Pesquisar este blog

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A MÃE DE SOROCABA QUE DEDUROU A FILHA NA PROVA DO ENEM E FEDERICO FELLINI, O DIRETOR ITALIANO. Maria Lúcia Diniz Abdala, virou notícia nacional ao denunciar publicamente a filha de 16 anos que usou o celular para burlar a prova. Ela foi ao local do exame, fez a denúncia aos inspetores e, depois, comunicou ao mundo o ato que julgou heróico. Isso me fez recordar Amarcord, maravilhoso filme italiano de 1973. (video)


AMARCORD: REUNIÃO FASCISTA
A MÃE DE SOROCABA QUE DEDUROU A FILHA NA PROVA DO ENEM E FEDERICO FELLINI, O DIRETOR ITALIANO. 

Isso me fez recordar Amarcord. Um dos filmes mais interessantes feitos até hoje, citado em qualquer lista de bons filmes da história do cinema é “Amarcord”, do diretor italiano Federico Fellini, de 1973. Embora o diretor sempre tenha negado ser um tipo de autobiografia, as imagens e personagens do filme remetem ao tempo de sua infância. E, inevitavelmente, aos tempo do ditador Mussolini, Il Duce, em plena Itália fascista.

MUSSOLINI E OS PEQUENOS FASCISTAS
E é isso que interessa no caso da jovem filha da senhora Abdala. Na Itália fascista de Mussolini, assim como na então URSS de Stalin, e na Alemanha nazista de Adolf Hitler, filhos eram jogados contra pais e outros parentes pela propaganda ideológica, que colocava os regimes e, especialmente, a fidelidade aos grandes lideres em primeiro lugar.

Se o senhor ou a senhora tivessem uma filha de 17 anos que estivesse fazendo a prova do Enem e ela ligasse pelo celular pedindo ajuda (cola), o que o sr. ou a sra. fariam?:

1. Mandaria a polícia e o Conselho Tutelar para prenderem a jovem. 
2. Iria à escola informar que havia vazamento, de forma discreta.
3. Iria à escola e faria um escarcéu, humilhando publicamente a moça.
4. Ou mandaria a jovem desligar imediatamente o celular e aguardaria a sua chegada em casa, após o exame, e lhe passaria uma descompostura pela tentativa desonesta?

Eu, certamente, mandaria desligar o aparelho e teria uma boa conversa com a garota em casa. Caso achasse conveniente, poderia até procurar os organizadores para dizer que houve quem escapasse à vigilância. Talvez isso ajudasse, para o futuro.

KOMSOMOL: JOVENS COMUNISTAS

No caso específico da garota denunciada pela mãe, o pessoal do Enem disse que havia sido fornecido um saco plástico com lacre para os estudantes colocarem o aparelho. A moça disse depois à imprensa que, quando ela solicitou um saco plástico, teriam informado que não havia mais. E ela teria ficado com o aparelho.

Tudo bem, mas precisava usá-lo? 

AMARCORD E PROPAGANDA TOTALITÁRIA

E que tem o maravilhoso filme Amarcord de Fellini com a filha da senhora Abdala? No filme, o garoto que narra a história se recorda de que durante o fascismo italiano o sistema educacional foi utilizado para doutrinar crianças. Um dia o garoto conta para a professora que o seu pai (do garoto) havia criticado o ditador durante o almoço, em família. 

Como os professores eram propagandistas do regime, a professora dedurou o garoto e a polícia foi prender seu pai para tomar depoimento. Na delegacia, tendo confessado que havia criticado o regime e o ditador, foi obrigado a tomar doses de óleo de rícino.

Um filme alemão muito bom também, mais recente, de 2004, chamado no Brasil de “A Queda: as últimas de Hitler” (Der Utergang) tem uma cena muito emocionante e reveladora. As tropas soviéticas estão invadindo Berlim e um grupo de crianças armadas (de 11 ou 12 anos de idade) fica em uma trincheira, na rua, esperando para combater os russos.

HITLERJUGEND E OS FANÁTICOS POR HITLER
O pai de um dos garotos vai até lá e diz para irem embora, que a guerra está perdida, que os soldados russos eram profissionais, e eles crianças. O filho, revoltado, e hipnotizado ainda pela propaganda nazista se recusa a fugir e chama o pai de covarde. O que transformou uma criança num fanático nazista? A propaganda.

Na Itália fascista as crianças tinham que fazer parte de uma organização chamada Figli della Lupa, de doutrinação, em que a ligação com o Duce e o regime era mais valorizada que as relações familiares.

Na União Soviética havia a Juventude Komsomol, que tinha as mesmas características; existia para doutrinar. A criança não deve confiar em mais ninguém além do Papai Estado, traduzido na figura do Grande Líder.

A Alemanha nazista presenteou o mundo com a Hitlerjugend, que tinha a mesma finalidade: doutrinar as crianças desde a mais tenra idade. Totalitarismos (fascistas, comunistas, nazistas) são todos iguais no seu ódio à unidade familiar. Os ditos revolucionários precisam, sempre, destruir os vínculos de família, para criar novas redes de fidelidade. O Estado e o Partido acima de tudo. E o Partido acaba sendo o Estado. Daí totalitarismo. Total absoluto. 

TOTALITARISMO E FAMÍLIA

Estou dizendo, então, que os vínculos familiares estariam acima da lei, da ordem, da moralidade, etc? Não. Apenas que em casa é que os filhos devem ser educados para serem bons filhos, bons alunos, bons cidadãos. Eles precisam saber que podem buscar refúgio e apoio seguro em casa, sem que isso se transforme em julgamento público. De modo algum isso significa falta de punição. 

A senhora Abdala, para ensinar a filha a ser ética, ou honesta, não tinha qualquer necessidade de bater os tambores em uma praça pública. Bastaria conversar com a filha, sinceramente, e dizer: "não faça mais isso; não é isso que te ensinamos e esperamos de você. O que você fez não é certo. Você burlou as normas". 

Está certo que no País do Mensalão, onde os condenados por corrupção e formação de quadrilha ainda têm a coragem de criticar o Tribunal, e de se colocarem como vítimas, fica meio difícil orientar os filhos, mas é o que deve ser feito. 


PS. A imagem da tela do celular (VEJA A IMAGEM) mostra que ela identifica a filha por iniciais (JHE) e pela palavra filha. Isso me soa curioso, estranho. Alguém se refere a um filho assim?

Será que isso tudo havia sido planejado? Pode ser que a sra. Abdala tenha pensado em agir como justiceira, mas contra a filha? É isso que ela acha que é um bom exemplo?

À Rede Bom Dia ela disse que no sábado (primeira fase do exame) a sua filha havia comentado sobre a falta de segurança. O episódio da denúncia aconteceu no domingo, durante a segunda prova.  Pode ser que a senhora Abdala tenha pensado em expor as falhas da aplicação do exame. Conseguiu, mas precisava sacrificar a filha daquela maneira?

Não sei. Sinto-me livre para pensar isso, uma vez que a senhora Abdala sentiu-se livre para expor a filha como o fez. Não consigo atinar com o bem que ela fez à filha, ou à organização do Enem.

É impossível prever todas as modalidades de ações fraudulentas. Sempre alguém poderá esconder um celular e dizer que não recebeu um saco com lacre. Isso não terá sido culpa dos organizadores.

A mãe virou notícia, a filha foi humilhada em público. É a isso que deveremos chamar de educação dos novos tempos?
Onde ficam, então, nesse caso, os bons e velhos laços de família?
 
GJ

REDE BOM DIA

Segundo a Rede Bom Dia, a mãe da jovem, Maria Lúcia Diniz Abdalla, ressalta que em nenhum momento pensou em ajudar a filha a realizar a prova. "Não acho justo ajudar uma filha e não ajudar a outra", disse Maria Lúcia se referindo a sua outra filha, que também fazia o exame.

Maria Lúcia e a filha trocaram diversas mensagens enquanto a estudante do 2º ano do Ensino Médio realizava a prova como treineira. Na primeira mensagem a garota pediu que a mãe entrasse em um endereço de internet citado em uma questão para ajudá-la na resposta. A estudante também perguntou o que significava mediana, em matemática e falou para a mãe qual era o tema da redação.

Em um trecho de uma mensagem a mãe diz à menina "Vou te ajudar a conseguir uma nota boa."

De acordo com Maria Lúcia, no sábado a estudante chegou em casa após a prova e comentou que havia falha no sistema de segurança dentro da sala de aula. No domingo, a garota revelou que chegou para fazer a prova e que os fiscais não deram saco plástico para colocar o aparelho celular.

A mãe da estudante afirmou que em nenhum momento pensou em prejudicar a filha. "Agi com dignidade, avisei os responsáveis pelo exame porque não achei justo com os demais candidatos", revelou.

Em contato com a organização do Enem em Sorocaba, os representantes afirmaram que foram orientados pelo Inep a não comentarem sobre o assunto.

Em contato com a assessoria de imprensa do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) - responsável pelo Enem- não houve resposta dos procedimentos que serão adotados.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA:


Foto Mussolini Figli della Lupa:

Juventude Komsomol:

Hitlerjugend:

Amarcord Federico Fellini:

AMARCORD: CENA DO ALMOÇO EM FAMÍLIA



2 comentários:

  1. https://www.facebook.com/jhennifer.abdalla
    Facebook da menina. Ela chama a filha de Jhe mesmo.
    A outra filha, a mais velha, já está na faculdade e é exemplar.

    ResponderExcluir
  2. Fico feliz. Talvez a irmã mais nova siga o mesmo caminho. No caso específico, após tantas matérias na imprensa, não ficou muito claro se a mãe quis ajudar a corrigr o Enem, no sentido de melhorar a fiscalização, ou acabou se atrapalhando e deixando a filha em maus lençóis. Todavia, as coisas poderiam ter sido feitas de modo mais discreto.
    Gutenberg J.

    ResponderExcluir