O MENINO QUE SAIU DAS SOMBRAS |
Não sei o motivo, mas acredito que muita gente no Brasil está
infantilizada, perdeu a capacidade de raciocinar direito, e só acredita em histórias
de conspirações e lendas urbanas.
Desde o início, podem procurar no blog, fiz vários textos,
nunca duvidei de que o garoto Marcelo Pesseghini, 13 anos, pudesse mesmo haver
exterminado a família e se suicidado. Para tanto, bastou ver alguns sinais
emitidos por depoimentos que foram se cruzando e fazendo uma teia que indicava
o desfecho dramático.
No primeiro texto, sem qualquer outra informação, exceto o relato inicial da “chacina”, pela imprensa, acreditei que algum grupo de bandidos houvesse matado todos da família.
No primeiro texto, sem qualquer outra informação, exceto o relato inicial da “chacina”, pela imprensa, acreditei que algum grupo de bandidos houvesse matado todos da família.
Logo em seguida as informações sobre os amigos da escola, o
carro, as imagens no Facebook, começaram a sinalizar algo diferente. Passei a
considerar seriamente que o garoto pudesse ter feito aquilo. Não seria impossível.
Claro que não poderia saber a motivação. Certamente o caso será encerrado sem
que se tenha uma idéia clara da motivação.
Não sei em que mundo vive alguém que diz com convicção: “crianças
não fazem essas coisas!”. Eu não gostaria que fosse verdade, mas crianças fazem,
sim, coisas horríveis. As páginas de jornais ao longo dos anos formam uma coleção de
crimes, das mais variadas naturezas, cometidos por crianças, de poucos anos de
vida até a faixa da adolescência.
Crianças, ao contrário do que muitos afirmam, sem uma real
observação, podem ser mesmo muito cruéis. A literatura especializada de
Psicologia trata disso, não há surpresa.
Repito, eu não gostaria que fosse verdade, mas é. Uma coisa é
o que gostaríamos que fosse, outra é o que é a realidade. Na história humana
sempre foi assim, mas de tempos para cá parece que as pessoas não estão mais
sabendo ler sinais e nem reconhecer que a natureza humana pode ser, sim, muito
má, perversa, cruel.
O psiquiatra forense contactado pela Polícia, Guido Palomba,
disse que Marcelo deveria estar sofrendo de uma doença psiquiátrica que ninguém
havia percebido. Talvez. Mas, sem qualquer ofensa ao garoto, e se ele fosse
assim mesmo desde o nascimento, sem que ninguém houvesse percebido algo?
Há alguns anos, dois garotos, um de 9 e outro de dez anos,
raptaram uma criança de dois anos, em um Shopping na Inglaterra e torturaram barbaramente
o menino, a quatro quilômetros dali, e o deixaram amarrado na linha ferre, para
ver o trem cortá-lo em
pedaços. Os garotos sabiam exatamente o que faziam. Como os
ingleses não brincam em serviço, os dois pequenos monstros foram condenados
como adultos.
Eles tinham plena consciência do rapto, da tortura, do
sofrimento da pobre criança e de que o trem a faria em pedaços. Mesmo
assim cometeram o crime. Dois demônios. Se os caros leitores procurarem na
Internet encontrarão dezenas de casos de crueldade e perversidade semelhante.
Porque eles cometeram um crime tão bárbaro? Papai Noel não
trouxe um brinquedo no Natal? Teriam levado umas palmadas na bunda e ficado
revoltados? Tinham inveja da criança que passeava com a mãe no Shopping? Claro
que não. Dois perversos que se juntaram para fazer o mal, por prazer! Isso não
tem cura.
OS PESSEGHINI
O que chocou demais as pessoas foi, certamente, a foto
espalhada inicialmente pela Internet da família Pesseghini. Um pai sorridente
com cara de bondoso, uma mãe alegre e um garoto de olhar dócil junto aos pais.
Uma coisa que chama a atenção no ser humano é o mistério do
olhar. O que há por trás de um olhar? É um olhar verdadeiro? É dissimulado? O
que aqueles olhos podem estar escondendo?
Há alguns dias vizinhos contaram à polícia que o menino
Marcelo gostava de atirar com uma espingarda de chumbo em passarinhos, gatos,
cachorros que passavam perto de sua casa. Um dos sinais que devem ser
observados é exatamente se crianças gostam de ver animais sofrerem. Isso é
muito mau sinal.
Inicialmente parentes e vizinhos disseram que o garoto era
adorável, educado, quieto.
E ele poderia mesmo ser tudo isso. Mas depois é que foram
revelando que gostava de atirar em animais, que os colegas disseram que ele
queria matar seus pais, que ele queria flechar a própria avó, e parentes
disseram ao delegado que ele chegou a apontar uma arma de fogo a muitos deles
quando em visita à sua casa. E que era fascinado por jogos violentos, que sabia
dirigir automóveis e que sabia atirar muito bem.
Marcelo Pesseghini está morto. Atirou no próprio ouvido
esquerdo com a mesma arma, uma pistola 40, de sua mãe, com a qual, segundo a
polícia, matou seu pai, o sargento PM da Rota Luís Pesseghini, a mãe, cabo PM Andréia,
e sua tia-avó e a avó materna.
Todos dormiam no final da noite de 4 de agosto. No início da
madrugada do dia 5 ele matou o pai com um tiro na nuca. A mãe acordou assustada
e foi até a sala e ajoelhou-se ao lado do colchão onde dormia o sargento, para
ver se algo havia acontecido. Segundo os peritos, Marcelo tocaiou a mãe, vinco
por trás dela e dando um tiro em sua nuca. Ela morreu ajoelhada, com o tronco
caído sobre o colcha e as mãos cruzadas sobre a cabeça.
Depois o garoto foi à casa anexa, onde morava a avó e a matou
e à sua tia-avó.
A minha questão era sobre se ele, após matar o pai, encarou
ou não a mãe de frente e a mandou ajoelhar. Nunca saberemos. Pela cena, parece
que ela morreu sem saber quem foi seu assassino.
Há uma história que ouvi há muitos anos, que intriga muita
gente: quando morremos fica alguma imagem retida em nossas retinas? Qual terá
sido a última visão da pobre cabo Andréia? Teria ela percebido o que aconteceu?
Naquela madrugada o garoto dirigiu o carro da mãe até perto
da escola e aguardou amanhecer. Assistiu à aulas e quando um amigo perguntou se
ele havia conseguido flechar a avó, ele respondeu sério: “matei todos eles”.
Os
amigos não acreditaram.
Ele voltou para casa, após as aulas, com o pai de um deles. Disse
ao amigo: “hoje é a última vez que você vai
me ver vivo”. Ninguém ligou para a frase, estavam acostumados com as esquisitices
de Marcelo.
Naquele dia, à noite, quando todos ficaram chocados com a
notícia da chacina da família Pesseghini, os amigos tiverem crises nervosas e
contaram a seus pais sobre o que havia acontecido naquela manhã.
Nada mais
poderia ser feito. Tarde demais.
Ao voltar para casa Marcelo deve ter olhado pela última vez
os seus pais, mortos sobre o colchão; talvez tenha ido até a casa da avó.
Ninguém sabe o que ele fez, exatamente, mas pegou a pistola,
colocou contra o ouvido esquerdo e acionou o gatilho, pela última vez. A bala
atravessou a sua cabeça e foi parar em uma parede.
Que imagem teria ficado retida, para sempre, em suas retinas?
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