FREI TIAGO
CARLOS RAMALHETE
28.11.2012
Nada apavora mais os comunistas que a celebração segundo a
forma clássica: é impossível fazer da Missa um comício.
Uma dessas histórias mal contadas está correndo pelos meios
católicos na Internet. De certo, sabemos apenas que Frei Tiago de São José e
seus carmelitas tradicionais foram expulsos da Diocese de Bragança Paulista.
A carta do Bispo alude a desobediências dos frades – que não
diz quais sejam – e a orientações vindas de Roma, que não afirma ter seguido; a
decisão de expulsar os carmelitas e a autoridade para fazê-lo são expressamente
dele apenas.
Já a carta de Frei Tiago diz, com todas as letras, que o
problema seria a adesão da comunidade à liturgia clássica.
É possível, e nas circunstâncias eclesiásticas do Brasil é
provável, que seja realmente este o motivo da expulsão.
Explico:
Cinquenta anos atrás, iniciou-se um Concílio Ecumênico, o
segundo a ocorrer nas dependências do próprio Vaticano; daí seu nome Concílio
Vaticano Segundo. Foi um acontecimento única na história da Igreja: um Concílio
que se reunia não para condenar erros do momento, mas para apontar caminhos
pastorais. Além do inusitado de seus fins, ele foi marcado por um otimismo que
os fatos depois vieram a mostrar desastroso.
Logo após o Concílio, a cultura
ocidental deu uma reviravolta monstruosa, levando ao movimento hippie e à
revolução sexual, pontas-de-lança do processo pós-moderno de dissolução da
sociedade ocidental moderna. Ora, esta sociedade moderna era o campo de ação
para o qual teriam sido traçadas as diretrizes conciliares!
Subiu então ao trono de Pedro o Papa Paulo VI, que após o
Concílio e já em plena convulsão social no Ocidente, decidiu criar uma nova
liturgia simplificada. Este texto foi então traduzido – no caso do Brasil, com
erros propositais de tradução – e passou a ser empregado como forma usual da
Missa.
Vale notar que nem o Concílio mandou criar uma liturgia
totalmente nova, nem Paulo VI imaginava que ela não seria celebrada sempre em
latim; são coisas que foram acontecendo, modas que foram “pegando”. Outra moda,
esta de consequências ainda maiores, foi o padre enfiar-se atrás do altar, ao
invés de ficar, como sempre havia ficado, entre o povo e o altar, virando-se
para um e para o outro, como o próprio Missal de Paulo VI determina.
Para piorar a situação, a sede de mudanças que varria o
mundo nos anos Setenta fez com que se tornasse habitual uma tal quantidade de
invenções litúrgicas, que é raríssimo, até hoje, encontrar uma Missa celebrada
de acordo com as regras do Missal de Paulo VI.
Ao mesmo tempo, no Brasil, a infiltração comunista na Igreja
atingiu proporções antes inimagináveis, sob o manto da dita “teologia da
libertação”, que veio a dar no “incorruptível” PT que ora nos governa. Bispos
que se orgulham de serem amigos pessoais de Fidel Castro (como Dom Pedro
Casaldáliga) foram alçados ao episcopado; o tempo de penitência da Quaresma foi
transformado em momento de “luta social”, com a “Campanha da Fraternidade” propondo
algum desvario imanentista novo a cada ano.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) –
organização reconhecida pela Igreja, mas que pela lei eclesiástica só se
pronuncia quando todos os Bispos, unanimemente, assinam o pronunciamento –
tornou-se arroz de festa da mídia, com “assessores” esquerdistas fazendo
declarações políticas que a imprensa reverbera como sendo “da Igreja”.
A maior arma de doutrinação destes infiltrados é a liturgia.
Era comum, até alguns anos atrás, que a Missa fosse praticamente transformada
num comício político de extrema-esquerda; o povo, cumprindo o preceito
dominical, via-se plateia literalmente cativa. Ora, esta “flexibilidade
litúrgica” só é possível na Missa de Paulo VI; a Missa clássica tem rubricas
minuciosas que indicam até mesmo a posição dos dedos de cada mão do sacerdote
em cada momento da liturgia.
Assim sendo, nada apavora mais os comunistas que a
celebração segundo a forma clássica: é impossível fazer da Missa um comício, é
impossível usar o preceito dominical como ocasião de lavagem cerebral quando a
liturgia celebrada não pode ser torcida e transformada até sinalizar o oposto
do que deveria.
O poder dos comunistas infiltrados, contudo, vem sendo aos
poucos debelado pela ação firme, mas forçosamente lenta, da Santa Sé. O Papa
João Paulo II começou a retirar os mais enraivecidos, e mandou que os Bispos
proporcionassem “ampla e generosamente” a aos fiéis celebração da Missa de
acordo com a liturgia clássica. Bento XVI, continuando a obra de seu
antecessor, definiu que a liturgia clássica é um direito dos leigos, e que
nenhuma autorização é necessária para que um padre a celebre; ao contrário,
até: é preciso ter autorização episcopal para celebrar em português, mas não
para celebrar a Missa tradicional.
Voltando ao caso de Atibaia, vejamos como esta situação
eclesial pode se refletir numa circunstância concreta.
A Diocese de Bragança Paulista é proprietária de uma enorme
área, na qual arrenda terras para congregações religiosas. A imensa maior parte
delas surgiu na época de maior força da infiltração comunista, e por lá
permanece, ainda que não tenha novas vocações. Mutatis mutandis, seria possível
dizer que os carmelitas se viram vivendo em um condomínio habitado quase que
exclusivamente por grupos contrários àquilo que a Santa Sé procura fazer.
Em tal contexto, a presença de um grupo que celebre
exclusivamente a Missa tradicional, com padres que ouçam confissões, monges e
monjas de hábito, sinos que tocam e demais sinais de ortodoxia católica é quase
uma provocação. O provável afluxo de fiéis à capela por eles servida, em busca
de uma liturgia reverente, só faz mais perigosa a presença deles para os
refugiados dos anos Setenta da vizinhança.
O trabalho iniciado pelo Papa João Paulo II e continuado por
Bento XVI, contudo, ainda está longe de ser concluído. A CNBB continua em
grande medida sujeita aos encanecidos representantes da “teologia da
libertação”, tendo até mesmo surgido propostas no sentido de dar voto aos
Bispos eméritos (aposentados), como forma de prolongar a sua influência.
A presença, em tais circunstâncias, do um “inimigo” fiel à
Santa Sé em seu meio certamente não teria como deixar de provocar reações
fortes e pressões contra a Diocese. A “teologia da libertação” ainda conta com
padrinhos poderosos, capazes de cortar ou redirecionar verbas, de dificultar
tremendamente a ação dos Bispos, de, em suma, fazer valer pela força o que não
tem como ser imposto pela lógica, pela fé ou pela moral.
Por ser uma congregação de direito diocesano ainda em
estágio inicial, a dependência da comunidade de Frei Tiago em relação ao Bispo
é absoluta. É direito dele dissolver a congregação a qualquer momento, sem que
precise sequer declarar os motivos. Tendo isto sido feito, só resta aos
carmelitas buscar outra diocese que os acolha e reiniciar seu trabalho.
Não se tem como saber se o que ocorreu foi uma derrota dele
diante da força política dos grupos de “teólogos da libertação” que ainda
infestam sua diocese, ou se foi realmente a sua vontade que vigorou. O que se
sabe é que ser aliado do Papa, no Brasil, ainda é motivo para ser perseguido.
Carlos Ramalhete é professor.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
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