Altos dirigentes do PT chamam o publicitário Marcos Valério
de desqualificado, depois que informou à PGR, por depoimento, detalhes sobre
coisas que ele diz conhecer muito bem e que envolvem Lula, Gilberto Carvalho
(atualmente na Casa Civil de Dilma Rousseff), o ex-ministro Antonio Palocci e
sobre remessas ilegais de grandes quantias ao exterior.
Certamente Valério deve saber mais do que já disse sobre o
que sabe. No caso do Mensalão ele disse, na primeira denúncia que fez, que os
valores desviados seriam superiores e 350 milhões. O escândalo do Mensalão gira
em torno de 55 milhões. Valério foi condenado pelo STF a pouco mais de 40 anos
de prisão, regime fechado.
O fato dele ter sido condenado pelo STF faz dele um
condenado por corrupção e formação de quadrilha, junto com altos então dirigentes
do PT como José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares. Se os atuais dirigentes do
PT chamam Valério de desclassificado ou desqualificado por conta da condenação,
então está em boa companhia; Dirceu, Genoíno e Delúbio também foram condenados pelos mesmos crimes.
E uma coisa óbvia: o fato de alguém ter sido condenado não
apaga a sua memória e não diminui o valor de informações que tenha consigo e
que não tenham sido informadas às autoridades. Certamente Dirceu, Genoíno e
Soares têm seus segredos. Grandes segredos.
O assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel,
chocou o Brasil em 2002. Daniel era o tesoureiro da campanha presidencial de
Lula. Numa noite, ao sair de um restaurante seu carro teria, supostamente,
enguiçado e ele acabou sequestrado e depois morto.
Essa é uma história bem conhecida. Ao longo do tempo,
surgiram detalhes importantes sobre o caso, mas a resolução do mesmo foi
envolta em brumas.
Uma forte névoa que se desenvolveu em torno das
investigações poderia sugerir dois caminhos possíveis: Celso Daniel foi sequestrado
e morto por bandidos comuns: Celso Daniel foi sequestrado sob encomenda,
torturado e morto brutalmente, por razões políticas.
A polícia parece ter concluído por crime comum. A promotoria
pela outra alternativa. O fato é que os
irmãos de Celso Daniel andaram questionando para chegar à verdade, e foram ameaçados de morte. Um deles mudou-se para a
França.
Celso Daniel, segundo as matérias da época, sabia que havia
um esquema para desviar ou arrecadar recursos ilegais para o PT. Quando um
amigo seu muito próximo teria sido descoberto desviando dinheiro que seria
destinado ao partido. Isso teria deixado Daniel muito contrariado. E isso
poderia tê-lo levado à morte. Mas a polícia acreditou que não, que foi morto
por bandidos sem ligação com o partido.
Essa é a misteriosa e perturbadora sombra que paira sobre o caso Celso Daniel.
A revista Veja publica matéria de capa sobre o que Valério
disse à PGR. Marcos Valério denuncia que
o PT queria que ele arranjasse dinheiro para pagar chantagem feita por
envolvidos contra Lula e Gilberto Carvalho.
Segundo a matéria, Marcos Valério Fernandes de Souza revelou
em depoimento ao Ministério Público Federal ter detalhes envolvendo o PT no
assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002.
Valério, apontado como o operador do mensalão, foi condenado pelo STF (Supremo
Tribunal Federal) a mais de 40 anos de prisão por crimes cometidos no mensalão.
Segundo a reportagem, Valério disse que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho,
estavam sendo extorquidos por figuras ligadas ao crime, de Santo André. Ronan
Maria Pinto, que é apontado pelo Ministério Público como integrante de um
esquema de cobrança de propina na prefeitura, seria um dos suspeitos de
chantagear Lula e Carvalho.
A revista diz que Valério foi procurado por petistas para
pagar o dinheiro da chantagem, mas que ele teria se recusado. Segundo ele, quem
teria ficado com a missão seria um amigo pessoal de Lula, que utilizou um banco
não citado no Mensalão.
DELAÇÃO PREMIADA
O depoimento de Valério à PGR foi dado na tentativa de
conseguir uma delação premiada, mecanismo jurídico no qual alguém que é
investigado pode se beneficiar colaborando com a Justiça. Esse depoimento,
segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", foi dado no fim de setembro.
Nele, Valério teria citado Lula e o ex-ministro Antonio Palocci.
Segundo o jornal, o empresário mencionou outras remessas de
recursos para o exterior, além das que foram feitas para o publicitário Duda
Mendonça, que trabalhou na campanha de Lula em 2002 e foi absolvido pelo
Supremo no processo do mensalão.
A cúpula do PT procurou ontem desqualificar o novo
depoimento que o empresário Marcos Valério teria prestado à Procuradoria-Geral
da República sobre o esquema. Saindo em defesa de Lula, os petistas disseram
que Valério está tentando se livrar da pena imposta pelo STF e por isso não
merece credibilidade.
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, disse
duvidar que Valério tenha algo a
acrescentar ao que já foi dito no julgamento do mensalão e ironizou o novo
depoimento: "Se eu fosse condenado a 40 anos de prisão também estaria me
mexendo".
Um fato estranho, contudo, é que desde a morte de Celso
Daniel sete testemunhas envolvidas com o caso morreram de modo misterioso.
Isso
faz o caso ficar parecido com as histórias policiais de Conan Doyle ou Agatha
Christie, mas enquanto estes dois escreviam ficção, no caso Celso Daniel a morte foi real, a versão
policial pode não ser a correta, e os mandantes do crime podem estar soltos por
aí, usufruindo da liberdade, do dinheiro e do silêncio dos que morreram.
Se eu fosse um dos tais mandantes, sendo isso verdade, eu teria
ido na data de hoje fazer uma visita ao túmulo do ex-prefeito, para rezar e
agradecer.
IMAGEM DE CEMITÉRIO:
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