Chesterton e a solução para o mundo
Fabio Blanco
17 Julho 2013
Todos os que quiseram se desgarrar, ainda que parcialmente,
das respostas cristãs, acabaram criando escolas de pensamento parciais,
falíveis e sempre fadadas ao desaparecimento.
A melhor visão é a do alto. De cima das torres é que se
enxergam as cidades. Em meio à confusão da multidão, junto aos fatos mais
imediatos, podemos até ver algumas situações mais detalhadamente, no entanto,
jamais teremos a visão do conjunto. E as melhores soluções, os bons conselhos,
sem dúvida, são aqueles dados com base na visão do todo.
Por isso, o cristianismo é o fundamento ideal para qualquer
civilização. Não estando delimitado por qualquer cultura, nem por qualquer
forma de sociedade específica, mas, sustentando seus princípios em valores
superiores e eternos, as soluções que traz para a temporalidade são mais
estáveis e confiáveis que qualquer ideia mirabolante que pretenda resolver os
problemas da humanidade.
E todas as ideologias sofrem exatamente desse mal: são
autolimitadas por suas pretensões mais características. Todas elas, ao tentarem
encontrar uma explicação específica para a realidade, acabam tentando submeter
tudo aos seus preceitos.
No entanto a realidade é sempre muito mais complexa do que
qualquer ideologia consegue prever. Daí, o que acontece é que seus representantes
e profetas acabam se esforçando desmesuradamente para que a realidade se adapte
à ideia, e não o contrário. Se a realidade desmente a ideologia, dane-se a
realidade.
O que encontramos, então, é uma infinidade de escolas de
pensamento que se, muitas vezes, surpreendem pela criatividade e ousadia, por
outro lado decepcionam pela estreiteza das respostas às questões mais difíceis
da existência.
E quando alcançaram poder político tal a ponto de poderem
ser impostas a sociedades inteiras, o resultado não foi outro senão miséria,
terror e morte.
O cristianismo, por seu lado, exatamente por ser universal,
por não estar restrito a uma cultura, por não ser uma mera tentativa de
explicar a vida, mas, sim, uma revelação, se torna a única visão que o homem
pode tomar para si e, assim, entender o sentido de tudo.
Isso porque ele não é uma tentativa, a partir da observação
humana limitada, de explicar a realidade. Observe bem, o cristianismo não
levanta questões, mas traz respostas. E suas respostas não são baseadas nos
fatos observáveis, pelo contrário, muitas vezes parecem contrariá-los.
E como pode essa revelação superior, que não tem qualquer
compromisso com as circunstâncias da vida social, ter fornecido as bases para a
construção da civilização mais desenvolvida e poderosa em toda a história: a
nossa ainda presente Civilização Ocidental?
Aconteceu isso por não serem soluções humanas, baseadas nos
questionamentos humanos, mas respostas divinas, oriundas da sabedoria divina
superior.
Enquanto isso, todos os que quiseram se desgarrar, ainda que
parcialmente, das respostas cristãs, acabaram criando escolas de pensamento
parciais, falíveis e sempre fadadas ao desaparecimento. Essas foram os casos do
materialismo, do ceticismo, do relativismo, do pragmatismo, do positivismo, do
idealismo, do marxismo e de outros que não cabe mais enumerar por aqui.
Invariavelmente, após alguma ascensão, alguma pujança e fortalecimento de suas
ideias, todas elas se enfraqueceram ou estão se enfraquecendo. E tal enfraquecimento
se deveu porque, em determinados momentos, essas ideias não puderam responder
às questões mais profundas da vida humana.
E foi exatamente isso que Chesterton, em seu livro
"Ortodoxia", fez questão de ressaltar. Em seu tempo, no século XIX,
quando o mundo se maravilhava com as conquistas que a razão vinha tendo, quando
chegavam a crer que Deus talvez passasse a se tornar dispensável para os
homens, o pensador inglês mostrava que a resposta não se encontrava à frente,
mas no passado, ou melhor, nos alicerces.
A compreensão da vida, do mundo e da existência apenas
poderia vir do alto. Isso porque de lá, certamente, as respostas não estariam
baseadas na frágil observação humana, sujeita ao intempéries dos desejos, da
vontade e dos interesses.
Como ele mesmo, com a honestidade que lhe era
característica, afirmou:
Com todo o ardor juvenil cansei a voz a proclamar as minhas
verdades, mas fui castigado pela maneira mais singular e mais justa: guardei
como boas tais verdades, depois que descobri, não que não eram verdades, mas,
simplesmente, que não eram minhas. Quando pensava estar sozinho, vi-me na
ridícula situação de ter ao meu lado todo o Cristianismo.
Seria bom se aprendêssemos como ele mesmo aprendeu: que
talvez as soluções para uma vida mais reta, uma sociedade mais justa, uma
civilização mais evoluída não estejam tão longe assim, mas na estante mais
próxima - nas páginas de um livro preto.
FABIO BLANCO É ADVOGADO E TEÓLOGO
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
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