambança, se disse
"traído". Resta saber se, desta vez, tornará a repetir mais adiante
que tudo não passou de uma "farsa" - quem sabe, uma conspiração da
Polícia Federal com a mídia conservadora, a que a sua sucessora no Planalto
afinal sucumbiu.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-dono-do-escandalo-,965722,0.htm
Imagem da Internet
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