Oito anos: segunda carta à
presidente Dilma Rousseff
Milton Simon Pires
9 Julho 2013
Excelentíssima Senhora Presidente
da República.
Já nos conhecemos, a senhora e eu. Dessa vez, portanto, não vai haver apresentação. Vou começar lembrando à senhora algumas curiosidades.
Oito anos é atualmente o tempo máximo de mandato de presidente da república, não é ? Oito anos, presidente, se não estou enganado, é também o tempo limite para que uma pena de prisão em regime fechado possa ser convertida em semiaberto (apreendi isso assistindo na TV o julgamento de alguns conhecidos seus na Ação Penal 470) e por aí vai.
Enfim, presidente, oito é um número aplicável a tantas coisas... Na China se costuma dizer que oito é o número da sorte. Mas hoje vai ser o do seu azar. Explico-lhe brevemente o porquê:
Hoje à tarde, li perplexo na internet as notícias que dão conta do lançamento do seu Programa “Mais Médicos”. Não vou aqui gastar seu tempo detalhando um por um os aspectos dele. Nosso tema aqui, presidente, é bem específico – nós vamos falar do aumento do tempo da formação médica de seis para oito anos obrigando-nos a prestar dois anos de serviço no SUS antes de receber reconhecimento oficial como médicos.
Presidente Dilma, a senhora sabe o que são “doutorandos” e médicos “residentes”? Não sabe, não é? Lá vai a explicação: doutorandos são, normalmente, estudantes no ultimo dos seis anos da tradicional formação médica que a senhora e os gênios que lhe assessoram querem mudar.
Médicos residentes já se formaram – tem responsabilidade legal e, trabalhando sob supervisão de colegas mais experientes, fazem uma determinada especialização. A senhora sabe o que eles têm em comum, presidente? Eu lhe respondo: eles “carregam nas costas os hospitais universitários brasileiros”. Eles, para sua informação, já trabalham, na sua gigantesca maioria, em hospitais públicos ou vinculados ao seu maravilhoso Sistema Único de Saúde!
São eles que atendem a gigantesca massa daqueles que a senhora e seus correligionários do Partido-Religião chamam de “usuários” e nós chamamos de pacientes.
Enquanto eles estão dentro de hospitais públicos com teto e paredes desmoronando nos ambulatórios, enfermarias e blocos cirúrgicos, a senhora e o Lula são atendidos por outros médicos dentro, por exemplo, do Hospital Sírio Libanês.
Alguns desses colegas que atendem a senhora e nosso ex-presidente deveriam estar junto com os doutorandos e residentes supervisionando a sua formação como médicos e especialistas. A senhora sabia disso, presidente?
Mas, por favor, não quero lhe constranger. Vamos dizer que essa sua medida desesperada para se reeleger seja realmente implantada. Gostaria de tirar com a senhora algumas dúvidas: tem a senhora noção de que a rede hospitalar brasileira inteira está completamente sucateada, presidente?
Já nos conhecemos, a senhora e eu. Dessa vez, portanto, não vai haver apresentação. Vou começar lembrando à senhora algumas curiosidades.
Oito anos é atualmente o tempo máximo de mandato de presidente da república, não é ? Oito anos, presidente, se não estou enganado, é também o tempo limite para que uma pena de prisão em regime fechado possa ser convertida em semiaberto (apreendi isso assistindo na TV o julgamento de alguns conhecidos seus na Ação Penal 470) e por aí vai.
Enfim, presidente, oito é um número aplicável a tantas coisas... Na China se costuma dizer que oito é o número da sorte. Mas hoje vai ser o do seu azar. Explico-lhe brevemente o porquê:
Hoje à tarde, li perplexo na internet as notícias que dão conta do lançamento do seu Programa “Mais Médicos”. Não vou aqui gastar seu tempo detalhando um por um os aspectos dele. Nosso tema aqui, presidente, é bem específico – nós vamos falar do aumento do tempo da formação médica de seis para oito anos obrigando-nos a prestar dois anos de serviço no SUS antes de receber reconhecimento oficial como médicos.
Presidente Dilma, a senhora sabe o que são “doutorandos” e médicos “residentes”? Não sabe, não é? Lá vai a explicação: doutorandos são, normalmente, estudantes no ultimo dos seis anos da tradicional formação médica que a senhora e os gênios que lhe assessoram querem mudar.
Médicos residentes já se formaram – tem responsabilidade legal e, trabalhando sob supervisão de colegas mais experientes, fazem uma determinada especialização. A senhora sabe o que eles têm em comum, presidente? Eu lhe respondo: eles “carregam nas costas os hospitais universitários brasileiros”. Eles, para sua informação, já trabalham, na sua gigantesca maioria, em hospitais públicos ou vinculados ao seu maravilhoso Sistema Único de Saúde!
São eles que atendem a gigantesca massa daqueles que a senhora e seus correligionários do Partido-Religião chamam de “usuários” e nós chamamos de pacientes.
Enquanto eles estão dentro de hospitais públicos com teto e paredes desmoronando nos ambulatórios, enfermarias e blocos cirúrgicos, a senhora e o Lula são atendidos por outros médicos dentro, por exemplo, do Hospital Sírio Libanês.
Alguns desses colegas que atendem a senhora e nosso ex-presidente deveriam estar junto com os doutorandos e residentes supervisionando a sua formação como médicos e especialistas. A senhora sabia disso, presidente?
Mas, por favor, não quero lhe constranger. Vamos dizer que essa sua medida desesperada para se reeleger seja realmente implantada. Gostaria de tirar com a senhora algumas dúvidas: tem a senhora noção de que a rede hospitalar brasileira inteira está completamente sucateada, presidente?
Sabe por quê? Porque malditos colegas meus e seus
ajudaram a transformar um país que tem quase o tamanho da China num gigantesco
posto de saúde! Diga de uma vez por todas isso ao povo, presidente Dilma.
Mesmo que a senhora “derrame” 12 mil médicos dentro do SUS de uma hora para outra, eu lhe pergunto – Onde e em que condições eles vão trabalhar? Dentro dos famosos pronto-atendimentos? A senhora sabe o que é um pronto-atendimento, presidente? Eu lhe explico: é um lugar onde se atende tudo aquilo que não é suficientemente grave e deveria estar num posto de saúde ou é tão sério que deveria estar dentro de uma emergência de verdade!
Sabe por que esse tipo de imundície foi inventado? Para esconder que não existem mais hospitais nesse maldito país. Seu antecessor, que nos anos 70 perdeu esposa e filho num hospital público preferiu emprestar dinheiro para Cuba, perdoar a dívida da Bolívia e comprar deputados no Congresso Nacional em vez de construir hospitais!
Nas últimas duas semanas, presidente, a senhora propôs ao povo brasileiro um plebiscito, depois um referendo e agora – sempre maravilhosamente assessorada – vem com um absurdo que nem mesmo a ditadura militar quis impor: estender o tempo de formação dos médicos brasileiros por razões ligadas ao fracasso do plano de poder do PT.
Presidente, cada vez que lhe escrevo fico dividido. Não sei se expresso a indignação de quase 400 mil médicos brasileiros ou se fico com pena da senhora. Até quando vai esse seu desgoverno? Até onde a senhora acha que pode enganar tanta gente durante tanto tempo?
Afaste-se imediatamente dessa corja de colegas MEUS que lhe assessora, que esqueceram que são médicos, e que depois de formados jamais atenderam ninguém no sistema público. Se a senhora não fizer isso, vai apreender de uma maneira dolorosa que políticos podem ter partido; podem ser liberais ou democratas, progressistas ou conservadores; podem até ser ditadores, mas jamais vão ter poder suficiente para aliviar a dor ou evitar a morte.
Essa função é nossa e, dia após dia, cada vez mais a senhora vem nos impedindo de exercê-la.
Porto Alegre, 8 de julho de 2013
Mesmo que a senhora “derrame” 12 mil médicos dentro do SUS de uma hora para outra, eu lhe pergunto – Onde e em que condições eles vão trabalhar? Dentro dos famosos pronto-atendimentos? A senhora sabe o que é um pronto-atendimento, presidente? Eu lhe explico: é um lugar onde se atende tudo aquilo que não é suficientemente grave e deveria estar num posto de saúde ou é tão sério que deveria estar dentro de uma emergência de verdade!
Sabe por que esse tipo de imundície foi inventado? Para esconder que não existem mais hospitais nesse maldito país. Seu antecessor, que nos anos 70 perdeu esposa e filho num hospital público preferiu emprestar dinheiro para Cuba, perdoar a dívida da Bolívia e comprar deputados no Congresso Nacional em vez de construir hospitais!
Nas últimas duas semanas, presidente, a senhora propôs ao povo brasileiro um plebiscito, depois um referendo e agora – sempre maravilhosamente assessorada – vem com um absurdo que nem mesmo a ditadura militar quis impor: estender o tempo de formação dos médicos brasileiros por razões ligadas ao fracasso do plano de poder do PT.
Presidente, cada vez que lhe escrevo fico dividido. Não sei se expresso a indignação de quase 400 mil médicos brasileiros ou se fico com pena da senhora. Até quando vai esse seu desgoverno? Até onde a senhora acha que pode enganar tanta gente durante tanto tempo?
Afaste-se imediatamente dessa corja de colegas MEUS que lhe assessora, que esqueceram que são médicos, e que depois de formados jamais atenderam ninguém no sistema público. Se a senhora não fizer isso, vai apreender de uma maneira dolorosa que políticos podem ter partido; podem ser liberais ou democratas, progressistas ou conservadores; podem até ser ditadores, mas jamais vão ter poder suficiente para aliviar a dor ou evitar a morte.
Essa função é nossa e, dia após dia, cada vez mais a senhora vem nos impedindo de exercê-la.
Porto Alegre, 8 de julho de 2013
Milton Simon Pires é médico
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA
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