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quinta-feira, 10 de maio de 2012

CARTA DE UMA MÉDICA INDIGNADA AO GOVERNADOR SÉRGIO CABRAL. "Venha visitar hospitais, quem sabe entra no seu nariz o cheiro do pobre, do povo..." (MIlepsch)


Este texto circula pela Internet na forma de email e já foi reproduzido em centenas de blogs pelo Brasil. Eu não o conhecia. Ouvi sua leitura, pela manhã, no trânsito, por um locutor da Rádio Jovem Pan. Achei o conteúdo muito oportuno. Fiz uma pesquisa e encontrei referencias ao texto da Dra. Lepsch ainda em 2009. Assim, para tempos elétricos de Internet, não é pouco tempo.

E quanta verdade contém. Mudou alguma coisa nestes anos?

De fato, se considerarmos os escândalos envolvendo as contratações da empresa Delta, dirigida pelo amigo de Sérgio Cabral, Fernando Cavendish, até recentemente, para obras no estado do Rio de Janeiro, e se considerarmos as mordomias e a promiscuidade entre interesses públicos e privados conforme acompanhamos pela imprensa, estarrecidos, o texto é atualíssimo. 

A Delta, agora posta à venda, metida no escândalo de Carlinhos Cachoeira, tem bilhões de reais em contratos com o Governo Federal, para obras do PAC.  

Cabral parece uma borboleta deslumbrada. Viajou ao exterior 37 vezes, desde 2007, sendo 21 delas para a França! E viaja à Europa com secretários de governo e Cavendish, conforme mostra o blog do ex-governador Garotinho, enquanto o Rio está entregue aos mosquitos, à violência, à roubalheira e à corrupção. A questão é sobre quem paga a conta. 

Quem já conhece, ótimo, terá a oportunidade de relê-lo. Quem não leu o texto, faça-me o favor , leia e passe adiante.

Parabéns, doutora!  

ADQUIRINDO CULTURA EM PARIS!


Carta-aberta da médica Dra. Maria Isabel Lepsch ao governador do Rio de Janeiro

Sabe, governador, somos contemporâneos, quase da mesma idade, mas vivemos em mundos bem diferentes. Sou classe média, bem média, médica, pediatra, deprimida e indignada com as canalhices que estão acontecendo. Não conheço bem a sua história pessoal e certamente o senhor não sabe nada da minha também.

Fiz um vestibular bastante disputado e com grande empenho tive a oportunidade de frequentar a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, hoje esquartejada pela omissão e politiquices do poder público estadual. Fiz treinamento no Hospital Pedro Ernesto, hoje vivendo de esmolas emergenciais em troca de leitos da dengue.

Parece-me que o senhor desconhece esta realidade. O seu terceiro grau não foi tão suado assim, em universidade sem muito prestígio, curso na época pouco disputado, turma de meninos Zona Sul …

 Aprendi medicina em hospital de pobre, trabalhei muito sem remuneração em troca de aprendizado. Ao final do curso, nova seleção, agora para residência. Mais trabalho com pouco dinheiro e pacientes pobres, o povo. Sempre fui doutrinada a fazer o máximo com o mínimo.

Muitas noites sem dormir, e lhe garanto que não foram em salinhas refrigeradas costurando coligações e acordos para o povo que o senhor nem conhece o cheiro ou choro em momento de dor..

No início da década de noventa fui aprovada num concurso para ser médica da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. A melhordecisão da minha vida, da qual hoje mais do que nunca não me arrependo, foi abandonar este cargo. Não se pode querer ser Dom Quixote, herói ou justiceiro. Dói assistir a morte por falta de recursos. Dói, como mãe de quatro filhos, ver outros filhos de outras mães não serem salvos por falta de condições de trabalho.

Fingir que trabalha, fingir que é médico, estar cara-a-cara com o paciente como representante de um sistema de saúde ridículo, ter a possibilidade de se contaminar e se acostumar com uma pseudo-medicina é doloroso, aviltante e uma enorme frustração.

Aprendi em muitas daquelas noites insones tudo o que sei fazer e gosto muito do que eu faço. Sou médica porque gosto. Sou pediatra por opção e com convicção. Não me arrependo. Prometi a mim mesma fazer o melhor de mim.

É um deboche numa cidade como o Rio de Janeiro, num estado como o nosso, assistir políticos como o senhor discursarem com a cara mais lavada que este é o momento de deixar de lenga-lenga para salvar vidas.

Que vidas, senhor governador ? Nas UPAs? Tudo de fachada para engabelar o povão!!!  Por amor ao povo o senhor trabalharia pelo que o senhor paga ao médico?

Os médicos não criaram os mosquitos. Os hospitais não estão com problema somente agora. Não faltam especialistas. O que falta é quem queira se sujeitar a triste realidade do médico da SES para tentar resolver emergencialmente a omissão de anos.

A mídia planta terrorismo no coração das mães que desesperadas correm a qualquer sintoma inespecífico para as urgências…

Não há pediatra neste momento que não esteja sobrecarregado. Mesmo na medicina privada há uma grande dificuldade em administrar uma demanda absurda de atendimentos em clínicas, consultórios ou telefones. Todos em pânico.

E aí vem o senhor com a história do lenga-lenga. Acorde, governador ! Hoje o senhor é poder executivo. Esqueça um pouco das fotos com o presidente e com a mãe do PAC, esqueça a escolha do prefeito, esqueça a carinha de bom moço consternado na televisão.

Faça a mudança. Execute. “Lenga-lenga” é não mudar os hospitais e os salários. Quem sabe o senhor poderia trabalhar como voluntário também. Chame a sua família. Venha sentir o stress de uma mãe, não daquelas de pracinha com babá, que o senhor bem conhece, mas daquelas que nem podem faltar ao trabalho para cuidar de um filho doente. Venha preparado porque as pessoas estão armadas, com pouca tolerância, em pânico.


Dra. Ma. Isabel Lepsch

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