Qual o motivo especial que obrigou o Brasil a ser a sede da Coa de 2014 e das Olimpíadas de 2016? Creio que, do ponto de vista racional, nenhum. O Brasil, apesar da visão distorcida e megalomaníaca do sr.Luiz Inácio Lula da Silva, que o colocou no centro da história do Brasil, como um tipo de inventor mesmo da Pátria, não tinha motivos ou recursos para se meter nessa empreitada.
Mas como perder a oportunidade de deixar uma marca para o futuro. No país do nunca antes, nunca um presidente havia trazido uma Copa e uma Olimpíada para cá, pois não? Dinheiro? Isso não é problema, temos o Pré-sal.
O Pré-sal é a varinha de condão manejada por Lula para enfiar o Brasil nessas entaladelas. Os caipiras diriam que Lula e o seu partido, o PT, usaram a Copa e a Olimpíada como alavanca para mexer com orgulho dos brasileiros. Na verdade, como temos visto nos protestos, parece que parte do povo sabe que não temos todo esse dinheiro.
A Petrobras vai bem mal das pernas, a dívida púbica só aumenta, a indústrias perdem produção, as importações aumentaram, a inflação cresce, e o governo, via BNDES financia todas as empresas que se meteram na construção das arenas da Copa. E o que acontecerão a todas essas arenas depois de prontas?
Sei lá, Brasília pode sugerir ao Congresso a mudança do nome do País, pois circos teremos vários, talvez fique faltando o pão.
Como o povo não é besta, percebeu o desperdício. Mas com um pouco de atraso, não é mesmo? Pois o governo vem falando nisso há anos, e ninguém havia feito qualquer crítica mais pesada.
Talvez fosse o nosso eterno ufanismo. Agora que a poeira baixou um pouco, com as dificuldades na Economia, os brasileiros se tocaram de que não havia tanto dinheiro assim, e que o povo é que pagará a conta ao final.
É sempre assim, cidadãos, porque governo nenhum tem dinheiro. O povo é que lhe dá com o seu suor.
GUTENBERG J.
XXXXX
DO OUTRO LADO DA FUMAÇA, O PAÍS DA FIFA. |
A COPA DE LULA
Demétrio Magnoli
Todos podem protestar em todos os
lugares — exceto nas imediações das sagradas arenas da Copa das Confederações.
Essa foi a mensagem enviada pelas autoridades na “semana quente” das
manifestações populares.
Sem intervenção policial,
manifestantes cercaram palácios e interromperam vias expressas. Em São Paulo, o eixo
sensível da Avenida Paulista, onde se concentram os hospitais, foi liberado
para os protestos.
Contudo, nas cidades-sede do
evento, batalhões de choque delimitaram um “perímetro de segurança nacional” e
atacaram manifestantes pacíficos que tentavam ultrapassá-lo.
A regra do protesto ilimitado
excluiu os “territórios internacionais” sob controle efetivo da Fifa. Nunca,
numa democracia, um governo nacional se curvou tão completamente a uma potência
externa desarmada.
A bolha policial de isolamento
dos estádios estendeu-se por dois a três quilômetros. Não se tratava de
assegurar o acesso de torcedores às arenas, mas de impedir que as marcas dos
protestos ficassem impressas sobre as marcas da Fifa e das empresas
patrocinadoras.
“A condição prévia para a Copa é
a cessão temporária da soberania nacional à Fifa, que assume funções de governo
interventor por meio do seu Comitê Local.” Nesse espaço, dois anos atrás, Adriano
Lucchesi e eu definimos a Copa do Mundo de 2014 como uma “festa macabra”
justificada pela “lógica perversa do neopatriotismo”.
Não fomos os únicos, nem os
primeiros. O jornalista Juca Kfouri deplorou o triunfo dos bons companheiros
Lula da Silva e Ricardo Teixeira na hora da escolha do Brasil como sede do
megaevento de negócios travestido de competição esportiva.
O ex-jogador Romário honrou seu
mandato parlamentar denunciando sistematicamente a farra de desvio de dinheiro
público, que ainda faz seu curso. “A Fifa é o verdadeiro presidente do Brasil
hoje”, explicou com a precisão e simplicidade de que carecem tantos doutos
cientistas políticos.
Mas a rapinagem dos piratas ficou
longe da mira dos partidos de oposição, que preferiram ocupar assentos periféricos
na nave da Copa, compartilhando dos brindes erguidos em convescotes de
autoridades, empresários e cartolas. Alguém aí está surpreso com a aversão dos
manifestantes ao conjunto de nossa elite política?
3 x 0. No domingo, encerrou-se o
ensaio geral para o que será a Copa mais cara da história. A festa macabra
custará, no mínimo, R$ 28 bilhões, quase quatro vezes mais que a realizada na
África do Sul em 2010 (R$ 7,3 bilhões) e perto de três vezes mais que as Copas
na Alemanha em 2006 (R$ 10,7 bilhões) e no Japão/Coreia em 2002 (R$ 10,1
bilhões).
“Com o dinheiro gasto para
construir o Mané Garrincha poderiam ter sido construídas 150 mil casas
populares”, calculou Romário. Ele tem razão: a arena de Brasília, a mais cara
de todos os tempos, custou R$ 1,7 bilhão.
Obedecendo a uma compulsão
automatizada, o ministro Gilberto Carvalho apontou um dedo acusador para a
imprensa, que “teve um papel no moralismo, no sentido despolitizado” das
manifestações populares.
No mundo ideal desse senhor
“politizado”, uma imprensa chapa-branca monopolista, financiada pelas empresas
estatais, desempenharia a função de explicar aos saqueados que o saque é parte
da ordem natural das coisas. “Sem a imprensa, não somos nada”, concluiu Jérôme
Valcke, o zagueiro de várzea da Fifa, que também gostaria de ter um “controle
social da mídia”.
Um séquito de analistas
especializados na arte da empulhação dedica-se, agora, a criticar os cartazes
dos manifestantes que contrapõem a Copa à “saúde” e à “educação”.
No seu pronunciamento desesperado
do fim da “semana quente”, Dilma Rousseff recorreu aos sofismas desses
analistas para exercitar o ilusionismo. Os recursos queimados na fogueira das
arenas “padrão Fifa”, disse a presidente, são “fruto de financiamento”, não
dinheiro do Orçamento.
Mas ela não disse que a fonte dos
financiamentos concedidos pelo BNDES são títulos de dívida pública emitidos
pelo Tesouro, nem que a a diferença entre os juros reais pagos pelo Tesouro e
os juros subsidiados cobrados pelo BNDES é coberta pelos impostos de todos os
brasileiros, da geração atual e da próxima.
A “verdade técnica” da presidente
não passa de um véu destinado a esconder o significado financeiro da festa
macabra promovida pela Fifa e pelo governo brasileiro.
No seu conjunto, a operação Copa 2014
é uma vasta transferência de renda da população para a Fifa, as empresas
patrocinadoras do megaevento e as empreiteiras contratadas nas obras civis.
Uma CPI da Copa revelaria as
minúcias da rapinagem, destruindo no caminho governantes em todos os níveis que
se engajaram na edificação de elefantes brancos com recursos públicos.
É com a finalidade de evitá-la a
qualquer custo que uma corrente de parlamentares resolveu aderir à ideia de uma
CPI da CBF. Sob a pressão das ruas, cogita-se a hipótese de entregar os
escalpos de José Maria Marin e Ricardo Teixeira numa bandeja de prata para
salvar a reputação das autoridades políticas cujas assinaturas estão impressas
nas leis e contratos da Copa.
“O Brasil nos pediu para sediar a
Copa do Mundo. Nós não impusemos a Copa do Mundo ao Brasil.” Joseph Blatter, o
poderoso chefão da “família Fifa”, não mente quando repete seu mantra
preferido. O “Brasil”, na frase, significa “Lula da Silva”.
A Copa mais cara da história é a
síntese perfeita do legado político do presidente honorífico. À entrada do
Mineirão, no jogo entre México e Japão, funcionários a serviço da Fifa
arrancaram das mãos de dois torcedores cartazes onde estavam escritas as
palavras proibidas “escola” e “saúde”.
Os batalhões de choque em postura
de batalha no perímetro de “segurança nacional” da Copa e os agentes da censura
política em ação nos portões das arenas protegem mais que a imagem da Fifa e
das marcas associadas. Eles protegem, sobretudo, a imagem de Lula, o regente da
festa macabra.
DEMÉTRIO MAGNOLI
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