MONOPÓLIO E CHORADEIRA
Olavo de Carvalho
05 Setembro 2013
Se você examinar caso por caso,
verá que desde a década de 60 – em pleno regime militar --, os altos cargos da
nossa mídia são quase todos ocupados por militantes ou simpatizantes da
esquerda.
Os comunistas da mídia acham que
a coisa mais normal e natural do mundo é possuir o monopólio do espaço
jornalístico no Brasil e ainda choramingar como se fossem uns coitadinhos
desprovidos do direito à palavra.
Quando os comunistas da internet
vociferam contra a “mídia burguesa”, é bom saber que a mídia burguesa são eles
mesmos atuando em dois níveis: dominam os grandes jornais e canais de TV desde
dentro para usá-los como veículos de desinformação e ao mesmo tempo descem o
porrete neles desde fora para dar mais credibilidade à desinformação.
Isso é uma regra básica dos
manuais de desinformátsiya. Desinformação só funciona quando a mentira não vem
da boca de um inimigo notório e sim de alguém de confiança da vítima. Se você
lê no Vermelho.org, no Paulo Henrique Amorim ou no Baixamiro Borges alguma
grossa denúncia contra os EUA, contra a Igreja, contra Israel, contra os
militares ou contra os liberais e conservadores, pode desconfiar que é
propaganda esquerdista.
Se lê a mesma coisa na Folha, no Globo ou no Estadão,
imagina que é informação idônea, imparcial, puro jornalismo. Para que servem então o
Vermelho.org, o Paulo Henrique Amorim, o Baixamiro e similares? Servem
precisamente para isso. São a substância de contraste que dá credibilidade à
“grande mídia” quando esta, num estilo mais comedido, mente igualzinho a eles.
Secundariamente, podem servir
também para alimentar de bobagens estimulantes a militância partidária. Para
enganar o público maior, politicamente indefinido, é preciso veículos com uma
fama de “direitistas” criada exatamente para esse fim.
Se você examinar caso por caso,
verá que desde a década de 60 – em pleno regime militar --, os altos cargos da
nossa mídia são quase todos ocupados por militantes ou simpatizantes da
esquerda, que ao mesmo tempo, ou em fases alternadas da sua carreira
profissional, publicam semanários “nanicos” ou, hoje em dia, blogs
“alternativos”, dando à platéia ingênua a impressão de que são a arraia miúda
em luta contra a poderosa indústria de comunicações.
Isso é a essência mesma de um
trabalho de desinformação.
Os leitores em massa ignoram que
o próprio modelo do jornalismo profissional “moderno”, de corte americano, foi
implantado no Brasil principalmente por comunistas, que o modularam para que
servisse aos seus próprios fins sem dar muito na vista. Confiram na tese
“Preparados, Leais e Disciplinados: os Jornalistas Comunistas e a Adaptação do
Modelo de Jornalismo Americano no Brasil”, de Afonso de Albuquerque e Marco
Antonio Roxo da Silva , da UFF
(http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1052-1.pdf).
Foi graças a essa operação que,
por exemplo, os setenta milhões de vítimas do comunismo chinês, quarenta
milhões do comunismo soviético, dois milhões do comunismo cambojano e cem mil
do comunismo cubano praticamente desapareceram dos nossos jornais e canais de
TV, onde, ao contrário, sempre houve espaço e tempo de sobra para umas dúzias
de guerrilheiros mortos pelo regime militar. Deformar o senso das proporções é
essencial para dessensibilizar a população ante os crimes dos comunistas e
hipersensibilizá-la para tudo quanto seja nocivo ao comunismo.
Só para dar um exemplo, basta
notar que nunca a presença maciça de comunistas em postos de destaque nas
redações foi denunciada como sinal de viés ideológico, mesmo quando se tratasse
de aparatchniks treinados em Moscou e Pequim. Ninguém jamais se queixou de que
Otávio Brandão, Nabor Caires de Brito, Mário Augusto Jacobskind, Mauro
Santayana, Cláudio Abramo, Élio Gaspari, Roberto Múller, João Sant’Anna,
Alcelmo Góis, Fernando Morais, Paulo Moreira Leite e mais uma infinidade –
alguns até líderes do PCB, do PC do B ou de organizações trotsquistas; outros,
notórios empregados de governos comunistas – fossem diretores de jornais ou
tivessem colunas de página inteira à sua disposição.
Mas basta que algum jornalista sem
qualquer vínculo partidário, apenas não muito simpático pessoalmente à
esquerda, assuma um cargo de editor ou ganhe um espacinho em qualquer jornal,
revista ou programa de TV, e imediatamente chovem protestos de todo lado. Os
casos de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo são apenas os mais recentes. Minha
estréia em “O Globo” foi imediatamente respondida por uma campanha para que
minha coluna fosse suprimida.
Mutatis mutandis, milhares de
blogs comunistas financiados por ONGs internacionais pululam na internet sem
que ninguém ache isso estranho, mas basta aparecer um blog “de direita”, mesmo
sem qualquer vínculo organizacional e subsidiado apenas com o parco dinheiro de
seus editores, e imediatamente a coisa é alardeada como um escândalo
intolerável, um crime de lesa-pátria.
O leitor comum não tem a menor
idéia de como essas coisas funcionam, nem das dimensões do poder esquerdista
que transforma a mídia nacional praticamente inteira em órgão de desinformação
comunista (sem isso teria sido impossível esconder por dezesseis anos a
existência do Foro de São Paulo ou continuar escondendo até hoje a denúncia do
ex-agente soviético Ladislav Bittman sobre jornalistas brasileiros pagos pela
KGB). E os profissionais que sabem de tudo não têm, é claro, o menor interesse
em dar o serviço.
Com toda a evidência, os
comunistas da mídia acham que a coisa mais normal e natural do mundo é possuir
o monopólio do espaço jornalístico no Brasil e ainda choramingar como se fossem
uns coitadinhos desprovidos do direito à palavra. E essa impressão postiça de
naturalidade já se alastrou para todas as classes letradas, infectando o “senso
comum” ao ponto de que ninguém mais
enxerga o monopólio como tal, e mencioná-lo é candidatar-se ao rótulo de “teórico
da conspiração”. A mentira alcança a perfeição quando impugná-la se torna uma
doença mental.
Publicado no Diário do Comércio.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA
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