Olavo de Carvalho é um sujeito
esquisito
Félix Maier
26 Setembro 2013
E aí, já comprou o livro ou vai
continuar pensando e falando como um idiota?
Acaba de ser lançado no mercado o
livro de Olavo de Carvalho, “O mínimo que você precisa saber para não ser um
idiota”, organizado por Felipe Moura Brasil e lançado pela Record. Como sempre
ocorre com Olavo, a “grande mídia” simplesmente ignorou o fato. Abateu-se sobre
o filósofo o mais estrondoso silêncio.
Apesar do boicote da
intelligentzia tupiniquim, já na primeira semana o livro apareceu em 4º lugar
entre os mais vendidos da lista de Veja – e continua no mesmo patamar três
semanas depois. Assim como é certo ouvir-se a trovoada depois do raio,
esquerdistas invejosos logo lançaram a mentira de que os milhares de livros
vendidos (na primeira semana, foram 10.000) foram comprados por “financiadores”
secretos de Olavo. Este deve ter dado altas gargalhadas, e até perdeu alguns
minutos de seu precioso tempo para dar uma boa resposta aos idiotas que não
leram o livro e, mesmo assim, não gostaram.
A respeito do estrondoso silêncio
da mídia, Olavo esclarece: “Quando não se contentam em baixar sobre os
adversários a mais pesada cortina de silêncio, dedicam-se a difamá-los pelas
costas, inventando a respeito as histórias mais escabrosas, tratando-os como
criminosos, colocando-os em ‘listas de inimigos’ e cumprindo à risca a regra de
Lênin: não discutir com o contestador, mas destruí-lo politicamente,
socialmente e, se possível, fisicamente” (pág. 315 – “O plano e o fato”, Diário
do Comércio, 11/03/2013).
Sim, destruir fisicamente. Após
sofrer ameaças de morte em 1999, Olavo passou uns tempos em Bucareste, a
convite do embaixador brasileiro na Romênia. Depois de ser demitido de vários
jornais e revistas, Olavo hoje é praticamente um asilado político nos EUA, onde
é correspondente do jornal Diário do Comércio, de São Paulo. Outro que deixou o
Brasil foi o evangélico Júlio Severo, devido às ameaças de morte promovidas
pelo movimento gay devido a seu livro “O Movimento Homossexual”.
O livro de Olavo é uma compilação
de importantes artigos, publicados em jornais e revistas, de 1997 a 2013. Os
artigos – melhor dizendo, ensaios e, por que não?, pequenos tratados – estão
reunidos em 25 capítulos temáticos, onde os assuntos, correlatos, se mantêm
coesos e complementares. Como são textos curtos, você pode saboreá-los aos
poucos, como drops, mesmo aleatoriamente.
Passei a admirar Olavo de
Carvalho depois de ler uma reportagem de capa da revista República. Depois de
acompanhá-lo semanalmente na revista Época, escrevi o texto Olavo “Denisovich”
Carvalho. Por isso, é com orgulho que me considero um “olavete”, como alguém já
me chamou. Triste eu ficaria se me chamassem de “emirete” (Emir Sader),
“marilenete” (Tiazinha Chauí), “bagnete” (Marcos Bagno)...
Por que Olavo de Carvalho é um
sujeito esquisito, muito esquisito? Olha só o que ele diz no livro, em “Orgulho
do fracasso”, artigo publicado em
O Globo, 27/12/2003: “Língua, religião e alta cultura são os
únicos componentes de uma nação que podem sobreviver quando ele chega ao
término da sua duração histórica” (pág. 65). Onde já se viu um cara falar em
religião, sem ser padre ou pastor, nestes tempos do politicamente correto, em
que predominam a pregação pagã e os ataques permanentes contra o Cristianismo?
O organizador do livro tem razão:
“Olavo de Carvalho é um homem de fé”. Ele não tem vergonha de falar de Deus, de
São Paulo Apóstolo, do salmista, dos evangelistas, da Bíblia, do Corão, do
Budismo, da espiritualidade. Há quarenta, cinquenta anos, ainda havia
escritores brasileiros importantes que evocavam Deus em suas obras, como Alceu
Amoroso Lima, Gustavo Corção, Austregésilo de Athayde. Qual é o pensador
brasileiro de renome que hoje em dia defende os três domínios que uma nação
deve ter, para atingir seu desenvolvimento pleno, ou seja, a língua, a alta
cultura e a religião?
Continua Olavo: “A Alemanha foi o
foco irradiador da Reforma e em seguida o centro intelectual do mundo – com
Kant, Hegel e Schelling – antes mesmo de constituir-se como nação. Os EUA
tinham três séculos de religião devota e de valiosa cultura literária e
filosófica antes de lançar-se à aventura industrial que os elevou ao cume da
prosperidade. Os escandinavos tiveram santos, filósofos e poetas antes do
carvão e do aço. O poder islâmico, então, foi de alto a baixo criatura da
religião – religião que seria inconcebível se não tivesse encontrado, como
legado da tradição poética, a língua poderosa e sutil em que se registraram os
versículos do Corão. E não é nada alheio ao destino de espanhóis e portugueses,
rapidamente afastados do centro para a periferia da noite para o dia, sem
possuir uma força de iniciativa intelectual equiparável ao poder material
conquistado” (pág. 66).
Olavo finaliza aquele artigo,
resumindo sucintamente o que ocorreu no país do bundalelê, onde a “alta
cultura” é eleger a mulher-tomate, rebolar o traseiro sobre uma garrafa, ver
novela da TV Globo: “Escolhendo o imediato e o material acima de tudo, o povo
brasileiro embotou sua inteligência, estreitou seu horizonte de consciência e
condenou-se à ruína perpétua” (pág. 67).
Segue Olavo: “‘Cultura’, no
Brasil, significa antes de tudo ‘artes e espetáculos – e as artes e
espetáculos, por sua vez, se resumem a três funções: dar um bocado de dinheiro
aos que as produzem, divertir o povão e servir de caixa de ressonância para a
propaganda política... Foi preciso, no festival de Paraty, uma escritora
irlandesa (Edna O’Brien) vir avisar aos brasileiros que Chico Buarque de
Holanda não faz parte da literatura” (pág. 72 – “A fonte da eterna ignorância”,
DC, 27/07/2009). E haja Jabutis literários para os cágados esquerdistas,
jabaculês para a indústria da música, regalos da Lei Rouanet para o cinemaço
nacional.
O desastre não podia ser pior:
“Considerando-se os nossos cinco séculos de história, a extensão física e o
volume populacional deste país, a nulidade da nossa contribuição espiritual
chega a ser um fenômeno espantoso, sem paralelo na história do mundo” (pág. 64
– “Espírito e cultura”, 31/12/1999).
Em “Abaixo o povo brasileiro”,
Olavo volta à carga: “Quando uma vanguarda revolucionária professa defender os
interesses econômicos do povo mas, ao mesmo tempo, despreza a religião, a sua
moral e as suas tradições familiares, é claro que não quer fazer o bem a esse
povo... decidida a atirá-lo à lata de lixo se ele não concordar em remoldar-se
à imagem e semelhança de seus novos mentores e patrões. (...) Jogam ao povo as
migalhas do Bolsa Família, mas se, em troca dessa miséria, ele não passa a
renegar tudo o que ama e a amar tudo o que odeia, se não consente em tornar-se
abortista, gayzista, quotista racial, amante de bandidos, eles o marginalizam”
(pág. 257 - DC, 24/08/2009).
Olavo tem 8 filhos, aos quais deu
um ensino doméstico (homeschooling) de alto nível, que não obteriam nas escolas
tradicionais. Ele afirmou que seu filho mais culto é o que passou menos tempo
na escola. Ele próprio é um autodidata, um filósofo self-made, sem diplomas
acadêmicos. Verdadeiro mestre da lógica, ele sabe utilizar como ninguém as
técnicas da argumentação e da refutação, entremeadas com boa dose de humor e
ironia. Cedo Olavo aprendeu que, se queria obter conhecimento profundo das
coisas, teria que procurar longe dos cursos oferecidos pelas universidades.
E os palavrões de Olavo, que
tanto escandalizam os “stalinistas puritanos” do politicamente correto? “Alguns
ouvintes já entenderam que a linguagem paradoxal do meu programa True Outspeak
– explicações eruditas entremeadas de palavrões grosseiros – é um esforço
barroco, talvez falhado, de sintetizar o insintetizável, de resgatar para a
esfera da alta cultura a fala disforme e quase animal do novo Brasil. Muitos
nem percebem a diferença entre a linguagem tosca e sua imitação caricatural”
(pág. 331 – “O Brasil falante”, DC, 28/02/2011).
Sobre Yoani Sánchez, que disse
que “em Cuba nunca houve comunismo, apenas capitalismo de Estado”, Olavo
transcreve trecho do Manifesto Comunista para desmascarar a blogueira cubana:
“A última etapa da revolução proletária é a constituição do proletariado como
classe dominante... O proletariado servir-se-á da sua dominação política para
arrancar progressivamente todo o capital da burguesia, para centralizar todos
os meios de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado”
(pág. 318 – “Debilidades”, DC, 02/06/2013).
Olavo escreve os textos com uma
vara de marmelo ao lado. Ele não expõe nenhuma pessoa ao ridículo devido a seus
pecados privados, porém não tem medo de apontar nominalmente essa ou aquela
celebridade quando os pecados são públicos e altamente criminosos, camuflados
atrás de conceitos vaporosos como “sociedade”, “grupo social”,
“responsabilidade coletiva” – enfim, a esquerdalhada que só sabe agir em grupo,
lambendo os rabos sujos uns dos outros, como as alcateias de cães selvagens e
os casais swing. Para Olavo, a responsabilidade deve ser sempre individual, não
coletiva, como já havia enunciado em sua obra-prima “O Jardim das Aflições”
(Realizações, 2000, pág. 174): “Se quem dá coices são os cavalos e não a
cavalidade, do mesmo modo quem age é o homem concreto, não a sociedade”.
E por que o gramscismo se
estabeleceu tão amplamente na sociedade brasileira? Olavo não tem meias
palavras ao afirmar que a estratégia adotada pelos militares, especialmente a
teoria de Golbery do Couto e Silva, “o bruxinho que era bom”, de deixar uma
válvula de escape da “panela de pressão” aos esquerdistas, contribuiu
decisivamente para que isso ocorresse. Após 1964, “uma ala mergulhou na leitura
das idiotices de Regis Débray e Che Guevara, torrando suas energias na
‘revolução impossível’ das guerrilhas. Outra, mais esperta, recuou e apostou na
estratégia de longo prazo que propunha ir conquistando o universo inteiro das
artes, do ensino, da cultura, do jornalismo – discretamente, como quem não quer
nada – antes de arriscar a sorte na luta direta contra o inimigo político. O
governo militar, obsediado pelo empenho de reprimir as guerrilhas, não ligou a
mínima para esses empreendimentos pacíficos, aparentemente inofensivos. Fez
vista grossa e até os apoiou como derivativo e alternativa aceitável à oposição
violenta. A ideia gramsciana foi tão bem-sucedida que, já em plena ditadura
militar, a esquerda mandava nas redações, marginalizando os direitistas mais salientes
– Gustavo Corção, Lenildo Tabosa Pessoa – até excluí-los totalmente das colunas
de jornais” (pág. 326-7 – “Da fantasia deprimente à realidade terrível”, DC,
11/09/2006).
Olavo é como o profeta que sobe à
montanha para encontrar o silêncio e meditar sobre si mesmo, antes de discorrer
sobre importantes questões do mundo atual, especialmente as do Brasil, ao mesmo
tempo em que o povaréu, lá embaixo, se esfalfa na esbórnia, em adoração ao
bezerro de ouro. “O reconhecimento interior não é só um exercício de memória,
mas um esforço sério para ampliar a imaginação de modo que possa abarcar mesmo
as possibilidades mais extremas e inusitadas. Você não pode fazer isso se não
se dispõe a descobrir na sua alma monstros, heróis e santos que jamais
suspeitaria encontrar lá” (pág. 401 – “Como ler a Bíblia” – JB, 17/01/2008).
E, como profeta, tem suas
premonições: “Os editoriais escritos pelos srs. Roberto Marinho e Júlio de
Mesquita Filho jamais poderiam ser publicados, hoje, nos próprios jornais que
esses homens fundaram, onde o máximo que se permite, num espacinho minoritário,
é um pouco de liberalismo chocho e inofensivo, quando não a pura crítica de
esquerda a algum desmando ou patifaria mais vistosa do governo petista” (pág.
316 – “O plano e o fato”, DC, 11/03/2013). Isso Olavo escreveu em março, e, no
dia 2 de setembro, cumpriu-se a profecia: a Rede Esgoto de Televisão, no Jornal
Nacional, por meio de William Bonner, veio a público renegar o editorial do
patriarca de O Globo, escrito em 1984, em que tecia elogios aos 20 anos de
governo militar. Hoje, para ser jornalista de O Globo, o sujeito deve
obrigatoriamente ser militante esquerdista.
“Olavo de Carvalho não é para
frouxos” – afirma o organizador do livro na apresentação da obra. E como o
Brasil poderia sair do marasmo em que se encontra? Olavo dá uma pista, o
esquisito Olavo, mais uma vez discorrendo sobre espiritualidade: “Lutar para
que a cultura brasileira se ligue às fontes centrais e permanentes do
conhecimento espiritual, para que a experiência da visão espiritual ingresse no
nosso horizonte de aspirações humanas e, uma vez obtida, faça explodir, com a
força das intuições originárias, todo um mundo de formas imitativas e
periféricas, gerando uma nova vida” (pág. 64 – “Espírito e Cultura”,
31/12/1999).
Na obra, não podia faltar uma
abordagem sobre a “língua de pau” do politicamente correto, que tem a
finalidade de distorcer e congelar certas expressões linguísticas, de modo que
tenham apenas o significado da ideologia socialista. (Para Olavo, “ideologia é
a prostituição da inteligência” – pág. 448 – “Conversa sobre estilo” –
28/04/2000.) “O termo ‘fascismo’, que cientificamente compreendido se aplica
com bastante propriedade a muitos governos esquerdistas do terceiro mundo, é
usado pela esquerda como rótulo infamante para denegrir ideias tão estranhas ao
fascismo como a liberdade de mercado, o antiabortismo ou o ódio popular ao
mensalão” (pág. 434 – “A palavra-gatilho”, DC, 08/06/2012).
No livro, Olavo lembra também a
“espiral do silêncio”, que acovardou os líderes da Igreja Católica nos dois
últimos séculos: “Trata-se de extinguir, na alma do inimigo, não só uma
disposição guerreira, mas até sua vontade de argumentar em defesa própria, seu
mero impulso de dizer umas tímidas palavrinhas contra o agressor... Calar-se
ante o atacante desonesto é uma atitude tão suicida quanto tentar rebater suas
acusações em termos ‘elevados’, conferindo-lhe uma dignidade que não tem. As
duas coisas jogam você direto na voragem da ‘espiral do silêncio’. A Igreja do
século XVIII cometeu esses dois erros como a Igreja de hoje os está cometendo
de novo” (pág. 416-18 – “Maquiadores do crime – DC, 20/09/2010).
Enfim, isso e muitíssimo mais é
exposto no livro do Olavo, que é um convite para que todos nós nos modifiquemos
primeiro por dentro para depois tentar modificar o que está em volta. E aí, já comprou o
livro ou vai continuar pensando e falando como um idiota?
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA
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