Confesso que me diverti muito ao ver a expressão de surpresa de José Genoíno (PT), hoje um dos quadrilheiros condenados à cadeia, pelo STF, por conta do Mensalão. O Mensalão foi denunciado em 2005, e a torta no rosto é um episódio de 2003, em um hotel de Porto Alegre, onde ele defendia Lula por conta de sua presença em Davos. Na ocasião a imprensa não falou quase nada sobre o acontecido.
Imagino o susto do ex-guerrilheiro. Se ele teve um flash-back de seus tempos de Araguaia (de onde saiu preso pelo Exército) poderia imaginar que não teria escapado caso a torta de chantili com morango fosse uma bomba de verdade.
Surpresa. Pegar alguém absolutamente desprevenido, qualquer um. Esse é o princípio básico do terrorismo. O que aconteceu com Genoíno, e ele pode rir aliviado ao final, jamais aconteceu com as vítimas dos grupos de terror aqui no Brasil que hoje mentem sobre o que fizeram nos chamados anos de chumbo.
Cento e dezenove brasileiros morreram nos ataques terroristas. E grupos como aqueles em que militou, ou os de Dilma Rousseff (ela diz que nunca foi além de gerenciar a logística. O que seria logística em um grupo terrorista?) não jogavam bombas de chantili.
Suas vítimas morriam, e os seus familiares nunca mais puderam sorrir como Genoíno depois do susto.
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Deu bolo. Como protesto pela ida
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Davos (Suíça), uma manifestante de um
movimento que se autodenomina Confeiteiros sem Fronteiras jogou uma torta de
morango com chantilly no rosto do presidente nacional do PT, José Genoino. A manifestante estava acompanhada
de dois jovens, um deles com uma câmera digital para registrar a ação.
Quando Genoino respondia sobre a forma como o PT quer interferir no debate internacional, ela abaixou-se e tirou a torta de uma bolsa. Rapidamente, levantou-se e foi em direção a Genoino, que estava de terno, sentado. Lançou a torta no rosto do petista e disse: "Lula não representa a gente em Davos. As pessoas das ONGs, nas ruas, representam".
Quando Genoino respondia sobre a forma como o PT quer interferir no debate internacional, ela abaixou-se e tirou a torta de uma bolsa. Rapidamente, levantou-se e foi em direção a Genoino, que estava de terno, sentado. Lançou a torta no rosto do petista e disse: "Lula não representa a gente em Davos. As pessoas das ONGs, nas ruas, representam".
"Calma, pessoal", foi a reação imediata de Genoino, com a face inteiramente coberta pelo chantilly. A jovem, de óculos e cabelos curtos, aparentando entre 25 e 30 anos e portadora de uma credencial de "imprensa alternativa", desceu correndo quatro andares pela escada e tomou um táxi na porta do hotel, recusando-se a se identificar para os jornalistas.
Havia 37 pessoas na sala do quarto andar do Hotel Sheraton, em Porto Alegre. A manifestante estava sentada na segunda fila de cadeiras, a cerca de três metros da mesa em que estavam Genoino e os secretários municipais de Porto Alegre Gerson Almeida (Governo) e Adeli Sell (Produção Industrial e Comércio).
O presidente do PT havia acabado de participar de debate no estádio do Gigantinho, onde acompanhou por meio de telões o discurso de Lula no Fórum Econômico Mundial. Convocou a entrevista coletiva para comentar a proposta levada pelo petista a Davos. Havia falado por cerca de 30 minutos. Às 13h40, recebeu a torta de morango no rosto.
Na sala, antes da fuga, os manifestante deixaram uma nota: "Repudiamos a confusão promovida pelo Partido dos Trabalhadores, que quer fazer crer que o nosso movimento, o movimento dos movimentos, pode ser representado ou encarnado em algum tipo de governo. Nós, confeiteiros, viemos a público dizer que a onda que levou à eleição do PT não é, de forma nenhuma, a mesma da ascensão do movimento contra a globalização capitalista".
O texto se refere à afirmação de Lula de que levaria a mensagem de Porto Alegre a Davos. "Nosso movimento não tem líderes ou representantes. Ninguém pode falar em nosso nome. Se alguém em Davos "representa" o movimento, somos sós mesmos, os milhares que ocupamos as ruas de Genebra em protesto contra a reunião de banqueiros, empresários e governantes, que o PT legitimou."
A nota critica o partido e afirma que Genoino foi saudado "no espírito de Larry, Curly e Moe", personagens da série de televisão norte-americana "Os Três Patetas", criada há 75 anos. "A esperança de mudança que trazemos não pode uma vez mais ser cooptada e frustrada por políticos e partidos políticos que querem se promover às nossas custas. Desta vez, vamos fazer as coisas de maneira diferente.
"Que se vayan todos!" Um mundo sem líderes é possível", conclui a nota.
A frase em espanhol, que quer dizer algo como "que partam todos", foi o lema das manifestações públicas na crise política argentina de 2001 e 2002.
Após tirar o paletó e ter limpado o rosto, com a ajuda da mulher, Rioco Kayano, Genoino prosseguiu a entrevista. "Um aventureirismo. Felizmente o PT não tem nada a ver com essas manifestações de anarquia, inconsequência. Esse tipo de coisa prepara as condições para a vitória que eles estão contestando. Sinto-me honrado por ter sido agredido por defender a presença de Lula em Davos", rebateu.
VIDEO: GENOINO LEVA TORTA NA CARA