Conforme divulgado pela imprensa, Marcelo Pesseghini, aos dois anos de idade, teria tido uma complicação ao ser atendido em um hospital e ficado algum tempo sem oxigenação cerebral, o que, segundo o psiquiatra Guido Palomba, em seu laudo oficial, teria provocado uma “encefalopatia hipóxica”.
O episódio acabou afetando, de algum modo, o desenvolvimento cerebral e psíquico de Marcelo que desenvolveu um “delírio encapsulado”.
Em suma, o garoto de certo modo
misturava a realidade com a fantasia, tendo ficado meio infantilizado por conta
da encefalopatia, algo que nunca teria sido percebido por familiares.
O menino tinha uma doença de
natureza grave, que colocava a sua vida em risco permanente, sendo assim
bastante protegido pelos seus pais. Conforme
o laudo, Marcelo, que havia nascido com fibrose cística (doença genética que
afeta o funcionamento de secreções do corpo, levando a problemas nos pulmões e
no sistema digestivo; ela não tem cura e pode levar à morte precoce), teve
pneumotórax (ar na cavidade pleural) perto dos 2 anos de idade durante um
procedimento hospitalar.
Em consequência disso, teve “encefalopatia
hipóxica”, que o deixou sem oxigênio no cérebro, “lesando os neurônios”.
O laudo psiquiátrico sustenta a
tese da investigação: Marcelo matou no final do dia 4 e início do dia 5 de
agosto, o pai, o sargento das Rondas Tobias de Aguiar (Rota), Luís Marcelo
Pesseghini, de 40 anos; a mãe, a cabo Andréia Bovo Pesseghini, de 36; a
avó-materna Benedita de Oliveira Bovo, 65; e a tia-avó Bernadete Oliveira da
Silva, 55.
Depois, perto de uma hora da
manhã o menino dirigiu o carro da mãe até uma rua próxima ao colégio onde
estudava, dormiu dentro do veículo, e foi para a aula. Lá, contou para os amigos
que havia matado a família, mas ninguém acreditou. Em seguida, voltou para a
residência e se matou. Todos foram mortos com tiros na cabeça.
PLANOS DE MATAR A FAMÍLIA
Produzi doze textos (este é o
13º) sobre o triste caso da família Pesseghini; do segundo texto adiante passei
a aceitar a idéia de que o menino havia planejado matar seus parentes,
analisando as informações que surgiam pela imprensa, decorrentes de declarações
oficiosas de testemunhas, colegas, professores e parentes.
O garoto gostava de ouvir os
casos contados pelo pai e a mãe, policiais, que falavam em mortes de bandidos e
tiroteios. Também era fanático por jogos eletrônicos violentos. No ano de 2012
colocou no seu Facebook imagem referente a um massacre familiar ocorrido nos
Estados Unidos nos anos 70, e também adotou a identidade virtual de um
assassino profissional de um jogo chamado Assassin´s Creed, sendo ele o
personagem Desmond Miles, um vingador.
Na escola, criou um grupo de
amigos chamado Os Mercenários, com o propósito de matar parentes e tornarem-se
assassinos profissionais. Marcelo levava a sério isso, mas os amigos não
imaginavam o quanto.
No final da noite de domingo, 4
de agosto, alguns disparos foram ouvidos pela vizinhança, mas ninguém imaginou
o que poderia ter acontecido. Alguns imaginaram, até por ser freqüente, que
fossem estampidos de escapamentos de motocicletas,com costumam fazer alguns
motoboys.
Marcelo atirou na nuca do pai que
dormia num colchão da sala; depois escondeu-se e aguardou a mãe que levantou-se
e foi do quarto para a sala, provavelmente assustada pelo estampido, e atirou
na sua nuca, quando ela estava ajoelhada no chão, ao lado do
Colchão tentando entender o que
teria acontecido.
“MATEI TODOS ELES”
Em seguida, ele foi até a casa da
avó, no mesmo terreno e atirou nela e na sua tia. O garoto, que sabia atirar
(aprendeu com o pai), deu um tiro em cada uma. Pegou uma mochila com alguns
pertences, duas armas, uma pistola calibre 40, usada na mortes e um revólver
calibre 32, e dirigiu o carro de sua mãe até a escola (ele havia aprendido a
guiar com os pais). Passou a noite no carro.
Na manhã de segunda-feira, cinco
de agosto, saiu do carro, atravessou a rua e foi às aulas. Ali, brincando com
ele um colega perguntou “e aí, conseguiu matar a sua avó?”(ele já havia tentado
flechar a avó!). Seriamente Marcelo respondeu: “Matei todos eles”.
Evidentemente ninguém acreditou.
Após as aulas, ao invés de dirigir o automóvel até algum destino imaginado
antes, em seus planos, pegou carona com o pai de um amigo e voltou para casa.
No domingo (4) Marcelo havia
telefonado a esse amigo convidando-o para fugir com ele, pois executaria o
plano naquela noite. O amigo não acreditou a acabaram a conversa.
Na noite de segunda-feira, quando
os telejornais começaram a dar a notícia de que a família inteira do sargento
Pesseghini havia sido morta a tiros, inclusive Marcelo,
o seu amigo teve uma crise de
pânico e contou tudo ao seu pai.
Quando entrou em sua casa, após
as aulas, Marcelo deve ter levado um choque de realidade ao ver todos mortos. O
psiquiatra Palomba disse seu laudo que Marcelo deu um tiro em sua própria
cabeça por sentir que fracassara em seus planos de convencer os amigos e sair
pelo mundo.
O FRACASSO DO PLANO
Certamente alguma coisa aconteceu na escola naquela manhã,
pois o menino voltou para casa, ao invés de ficar por ali e depois pegar o
carro e fugir. Certamente não iria longe, pois seria um garoto de 13 anos
guiando um carro pelas ruas. Mas alguma coisa o fez voltar para casa e dar um
tiro na cabeça.
Talvez, como dependesse dos pais para o seu tratamento
intenso e constante, tenha percebido a besteira que fizera ao matá-los. Nos
jogos os mortos retornam e podem morrer várias vezes.
Na vida real a morte é definitiva. Talvez ali na sala,
olhando para seus pais mortos, tenham
caído as fichas para Marcelo e ele, derrotado em seus propósitos de fugir com a
gangue para tornar-se um matador profissional, tenha decidido morrer, naquele
momento.
Encostou a pistola no ouvido esquerdo e puxou o gatilho. A
bala atravessou sua cabeça e alojou-se na parede da sala.
Acabou a família Pesseghini, acabaram-se os delírios, acabou
Marcelo, um garoto muito doente que misturou a ficção com a realidade e que não
quis ficar, segundo o doutor Palomba, com a sensação de ser um fracassado.
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