Quem é Raul Castro?
Ion Mihai Pacepa
03 Setembro 2013
Fidel pode ter concebido o terror responsável por manter
Cuba presa no curral do comunismo, mas Raul tem sido o açougueiro.
(Nota do tradutor: O artigo abaixo foi publicado no National
Review Online em 10 de agosto de 2006. O autor, o general Ion Mihai Pacepa, é o
oficial de mais alta patente a desertar do bloco soviético. No Natal de 1989,
Ceausescu e a sua esposa receberam pena de morte em um julgamento onde a maior
parte das acusações provinham, quase literalmente, do livro Red Horizons, de
Pacepa.
Recentemente,
lançou o livro Disinformation: Former Spy Chief Reveals Secret Strategy for
Undermining Freedom, Attacking Religion, and Promoting Terrorism Hardcover, em
co-autoria com Ronald Rychlak.)
Quem é Raul Castro?
Um tirano que só pode ser amado pelo irmão.
Quem é Raul Castro? O pensamento dos especialistas
ocidentais de que ele pode levar Cuba a um governo de consenso e à democracia
não passa de pensamento mágico. Eu certamente gostaria que eles estivessem
certos, mas Raul Castro transformou um paraíso terrestre em ruínas, e há boas
razões para crer que ele transformará Cuba em uma ditadura pior do que já é.
Eu me encontrei com Raul Castro muitas vezes, em Cuba e na
Romênia. Ele era responsável pela coordenação do serviço de inteligência cubano
(a Dirección General de Inteligencia – DGI) e, no início dos anos 1970, entrou
no negócio de drogas juntamente com o departamento onde eu trabalhava
(Departamentul de Informatii Externe – DIE). Quando ele não estava em Havana ou
Moscou, estava em
Bucareste. Nós trabalhamos, conversamos, pescamos e
mergulhamos juntos. Disputamos quem era melhor no tiro ao alvo; ele era um
excelente atirador. Juntos, corremos em nossos idênticos carros Alfa Romeo. Não
vi nada nele que indique que queira democratizar Cuba.
Raul Castro estava sempre sob a influência do álcool e da
auto-idolatria. Meu contato na inteligência cubana na época, Sergio del Valle,
era o companheiro mais próximo de Raul Castro; voltando aos primeiros tempos na
Sierra Maestra, costumava chamar o seu chefe de “Raul, O Terrível” em alusão ao
primeiro russo auto-coroado czar. Raul Castro era o czar não coroado de Cuba –
o seu título oficial era “General Máximo”. Fidel discursava, hora após hora.
Raul conduzia a economia de Cuba, a sua política externa, o comércio exterior,
o sistema judiciário, as cadeias, o turismo – até mesmo os hotéis e as praias.
Raul Castro é geralmente conhecido como um apagado ministro
de defesa, mas ele também tem sido o comandante brutal de uma das mais
criminosas instituições comunistas: a polícia política cubana. Eu testemunhei a
sua capacidade. Ele era cruel e implacável. Fidel pode ter concebido o terror responsável
por manter Cuba presa no curral do comunismo, mas Raul tem sido o açougueiro.
Ele tem colaborado na matança e no terror de milhares de cubanos, e não tenho
dúvidas de que lutará com unhas e dentes para preservar o poder. Por outro
lado, mais cedo ou mais tarde Raul Castro deverá pagar pelos seus crimes, e eu
não creio que ele seja um suicida.
Antes de conhecer Raul Castro pessoalmente, tive uma
primeira impressão dele por meio de Nikita Khrushchev e do general Aleksandr
Sakharovsky, o criador da estrutura da inteligência comunista romena, e naquele
tempo comandante do serviço de inteligência soviético para o exterior, o PGU
(Pervoye Glavnoye Upravleniye). Isto foi em 1959. Ambos havia chegado em
Bucareste no dia 26 de outubro para o decretado “feriado de seis dias na
Romênia”. Jamais Khrushchev havia tirado férias tão longas no exterior, mas a
sua visita à Romênia também não era descanso. Estava lá para discutir a
revolução cubana em andamento com o líder romeno Gheorghe Gheorghiu-Dej, até
então o único ditador comunista de um país de herança latina.
Khrushchev sonhava em entrar para a história como o líder
soviético instaurador do comunismo no continente americano e estava disposto a
qualquer coisa para concretizar o seu sonho. Mas Khrushchev não confiava em Fidel Castro porque
via nele uma pessoa estranha ao marxismo. Para os líderes do partido comunista
cubano, Fidel era um aventureiro perigoso, e os burocratas do partido soviético
também estavam relutantes em apoiá-lo.
Khrushchev, por sua vez, confiava em Raul Castro. De
acordo com Sakharovsky, responsável por conduzir Raul Castro a Moscou em meados
da década de 1950, foi amor à primeira vista. Nikita e Raul adoravam vodka,
ambos eram fascinados pelo marxismo, odiavam escola, religião e disciplina.
Ambos se consideravam especialistas militares. Ambos eram obcecados por
espionagem e contra-espionagem. E ambos gostavam de dormir de botas.
Sakharovsky acreditava que o “terno relacionamento” entre os dois havia levado
Khrushchev a se atirar de corpo e alma na revolução cubana.
Por ordem de Khrushchev, Sakharovsky deu a Raul Castro um
conselheiro de inteligência: Nikolay Leonov, o melhor especialista do PGU em América Latina. Leonov
(hoje um general da KGB aposentado e membro da Duma) forneceu a Raul Castro
informações sobre as forças militares do então ditador cubano, Batista, e o
ajudou a planejar a guerrilha. Em junho de 1957, Leonov deu a ele documentos e
fotografias mostrando o fornecimento de armas e apoio logístico de Washington a
Batista, e sugeriu fazer alguns americanos reféns para forçar Eisenhower a se
retirar do conflito. Raul Castro seguiu o conselho. Em 26 de junho de 1958, os
seus guerrilheiros sequestraram quinze militares e civis americanos e
canadenses que estavam a trabalho em Cuba. Temendo pela vida dos reféns, Batista
decretou um cessar-fogo. A manobra permitiu aos soviéticos levar novas armas a
Cuba.
O curso da revolução cubana mudou para sempre. E a era do
sequestro político havia sido inaugurada.
Na noite do dia 31 de dezembro de 1958, Batista fugiu de
Cuba, e os irmãos Castro tomaram conta do país. Durante o mês seguinte, Raul
Castro organizou a execução de centenas de policiais e militares do regime de
Batista. Os prisioneiros eram mortos a tiro e os corpos enterrados em túmulos
coletivos nos arredores de Santiago de Cuba.
Um ano depois, o representante do premiê soviético Anastas
Mikoyan foi a Havana. Ele foi recepcionado por Fidel, Raul e pelo novo
conselheiro da KGB para o país, Aleksandr Shitov. A tarefa naquele momento era
ajudar Raul Castro a criar uma KGB cubana e um exército ao estilo soviético. Em
1962, Khrushchev tomou uma decisão sem precedentes ao nomear Shitov embaixador
soviético em Cuba. Em
segredo, Moscou logo começou a construir bases de mísseis em território cubano.
Khrushchev, Raul Castro e Shitov – não Fidel – empurraram o
mundo para a iminência da guerra nuclear.
Em abril de 1971 eu visitei Cuba como membro de uma
delegação do governo romeno para a celebração de dez anos pela vitória de Fidel
Castro na Baía dos Porcos. Alguns dias depois da cerimônia, Raul Castro me
convidou para ir pescar no mar em seu barco, junto com Sergio del Valle. O
outro convidado era um civil soviético que se apresentou como Aleksandr
Alekseyev. “Aquele é Shitov”, sussurrou del Valle. “Agora, ele é conselheiro de
Allende”. (O marxista Salvador Allende havia sido eleito presidente do Chile no
mês de novembro do ano anterior.) Lá, no barco, ficou claro para mim – mais
claro do que nunca – que era Raul, não Fidel, quem empunhava as rédeas da
diligência da revolução cubana.
Em 1972 eu preparei uma visita oficial de Ceausescu a
Havana, e, durante ela, também fui o seu braço direito. Fidel era o testa de
ferro, Raul o ajudante geral. A primeira dama cubana não era a esposa de Fidel,
mas a de Raul. Elena Ceausescu empinou o nariz para ela, mas, no momento certo,
as duas primeiras damas se entenderam esplendidamente. Tanto Elena quanto Vilma
Espin Guilloys haviam abandonado os estudos, ambas fingiam ser químicas, ambas
haviam obtido títulos de doutorado falsos, ambas eram do partido comunista
antes dele ter chegado ao poder em seus países, ambas se tornaram membros do
Conselho de Estado e ambas eram presidentes das organizações de Federação de
Mulheres em seus países.
Durante a visita, os irmãos Castro e Ceausescu lançaram as
bases para um negócio de drogas conjunto. Queriam afundar o mundo com drogas.
“As drogas podem causar mais danos ao imperialismo do que armas nucleares”,
pontificou Fidel. “As drogas erodirão o capitalismo por dentro”, concordou
Raul.
Jamais ouvi a palavra “dinheiro” ser pronunciada, mas eu já estava
administrando o dinheiro que a Romênia estava fazendo com o seu próprio tráfico
de drogas. Ia tudo para a conta bancária pessoal de Ceausescu. Em 1978, quando
deixei a Romênia para sempre, aquela conta, chamada de AT-78, tinha um saldo de
cerca de 400 milhões de dólares – a despeito dos desfalques substanciais feitos
por Elena para comprar peles e jóias.
Em 2005, Fidel ficou furioso quando a Forbes Magazine
estimou a sua fortuna em 500 milhões de dólares. Neste ano, a revista atualizou
o valor para 900 milhões. Em vista da penúria cubana, esta quantia é certamente
mais do que o suficiente para Raul subornar os seus camaradas políticos e
comprar todos os novos aliados de que precisar.
Em 1973 eu tirei “férias de trabalho” em Havana. Raul me levou
para conhecer uma instalação gigantesca, dedicada ao fabrico de maletas com
fundo falso e outros dispositivos para o transporte secreto de armas e explosivos
para fins terroristas. Na época, o DGI de Raul Castro estava trabalhando em
tempo integral para expandir a influência política de Cuba pela América do Sul
e pelo Terceiro Mundo. Particularmente, lutavam para consolidar o poder dos
sandinistas na Nicarágua, para fomentar uma guerra sangrenta em El Salvador e para
ajudar a MPLA (Movimento pela Libertação de Angola), movimento financiado por
Cuba e União Soviética, com o objetivo de aumentar o poder deles em Angola.
O DGI de
Raul Castro e as suas forças armadas também tinham conselheiros e instrutores
nas bases da Organização para a Libertação da Palestina e haviam estabelecido
estreita colaboração com a Líbia, Iêmen do Sul e com a Frente Polisário para a
Libertação do Saara Ocidental. Em meados dos anos 1970, o DIE – o meu
departamento – operava juntamente com o DGI de Raul Castro para apoiar as
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), uma organização insurgente
marxista anti-americana cuja missão era espalhar o comunismo pela América do
Sul.
Em dezembro de 1974, Raul foi a Bucareste pedir apoio
político e de inteligência para o seu novo DNL (National Liberation
Directorate), grupo de inteligência/partido, cujo objetivo era coordenar a guerrilha cubana e os campos de
treinamento de terrorismo e fomentar o surgimento de movimentos de libertação
nacionais e de governos anti-americanos como os da Nicarágua e Granada.
Conseguiu ambos.
É claro que eu não tenho mais acesso a informações internas
sobre a exportação do terrorismo e da revolução de Raul Castro, mas vi, em
2001, as suas FARC se responsabilizarem por 197 assassinatos na Colômbia. Em 11
de abril de 2002, as mesmas FARC sequestraram 13 legisladores colombianos de um
edifício governamental em Cali e mantiveram a candidata a presidente Ingrid Betancourt
em cativeiro. Em
13 de fevereiro de 2003, as FARC abateram um jato da CIA transportando
equipamento eletrônico de inteligência no sul da Colômbia, fazendo reféns três
oficiais da CIA. Agora, as FARC de Raul Castro estão procurando derrubar o governo
pró-americano do presidente colombiano Álvaro Uribe, cujo pai foi assassinado
pelas FARC em 1983. Também percebi que o presidente comunista da Venezuela,
Hugo Chavez, adorador dos irmãos Castro, ameaçou parar de exportar petróleo
para os EUA e pretende iniciar uma guerra convencional contra a sua vizinha
Colômbia, a maior aliada dos EUA na região.
Ninguém, em Cuba e fora dela, sabe examente qual o estado de
saúde – física ou política – de Fidel. Por lá talvez esteja acontecendo algo
que Raul Castro aprendeu com os seus mestres da KGB. Leonid Brezhnev morreu no
dia 10 de novembro de 1982, mas o chefe da KGB, Yury Andropov, conseguiu manter
a morte oculta da população durante alguns dias e assim ganhou tempo para
manobrar e se instalar no assento do condutor. Uma vez empossado no Kremlin, o
cínico Andropov apressou-se em exibir uma imagem para o Ocidente de comunista
“moderado”, um homem sensível, cordial, voltado para o Ocidente, apreciador de
um drinque de scotch de vez em quando, leitor de romances ingleses e ouvinte de
jazz americano e da música de Beethoven. Ele não era nada disso.
Raul também pode tentar se apresentar como um afetuoso anjo
de paz. Mas a era de segredo de Andropov já se foi. Rezo para que as pessoas
que conhecem Raul Castro tão bem como eu conhecia Ceausescu, venham a público
despir o ditador cubano, permitindo ao mundo vê-lo nu, como verdadeiramente é:
um assassino e terrorista internacional que fez fortuna com a venda ilegal de
armas, drogas e seres humanos.
Tradução: Ricardo Hashimoto
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
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