QUANDO CELSO DANIEL DESCANSARÁ EM PAZ? |
Leia trechos do texto de Augusto Nunes sobre a morte do ex-prefeito
Celso Daniel e as investigações realizadas, que apontam para um crime de
natureza política. Independente da soluça definitiva do caso, uma vez que ainda
pode ter desdobramentos após as recentes falas de Marcos Valério, que teria
mais informações a dar sobre o assunto à Procuradoria Geral da República, a
morte de Celso Daniel expõe como a esquerda age para atingir seus fins.
Celso Daniel era o homem responsável pela campanha de Lula àquela
ocasião. Pelo que já foi amplamente divulgado pela imprensa, e pelas investigações
policiais, ele controlava a arrecadação de dinheiro junto a empresas para o
caixa partidário. Até seus irmãos (hoje ameaçados de morte) informam isto.
Vejam, Celso Daniel não contra esse desvio de dinheiro.
Pelo que se sabe, e que Nunes relata abaixo, o problema foi
que Daniel teria descoberto que havia gente desviando dinheiro que seria
destinado ao partido. Isto é, estariam se apropriando de dinheiro para fins particulares.
Ladrões que roubam ladrões... E, quando o então prefeito resolveu dar um basta
nisso teria se transformado em um obstáculo a ser removido.
Volto a algo que, para mim, é recorrente: nada se constrói de
sólido sobre bases frágeis; nenhum edifício pode ser construído sobre a lama. O
certo nunca poderá ser decorrente do errado; ou nada de bom resulta de uma base
criminosa. Esta é a história do desenvolvimento de partidos de esquerda, que
utilizam a máxima de Lênin de que os fins justificam os meios.
GJ.
04/11/2012 às 16:44 \ Direto ao Ponto
Chegou a hora de esclarecer de vez o assassinato do prefeito
Celso Daniel
AUGUSTO NUNES
“Os executores de Celso Daniel começaram a ser castigados.
Chegou a hora de identificar e punir os mandantes do assassinato”, informa o
título do post de 18 de novembro de
de 2010. Passados dois anos, as ameaças de Marcos Valério exigem a
republicação do texto. Ao escapar da merecidíssima punição pela quebra do
sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o ex-ministro Antonio Palocci
inventou o estupro sem estuprador. Quase 11 anos depois da morte do prefeito de
Santo André, gente que se acha muito esperta continua tentando inventar o crime encomendado sem
mandante.
Com o silencioso aval da oposição e o endosso explícito do
governo, o PT decidiu que o assassinato de Celso Daniel foi um crime comum.
Esqueceram de combinar com a imprensa, que continuou investigando o caso, com a
família da vítima, que desafiou as pressões dos interessados em enterrar a
história, e sobretudo com o Ministério Público, comprovou em novembro de 2010 o
julgamento de Marcos Roberto Bispo dos Santos no foro de Itapecerica da Serra.
O promotor Francisco Cembranelli provou que o crime foi político e acusou o réu
de participação no sequestro seguido de assassinato encomendado pela quadrilha
de políticos corruptos que agia na prefeitura de Santo André.
Os jurados avalizaram a argumentação de Cembranelli e
condenaram Bispo dos Santos, foragido, a 18 anos de reclusão em regime fechado.
O Ministério Público não está sob o controle do Executivo, reiteraram o
destemor e a objetividade de Cembranelli. Não são poucos os brasileiros capazes
de enxergar as coisas como as coisas são, reafirmou a decisão do júri. E ainda
há juízes no Brasil, mostrou Antonio Augusto Galvão de França Hristov, que
determinou a duração do castigo imposto ao homicida.
Em janeiro de 2002, os supostos amigos voltavam do jantar
num restaurante em São Paulo quando ─ segundo o relato de Sombra ─ um grupo de
bandidos interceptou o carro blindado que dirigia e arrancou Celso Daniel do
banco ao lado. Horas depois, o corpo foi encontrado numa estrada de terra no
município de Itapecerica da Serra, desfigurado por marcas de tortura e inúmeras
perfurações a bala.
O depoimento de Sombra (amigo e segurança de Daniel) na
delegacia deixou intrigada a mais crédula das carmelitas descalças. Ele diz que
não tentou escapar porque o câmbio hidramático emperrou. O fabricante do
veículo desmontou a versão malandra. Nem o depoente nem os policiais que o
interrogaram decifraram outro enigma: por que os sequestradores permitiram que
uma testemunha ocular sobrevivesse ─ e para contar uma história muito mal
contada?
Por que Sombra e Celso Daniel, por exemplo, não permaneceram
no interior do carro blindado? Como foi destravada a porta do passageiro, que
só poderia abrir por dentro? Por que Sombra não pediu socorro assim que os bandidos
se afastaram? Se aquilo não passara de um assalto, por que nenhum dinheiro,
nada de valioso foi levado? Por que Celso Daniel foi torturado antes da morte?
O que os torturadores desejavam saber? O que procuravam?
Logo se juntaram as peças do mosaico. Na segunda metade dos
anos 90, empresários da área de transportes e pelo menos um secretário
municipal, todos vinculados ao PT, haviam forjado em Santo André o embrião do
esquema do mensalão. Recorrendo a extorsões ou desvios de dinheiro público, a
quadrilha infiltrada na administração municipal garantia parte da gastança com
as campanhas do partido. A multiplicação das boladas aguçou a cobiça de alguns
quadrilheiros, que começaram a embolsar quantias de bom tamanho. Escolhido para
o papel de coordenador da candidatura de Lula na disputa presidencial de 2002,
Celso Daniel achou melhor desativar o esquema criminoso. Foi punido com a
morte.
Em julho de 2005, a TV Bandeirantes divulgou o escabroso
conteúdo de conversas telefônicas entre Sombra, Gilberto Carvalho, secretário
particular de Lula, e o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, encarregado pelo PT
de impedir que as investigações avançassem. Feitas por solicitação do
Ministério Público, as gravações pilharam o trio em tratativas destinadas a
enterrar a história de vez. Na hipótese menos inquietante, comprovam que Altos
Companheiros tentaram obstruir a ação da polícia e da Justiça quando o cadáver
do prefeito de Santo André ainda esfriava na sepultura.
Numa das fitas, Gilberto Carvalho procura amainar a inquietação
de Sombra. “Marcamos às três horas na casa do José Dirceu”, informa o
secretário do presidente da República. “Vamos conversar um pouco sobre nossa
tática da semana, né? Porque nós temos que ir para a contra-ofensiva”. A voz de
Sombra revela que o suspeito ficou menos intranquilo ao saber da movimentação
fraternal. “Vou falar com meus advogados amanhã, nossa ideia é colocar essa
investigação sob suspeição”. Carvalho concorda com a manobra: “Acho que é um
bom caminho”.
Em outra conversa, a inquietação de Sombra fora berrada ao
parceiro Klinger Oliveira, secretário de Assuntos Municipais de Santo André.
“Fala com o Gilberto aí, tem que armar alguma coisa!”, exalta-se o último
companheiro a ver o prefeito vivo. “Só quero que as coisas sejam resolvidas!”
Além do nervosismo de Sombra, causava preocupação à equipe especializada em
socorrer suspeitos o comportamento do médico João Francisco Daniel, irmão do
assassinado.
Como o caçula Bruno, João Francisco sempre afirmou que Celso
se condenou à morte ao resolver desmontar a máquina de fazer dinheiro que
ajudara a instalar nos porões da prefeitura. Ao notar que fora longe demais,
Celso contou ao irmão que decidira entregar a dirigentes do PT um dossiê que
detalhava as patifarias. E transformou o irmão numa testemunha de alto risco
para os padrinhos de Sombra. Como neutralizar o homem-bomba?
A interrogação aquece uma das conversas entre Gilberto
Carvalho e Greenhalgh. “Está chegando a hora do João Francisco ir depor!”,
alerta o advogado do PT. “Antes do depoimento preciso falar com você para ele
não destilar ressentimentos lá!”. Gilberto se alarma com o perigo iminente.
“Pelo amor de Deus, isso vai ser fundamental! Tem que preparar bem isso aí,
cara, porque esse cara vai… Tudo bem”. Os donos das vozes nas fitas recitam
desde 2002 que houve um crime comum. Se foi assim, por que tirou o sono de
tantos figurões da política brasileira?
O promotor Francisco Cembranelli provou que Celso Daniel foi
vítima de uma conspiração tramada por bandidos vinculados ao PT de Santo André
e consumada por um grupo de matadores profissionais. O Brasil quer ver
esclarecidas tanto a eliminação de Celso Daniel quanto a sequência de mortes
misteriosas que silenciou oito testemunhas. E quer ver na cadeia todos os
culpados ─ incluídos os mandantes. As gravações podem ajudar a identificá-los.
As conversas entre Sombra, Greenhalgh e Carvalho não se limitam a escancarar
uma mobilização política. Documentam a movimentação de comparsas.
Crimes que envolvem muita gente sempre são esclarecidos. Até
Marcos Valério acabou entrando na história. Chegou a hora de esclarecer de vez
o caso insepulto.
AUGUSTO NUNES, DIRETO AO PONTO:
O CASO CELSO DANIEL
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