“É dinheiro ou não é?”
Sílvio Santos
“Eu vim para confundir, não para
explicar”
Chacrinha
BRASIL NERVOSO
J. R. GUZZO
Fica cada dia mais difícil,
sinceramente, confiar na palavra “popularidade”. O dicionário não ajuda; o que
está escrito lá dentro não combina com o que se vê aqui fora. Os institutos de
pesquisa ajudam ainda menos ─ seus números informam o contrário do que mostram
os fatos. As teses do PT, enfim, não servem para nada. Garantem por exemplo,
que a ladroagem, as mentiras e a incompetência sem limites do governo só afetam
uma pequena minoria que lê a imprensa livre ─ a “direita”, os “inconformados”
etc. Quando Dilma fica brava, como agora, fingem ignorar o que está na cara de
todos: que a ira popular vem da acumulação dos desastres noticiados por essa
mesmíssima imprensa.
É simples. A presidente da
Republica, que continua sendo apresentada como a governante mais popular que o
Brasil jamais teve, não pode colocar os pés num campo de futebol em Brasília. Ia fazer
isso como previa o programa oficial no jogo de abertura da Copa das
Confederações no dia 15 de junho. Desistiu ao ouvir a robusta vaia que o
público lhe socou em cima logo ao aparecer no estádio ─ e teve de ficar
trancada no cercadinho das autoridades, seu habitat protegido de sempre. Para
não receber uma vaia ainda pior, também desistiu de fazer o discurso solene
escrito para a ocasião. Pergunta: se a presidente Dilma Rousseff não pode
aparecer nem falar em público, onde foi parar aquela popularidade toda?
O problema, no caso, é que se
tratava de público de verdade ─ e não desses blocos que o PT monta para fazer o
papel de povo, transporta em ônibus fretados com dinheiro público e premia com
lanche grátis, em troca de palmas para a presidente. Dilma tentou chegar perto
do povo brasileiro que existe na vida real: foi um fiasco, e ela terá de lidar
agora com o pânico dos magos da “comunicação” e “imagem” que fabricam
diariamente a sua popularidade. Há alguma coisa muito errada nisso tudo. Para
que servem todas as pesquisas de aprovação popular e a fortuna que o governo
gasta em propaganda se a rua demonstra que não está aprovando nada, nem
acreditando no que a publicidade oficial sobre o Brasil Carinhoso lhe conta?
A primeira explicação do Palácio
foi uma piada: as vaias foram dadas pela “classe média alta” que estava no
estádio no dia do jogo inicial. Mas exatamente naquela mesma hora, do lado de
fora, a polícia estava baixando o sarrafo numa multidão irada que protestava
contra os gastos cada vez mais absurdos, a inépcia e a roubalheira frenética
nas obras da Copa de 2014 ─ que o ex-presidente Lula, Dilma e o PT consideram a
suprema criação de seus dez anos de governo. A essa altura, no mundo real. a
casa já tinha caído. O Brasil Carinhoso que existe nas fantasias do governo
havia cedido lugar, desde a semana anterior ao Brasil Nervoso que existe na
realidade ─ nervoso, enraivecido, violento, destrutivo, irracional e exasperado
contra tudo o que acontece de ruim no seu cotidiano.
Sua revolta começou contra um
aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus de São Paulo, decidido pela
estrela ascendente do PT o prefeito Fernando Haddad. Abriu espaço, como sempre,
para marginais ─ gente que quebra tudo, incendeia e rouba TVs de tela plana de
lojas saqueadas. Vazou rapidamente para outras trinta grandes cidades e
continuou durante toda a semana passada, já envolvendo um universo de 250.000
pessoas, ou mais, e colocando à luz do sol uma revolta que ia muito além de
protestos contra tarifas de transporte e atos criminais. Seu recado foi claro:
o rei está nu.
O povo está dizendo que este rei
— o governo de farsa montado por Lula há mais de dez anos — rouba, mente, desperdiça,
não trabalha, trapaceia, vai para a cama com empreiteiros de obras, entrega-se
a escroques, cobra cada vez mais imposto e fornece serviços públicos que são um
insulto ao país. Acha que pode comprar o povo com fornos de micro-ondas e
outros badulaques de marquetagem. É covarde e hipócrita: depois de provar por A
+ B que o aumento das passagens era indispensável, a prefeitura paulistana,
apavorada provou por A + B que não era, e cedeu a quem chamava de
“baderneiros”.
Dilma por sua vez, elogiou a todos,
dos manifestantes à polícia, e correu para pedir instruções a Lula — mas não
admitiu que seu governo tenha a mais remota culpa por qualquer das desgraças
que levaram o povo às ruas. Espera que a revolta se desfaça sozinha como em
geral acontece com movimentos que não têm objetivos claros, liderança e
disciplina — e volte à sua sagrada popularidade. Pode ser mais difícil, desta
vez.
Imagem Dilma Rousseff, blog
Ricardo Gama:
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