Leio na edição número dois da Revista de Jornalismo da ESPM
(edição brasileira da Columbia Journalism Review) excelente matéria sobre
assassinatos de jornalista no Brasil. E isso me fez pensar na absoluta
maluquice em que está se transformando o Brasil e o jornalismo brasileiro.
As mortes são lamentáveis, sempre, mas o cerco que se faz,
cotidianamente, ao exercício profissional, a partir de instituições
governamentais e partidos políticos, para os quais a imprensa é, sempre, a
culpada pelos males do Pais, é muitíssimo mais preocupante, pois evidencia que
a liberdade de expressão, garantida constitucionalmente corre graves riscos.
Além das constantes ameaças dos petistas de alto e baixo escalão,
contra a liberdade de imprensa, a qual ameaçam com a tal regulação da mídia (um
eufemismo petista para censura), há processos, financiamento de jornais que dobram
os joelhos e vergam a coluna para o Poder, e agora a incrível, absolutamente absurda peça que constitui o
relatório produzido por Odair Cunha (PT-MG), da CPI do Cachoeira, pedindo,
contra todas as informações e levantamentos feitos, o indiciamento de um
jornalista que apenas trabalhou dentro das regras do bom jornalismo e da ética:
Policarpo Quaresma, diretor da Sucursal de Brasília, de VEJA.
No Brasil, pelo que se vislumbra no relatório de Cunha, a
cunha de censura, a cunha demolidora das liberdades de imprensa e expressão age
devido à pressão dos que só gostam de tais liberdades quando a seu favor. Um dos poucos jornalistas dedicados à investigação jornalística é colocado na posição de ser culpado por trabalhar bem!
Não à toa o jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog, afirma
“Há quem não tenha se dado conta da gravidade dos atos praticados pelo deputado
Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira. Seu relatório tem mais
importância do que parece. Ele revela a vocação do PT para construir, se não
for devidamente enfrentado, um estado policial no país. Não estou exagerando,
não! Ao contrário! Estou dando à coisa o nome que ela tem. Se as palavras, os
conceitos e a instituições fazem sentido, então é isto mesmo: os petistas, se
julgarem necessário, transformam instâncias do estado em instrumento de
perseguição dos adversários.”
E mais: “Os próprios parlamentares da base do governo — os
não petistas — deram sinais claros de descontentamento com o texto, e Odair
Cunha já admite revê-lo: “É uma tentativa de constrangimento de quem faz
jornalismo investigativo. Tem caráter de vingança. A fiscalização do desempenho
das autoridades é feita por diversas entidades públicas, mas é a imprensa que
tem feito denúncias. Este relatório não tem como ser consertado”, afirmou, por
exemplo, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).
..."Que coisa! A direção do PT emitiu há dias uma longa nota
atacando o STF e a condenação dos mensaleiros. Todos os réus tiveram amplo
direito de defesa. Para os petistas, mesmo assim, assistimos à ação de um
tribunal discricionário. Cunha não apresenta em seu relatório um único fato, um
indício miserável que seja, que deponha contra o jornalista da VEJA. E não
apresentou porque não há. Mesmo assim, o relator propõe o seu indiciamento. E
aproveita a oportunidade para dar algumas aulas sobre o que considera bom
jornalismo: parece ser aquele em que os petistas sempre se dão bem…
Cunha adota prática mensaleira
Cunha, à sua maneira, tornou-se também um “mensaleiro”.
Explico-me. Os quadrilheiros — como restou fartamente demonstrado pela CPI dos
Correios, pelo Ministério Público e pelo STF — assaltaram os cofres públicos em
benefício de um projeto de poder. O relator da CPI resolveu assaltar a
institucionalidade em proveito desse mesmo projeto.
Odair Cunha, quem diria?, já fez história. E que história!”
(Reinaldo Azevedo).
GJ.
A SEGUIR, A NOTA DE VEJA SOBRE O ABSURDO RELATÓRIO DE ODAIR
CUNHA
Nota de esclarecimento da revista VEJA
Ao pedir o indiciamento do jornalista de VEJA Policarpo
Júnior, o relator Odair Cunha, do PT de Minas Gerais, não conseguiu esconder
sua submissão às pressões da ala radical de seu partido que, desde a concepção
da CPI, objetivava atingir a credibilidade da imprensa livre por seus
profissionais terem tido um papel crucial na revelação do escândalo do
“Mensalão” – o maior e mais ousado
arranjo de corrupção da história oficial brasileira.
Com a punição exemplar pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
dos réus petistas integrantes do esquema do Mensalão, sobrou a seus sequazes
instrumentalizar o relator da CPI e usá-lo para tentar desqualificar o exemplar
e meritório trabalho jornalístico de Policarpo Júnior, diretor da sucursal de
Brasília e um dos redatores-chefes da revista VEJA, profissional dono de uma
história invejável de serviços prestados aos brasileiros.
Em seu afã de servir de instrumento de revanche contra o
jornalista que mais destacadamente ajudou a desnudar os crimes dos petistas no
Mensalão, o relator recorreu a expedientes condenáveis. O mais grave deles foi
suprimir do relatório a mais límpida evidência da conduta absolutamente correta
do jornalista de VEJA. Odair Cunha desprezou o exaustivo trabalho dos
integrantes do Ministério Público e da Polícia Federal encarregados das
investigações e das escutas legais feitas no contexto das operações em que o
jornalista de VEJA é citado.
O relatório de Odair Cunha omitiu os depoimentos à CPI dos
delegados da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues e Raul de Souza e dos
procuradores da República Daniel Rezende e Léa Batista Salgado, encarregados
das investigações. Todos eles, sem exceção, foram enfáticos em descrever as
conversas do jornalista de VEJA com Carlos Cachoeira como relação entre
repórter e fonte.
Ouvido pela comissão no dia 8 de maio, o delegado federal
Raul Souza afirmou: “Não há indícios de que o relacionamento tenha ultrapassado
a relação entre jornalista e fonte”. Integrantes da CPI perguntaram
repetidamente e sem rodeios ao delegado Mella Rodrigues se Policarpo Júnior
praticou ou participou de algum crime. A resposta do policial foi sempre a
mesma: “Não”.
Os procuradores também reafirmaram que, nas investigações,
ficou evidente que os contatos entre o jornalista e o contraventor nunca
ultrapassaram “os limites do trabalho de um repórter em busca de informações”.
As razões pelas quais Odair Cunha suprimiu essa prova irrefutável de inocência
de seu relatório ainda precisam ser devidamente esclarecidas
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