BAU DE TEXTOS
Os barões
Olavo de Carvalho
Um leitor pede gentilmente que eu lhe diga quem, afinal, são os tão falados e jamais nomeados “barões da droga”. Quem ganha com o crescimento ilimitado das quadrilhas de narcotraficantes e sua transformação em força revolucionária organizada, ideologicamente fanatizada, adestrada em táticas de guerrilha urbana, capacitada a enfrentar com vantagem as forças policiais e não raro também as militares?
A resposta é simplicíssima: quem ganha com o tráfico de drogas é quem produz e vende drogas. O maior, se não o único fornecedor de drogas ao mercado brasileiro são as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. São elas, também, que dão adestramento militar e assistência técnica ao Comando Vermelho, ao PCC e a outras quadrilhas locais.
Já faz dez anos que o então principal traficante brasileiro, Fernandinho Beira-Mar, preso na Colômbia, descreveu em detalhes a operação em que trocava armas contrabandeadas do Líbano por duas toneladas anuais de cocaína das Farc. Também faz dez anos que uma investigação da Polícia Federal chegou à seguinte conclusão: “A guerrilha tem o comando das drogas”. Se alguém ainda tem dúvidas a respeito, é que está gravemente afetado da Síndrome do Piu-Piu: “Será que eu vi um gatinho?”
Mas, dirá o leitor, não há também políticos envolvidos na trama, gente das altas esferas, que dirige tudo de longe, discretamente, sem mostrar a cara ou sujar as mãozinhas?
É claro que há. Mas só são invisíveis a quem tenha medo de os enxergar. Para descobri-los, basta averiguar quem, na política, protege as Farc. Não preciso dar nomes, preciso? Para avivar a memória, leia as listas de participantes do Foro de São Paulo, entidade criada precisamente para articular, numa estratégia revolucionária abrangente, a política e o crime.
Alguns ganham muito dinheiro com isso, mas nem todos, na lista, têm interesse financeiro direto no narcotráfico – o que não os torna menos criminosos, é claro. As Farc e organizações similares servem-lhes de arma de barganha, para criar o caos social, intimidar o inimigo e extorquir dele concessões políticas que valem muito mais do que dinheiro.
Quando a guerrilha está em vantagem, os políticos – para usar uma expressão já velha – sublinham com as armas da retórica a retórica das armas, anunciando o advento de uma sociedade justa gerada no ventre do morticínio redentor.
uando a guerrilha está perdendo, eles usam o restinho dela como instrumento de chantagem, oferecendo a “paz” em troca da transformação dos bandos armados em partidos políticos, de modo a premiar a imensa lista de crimes hediondos com a abertura de uma estrada risonha e franca para a conquista do poder.
São esses os barões. Não há outros.
A parceria deles com o narcotráfico vem de longe. Começou na Ilha Grande, nos idos de 70, quando os terroristas presos começaram a doutrinar os bandidos comuns e a ensinar-lhes os rudimentos da guerrilha urbana segundo o manual de Carlos Marighela. Naquela época os guerrilheiros e a liderança esquerdista em geral tinham um complexo de inferioridade: viam-se como uma elite isolada, sem raízes nem ressonância no “povo”, em cujo nome falavam com um sorriso amarelo.
Por uma feliz coincidência, foram parar na cadeia numa época em que o filósofo germano-americano Herbert Marcuse tinha lhes dado uma idéia genial: a faixa de população mais sensível à pregação revolucionária não eram os trabalhadores, como pretendia Karl Marx, e sim os marginais – ladrões, assassinos, narcotraficantes. Que parassem de fazer pregação nas fábricas e buscassem audiência no submundo – tal era o caminho do sucesso.
Quando as portas do cárcere se fecharam às suas costas, abriram-se para eles as portas da mais doce esperança: lá estava, no pátio da prisão, o tão ambicionado “povo”. Sua função no esquema? Transmutar o reduzido círculo de guerrilheiros em movimento armado das massas revolucionárias.
Em 1991, o projeto, em formato definitivo, já vinha exposto com toda a clareza no livro Quatrocentos Contra Um, de autoria do líder do Comando Vermelho, William da Silva Lima, publicado pela Labortexto e lançado ao público na sede da Associação Brasileira da Imprensa, entre aplausos de mandarins da intelectualidade esquerdista que ali viam materializados os seus sonhos mais belos de justiça e caridade.
Publicado no Diário do Comércio, 01/12/2010
Leia o texto integral no site de Olavo de Carvalho:
http://www.olavodecarvalho.org/index.html?index.htm
Publicado no Diário do Comércio, 01/12/2010
Leia o texto integral no site de Olavo de Carvalho:
http://www.olavodecarvalho.org/index.html?index.htm
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