Alguns dias após o início das manifestações em todo o Brasil o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) emitiu uma análise, que considerou provisória sobre os episódios. É razoável, mas mostra como pensam os políticos e como se equivocam em alguns aspectos sobre o que está acontecendo.
A principal omissão de sua análise é que parece aceitar que as pessoas queiram mais e mais direitos e menos corrupção, mas ele não questiona o fato do Estado avançar sobre a vida das pessoas. Uma segurança que custará a iberdade dos cidadãos. Sim,queremos melhor educação, melhor saúde e melhor transporte, mas menos estado intrometendo-se na nossa vida privada, na vida da família, nas nossas escolhas.
Tais questões nem são colocadas. Aceita-se como natural um estado protetor (típico do Wellfare), mas que cobra o pedágio sobre a nossa liberdade.
Gutenberg J.
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Os mascarados "pacíficos" |
Por Marcus Pestana (azul) - o blog (vermelho)
Ainda não é possível antever a
intensidade das mobilizações de rua no futuro próximo. Mas uma coisa é certa, o
Brasil não será mais o mesmo. Em meio a perplexidades e temores despertados,
algumas conclusões preliminares são possíveis:
1) As redes sociais vieram para
ficar. No Brasil, ainda parecia distante da realidade o protagonismo do
Facebook ou do Twitter na vida social e política.
Esta parece ser uma ilusão do
deputado sobre o “poder” das redes, a mesma ilusão que alimentou os
propagandistas da chamada Primavera Árabe; não foram as redes que produziram a
Primavera, foi a insatisfação do povo com a realidade econômica, política e
religiosa daqueles países; mais uma indução de bastidores encorajando os movimentos
para que movimentos radicais religiosos lucrassem ao final. O mesmo se deu no
Brasil. Nada começou de forma espontânea, e não foi por acaso que tudo começou
pelo Estado de São Paulo, o alvo predileto dos petistas e suas extensões
radicais de esquerda.
2) Índices de popularidade e
aprovação de governo são provisórios e relativos. As manifestações mostraram
que nem tudo vai bem, nem tudo é céu de brigadeiro, ao contrário da propaganda
apologética e unilateral do governo.
Como nem tudo vai bem em diversos
campos, a população impactada pelo primeiro movimento em São Paulo foi à rua em vários
estados, por uma forma de comportamento mimético, de forma difusa, vaga,
imprecisa. Não havia um alvo específico, como no caso da redução das tarifas
aumentadas por Fernando Haddad. Os brasileiros, no geral, agiram como se
tivessem sofrido uma série de espasmos incontroláveis. As cenas de violência e
destruição, ao contrário do que todos imaginam, não foram gratuitas e coisas de
vândalos isolados.
3) Instituições e lideranças são movidas pela
intensidade da participação social. Todos se movimentaram em resposta às ruas.
Dilma tentou recuperar a iniciativa política, vestindo o figurino de estadista,
coisa que não fez em dois anos e meio de governo, gerando vácuo de liderança e
utopia. O Congresso derrotou a PEC 37, caracterizou como crime hediondo a
corrupção e destinou os royalties para educação e saúde. O Supremo decretou a
prisão de um deputado federal.
Neste caso, as autoridades mostraram total despreparo quando
sob pressão violenta. Se as passeatas e marchas fossem desde o início pacíficas,
dentro dos roteiros autorizados, não teria havido violência. Sem a violência as
autoridades não teriam cedido de imediato às exigências. A violência fazia
parte de um plano, não foi coisa de vândalos isolados. Quem entende um mínimo
de ações de terror (basta ler o Mini Manual de Guerrilha Urbana do Carlos Marighela)
saberá de que estou falando. Evidentemente houve atos de vandalismo praticados
por ladrões e vagabundos comuns, mas a violência faz parte da estratégia geral.
Basta ver a ação violenta de anarquistas em Porto Alegre,
pregando, inclusive a luta armada (Zero Hora).
4) A esmagadora maioria é contra o vandalismo,
o banditismo e a violência como arma política. É preciso tolerância zero contra
a barbárie.
Esta é uma derrapada do deputado. É
óbvio que a maioria da população é pacífica – de modo geral. Mas as massas, em espamos de protestos, caiam em generalidades. Nada
foi específico, focadoem algo para uma solução como no caso dos R$0,20 de São
Paulo.
Falou-se em corrupção, violência,
educação, saúde e Copa do Mundo. Ninguém sabia da Copa e seus gastos desde anos
atrás? Foi surpresa para a população?
5) A democracia representativa
precisa ser recheada com alta dose de participação popular. A sociedade
contemporânea é fragmentada e multifacetada. A democracia direta é impossível,
a exclusivamente representativa se esgotou e é insuficiente.
Esta é outra bobagem do nobre
deputado. Na França, Alemanha, Inglaterra, Espanha houve fortes movimentos no últimos
anos, alguns deles com o uso das redes sociais. Ne nhum daqueles países pensou
em mudar as regras da democracia. Democracia direta é asnice totalitária e
dizer que a representativa se esgotou é quase absurdo. Os políticos é que
deveriam estar mais perto da população e evitar gastos exagerados, nababescos, prevenir
ações de corrupção, ter responsabilidade fiscal, mais vergonha na cara, etc...
6) É preciso atualizar a
discussão sobre direitos e deveres entre cidadãos de uma mesma comunidade. O
direito de manifestação livre e pacífica é sagrado, mas não é maior do que o
direito de o cidadão ir livremente da casa para o trabalho e vice-versa.
O deputado chega a ser inocente
neste caso. A Constituição de 1988 promete o paraíso aqui na terra. A única
coisa que resulta de sua leitura é a de que todos os brasileiros têm milhares
de direitos, nascendo credores de uma imensa dívida estatal de obrigações e
benefícios. Ninguém explica como o país entrará nessa era de bonança e fartura.
A geração que tem 20 anos acredita que tem todos os direitos, sem obrigações. A
constituição criou o Estado de Bem Estar (Wellfare State) onde havia uma miséria
endêmica. Desse modo, as leis criam invejosos e revoltados. Deu no que deu.
Ninguém tem a mínima noção de como funciona a economia; ninguém sabe que
governo não fabrica dinheiro e que as
coisas não funcionam aos saltos.
7) A democracia demanda
segurança. As forças policiais têm um papel essencial para assegurar a
liberdade e a ordem constitucional. Não vivemos mais uma ditadura. Não podemos
glamourizar vândalos e demonizar policiais.
Neste ponto o deputado está
certo, mas a glamourização da bandidagem, da transgressão, foi cultivada no
Brasil pela esquerda mesmo que se diz em busca de uma tal justiça social (um
animal que não existe). Aqui os bandidos seriam injustiçados pelo sistema econômico
cruel, agindo contra os ricos e a classe média maldosos. Um enredo vagabundo
que foi comprado pelos artistas de TV, escritores, cineastas e professores
universitários. Falar em crime, erro,
pecado é considerado um absurdo. De tal forma criou-se a cultura da bandidagem,
com a demonização da polícia (como se houvesse um ranç da ditadura), da lei e
da ordem.
8) Ninguém tem o monopólio da verdade e das boas
intenções. Houve um recado geral, concentrado, é claro, no Governo Federal, mas
que foi também para todos os partidos, atores políticos e instituições.
Claro, há muita indignação,
apesar da vaguidão dos protestos, contra as diferenças entre o discurso e a prática
dos políticos. A população percebe que os políticos, de modo geral, são quase
parasitas, descuidando de tratar realmente dos problemas existentes nos
diversos campos. Tudo envolve corrupção, comissões, propina e sacanagem. Não
passa desapercebido.
9) Não bastam renda e emprego.
Qualidade de vida foi o centro das manifestações. Qualidade na saúde, na
educação, no transporte coletivo. Prioridade social efetiva nos gastos
públicos. Menos estádios e trens-balas, mais escolas, mobilidade urbana e
hospitais.
A população, creio, teve uma cota
exagerada de propaganda enganosa nestas administrações do PT. O país avançou
por contada manutenção da política econômica anterior e do sucesso do Plano
Real. Lula teve a esperteza de criticar o antecessor mantendo tudo o que ele
fizera e funcionava. Se alguém espremer as obras petistas verá – e foi isso que
enfureceu o povo – que não há obra alguma. Só propaganda, jactância vazia,
bravatas lulísticas, distribuição de bolas e dinheiro, Mensalão e uma fome
imensa de comprometer todos os partidos para chegar ao poder absoluto. Só isso.
10) A demagogia e o populismo não
são o caminho. Não podemos jogar fora o senso de responsabilidade fiscal e de
equidade social nas políticas públicas e nas estratégias de fixação de tarifas
e subsídios, que duramente conquistamos. São conclusões provisórias. E é melhor
aprender com o sambista: “Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro,
leva o barco devagar.”
O item 10 remete ao item 9. O PT
foi contra o Real, depois percebendo a estabilidade aproveitou-se dele; o PT
era pela ética e foi contra a responsabilidade fiscal; foi contra bolsas e,
depois Lula que disse que bolsas deixavam o povo vagabundo (procure vídeos no
Youtube), aumentou as bolsas aos milhares, obtendo votos. O brasileiro foi às
ruas protestar, mas parece não ter noção de economia, de direitos e obrigações.
Foi construída uma fantasia constitucional de que todos temos centenas de
direitos, apenas, e que basta abrir algumas torneiras e o dinheiro jorrará.
Somos um povo bastante
infantilizado.
Com estes adendos, talvez a
análise não conclusiva do deputado Pestana seja razoável.
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