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NO BRASIL, PEDIDO DE CENSURA. EM ALGUNS PAÍSES
VIOLÊNCIA EXTREMA. |
Leio, incrédulo, que o Poder Judiciário de SP (TJ-SP) concedeu liminar determinando ao site YouTube a retirada de vídeos que contenham cenas do filme “Inocência dos Muçulmanos”.
O pedido partiu da União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI). Essa decisão judicial, apesar de advinda do Judiciário, por óbvio, fere frontalmente a nossa Constituição. É uma temeridade quando juízes tentam fazer ou refazer as leis.
Parece que passamos por um período onde todo mundo fala de liberdade, mas quando ela é exercida pelo outro, sacamos logo de nossa espada de cortar línguas, ou pescoços.
O deputado federal Protógenes Queiroz (PC do B – SP) não gostou do filme do urso Ted e logo postou nota no Twitter pela censura ao filme. Não vi o filme. Não o assistirei. Foi isso que aprendi com meus pais.
O deputado federal José Guimarães (PT-CE) é notícia outra vez, mas agora por insistir em que a “mídia” (assim a imprensa é chamada pelos esquerdistas) deve ser controlada. Não sei bem em que o nobre deputado pensa quando fala em controle. Penso que, sendo ele deputado, deva conhecer bem a Constituição do pais pelo qual cumpre mandato.
Notem, leitores, ambos são deputados federais. Legisladores. Precisam fazer a lição de casa. Ou não?
IRMÃOS ISLÂMICOS
Como brasileiro tenho algumas ponderações aos irmãos brasileiros da UNI.
Não seria melhor organizar uma marcha contra o filme? Não seria melhor publicar textos com a sua desaprovação ao filme? Não seria melhor pedirem para que os islâmicos ou qualquer outro cidadão não vissem o filme? Eu atenderia prontamente ao chamado.
O filme é mesmo amador e mal feito, verdadeiramente “trash”, mas poderia ser uma superprodução de Hollywood. Isso não faz diferença. De qualquer maneira, não faz sentido proibir que seja visto.
Mesmo porque nenhuma parcela da sociedade tem o direito de vetar o acesso aos outros segmentos da sociedade a qualquer coisa. Usar os próprios valores como filtro e não ver o filme ou pedir que os outros não o vejam é muito diferente, em termos de princípio, que impedir que os outros o vejam.
Aí está toda a diferença entre uma visão de sociedade livre e outra de um conjunto autoritário ou totalitário. Estamos no Brasil, país plural, não no Irã, por exemplo, onde os aiatolás decidem o que o povo pode ou não ver. E se o povo iraniano aceita isso, ótimo, faz parte de seus valores. E é preciso notar que lá quase não há membros de outras religiões. Mas aqui temos uma Constituição muito clara; e ela deveria ser respeitada.
Por exemplo, se eu não concordo com verdades contidas no Corão, não as levo em conta. Não saio por aí pedindo que a Justiça recolha os volumes existentes ou proíba a sua impressão ou a venda.
Informo que tenho o Corão. Tenho a Bíblia. Tenho o Livro Vermelho de Mão Tse Tung. Tenho o Livro Verde de Kadafi. Já li Mein Kampf e O Capital. E os li, realmente.
Sou, como milhões de brasileiros, de origem cristã, católica, mas nunca passou pela minha cabeça, pois fui educado para viver em uma sociedade livre, pluralista e democrática, censurar algum livro, um filme, uma música, uma escultura, uma charge, uma pintura, uma peça de teatro, ou um livro de filosofia ou religião, por exemplo, por mais que me desagradasse ou parecesse ofensivo.
Nem me passaria pela cabeça pagar um prêmio em dinheiro para que alguém fosse morto por haver dirigido um filme, por pior e mais mentiroso que fosse.
Abro exceção apenas para o caso de crimes; mas para tais casos existe exatamente a Justiça e o Código Penal.
QUANDO SOMOS FORTES
Somos fortes quando aprendemos a respeitar os outros, mesmo aqueles que aparentemente não nos respeitam. Reprovo que um diretor de um filme seja morto, em nome da religião, como aconteceu com o holandês Theo Van Gogh.
Reprovo que um escritor seja perseguido, e tenha sua cabeça posta a prêmio, por haver escrito um livro que não foi bem recebido por religiosos conservadores. Falo de Salman Rushdie.
Não concordo que seja necessário tentar matar alguém que faz uma charge em jornal como o desenhista dinamarquês Kurt Westergaard.
Não concordo quando um ministro de estado, como o de Ferrovias do Paquistão, oferece 100 mil dólares para que matem o diretor do filme “Innocence of Muslims” .
Esse ministro deveria envergonhar os verdadeiros islâmicos e reprovado publicamente aqui no Brasil. Ou não?
Confesso que esperaria mais abertura de uma comunidade como a islâmica do Brasil. Não o apelo à censura, mesmo porque a Constituição diz que ela não existe no nosso País.
Li sobre a manifestação que fizeram sobre o filme no Sul. Isso teria sido o suficiente para marcar uma posição. O recado foi dado. Ao pedirem a censura do filme agem como se fossem meus mestres, meus guias, meus tutores, ou do conjunto da população brasileira. Não são.
Impedem que os outros vejam por si mesmos o que quiserem.
É pela educação que vocês devem fortalecer seus filhos. Que eles adotem seus valores religiosos. Qual o problema? Nenhum. O Brasil é um país plural, mestiço, onde etnias e credos se fundiram. Mas não impeçam os demais membros da sociedade de fazerem seu próprio julgamento.
O pedido de censura é como queimar livros em praça pública. Apenas não faz fumaça. Aprendi com meu pai aquela diretriz: “defenda a liberdade do outro exprimir seu pensamento, mesmo que isso custe a sua própria vida”.
A fortaleza não está em erguer muros e mordaças, mas em construir vontades firmes.
Vontades firmes não podem ser quebradas por filmes vagabundos. O demônio atenta sempre. Não tenham medo de enfrentar o demônio.
Ficaria muito feliz se voltassem atrás no pedido feito à Justiça.
Ficaria muito feliz em juntar forças com vocês e dizer aos outros brasileiros: “Não assistam Inocência dos Muçulmanos, é um lixo, um filme vagabundo e mentiroso”.
Ficaria muito feliz de saber que a comunidade islâmica do Brasil não precisa de uma censura espúria (mesmo que decretada pela Justiça) para enfrentar aquilo de que não gostam.
Obrigado
Gutenberg J.
IMAGEM:
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