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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

WIKILEAKS, HONDURAS E ZELAYA

Muita gente ligada ao governo federal, ou por ocuparem cargos em diversos escalões, ou por serem representantes dos interesses do governo na imprensa, está alegre com informações de bastidores do governo americano vazadas pelo site Wikileaks, sobre Honduras.
O próprio ministro Celso Amorim diz que ficou contente porque agora teria ficado claro que houve golpe em Honduras contra Manuel Zelaya. A confirmação seriam as comunicações do embaixador americano a Washington à ocasião da queda daquele presidente. 
Não houve golpe em Honduras que tenha sido dado por militares ou pelo senhor Micheletti (à altura presidente do Congresso). Zelaya caiu porque se auto-impediu, basta ler atentamente a constituição de Honduras. Isso foi amplamente explicado no Brasil inclusive pelo site Consultor Jurídico, pelo advogado e jurista petista Dalmo Dallari (artigo publicado em 30/09/2009, O Fundamento Legal Omitido) ) e pelo jornalista Reinaldo Azevedo.  

Se os interessados forem pesquisar, como eu mesmo o fiz, semana após semana, durante meses, inclusive na imprensa de língua espanhola, que costuma ser muito melhor que a brasileira nos assuntos políticos, por estar muito menos infiltrada por verdadeiros militantes partidários que não honram mais a profissão de jornalista, confundindo jornalismo com propaganda ideológica, encontrarão um relato muito mais próximo da verdade de Honduras do que nos querem vender os militantes da esquerda no Brasil. 

Manuel Zelaya, do partido liberal, grande empresário rural, foi muito bem eleito pelos hondurenhos, ele era mesmo popular.
Ocorre que Honduras, como tantos outros países vizinhos, tem imensos problemas sociais e financeiros. Zelaya, ao longo do tempo, foi atraído para a área de influência de Chávez, seduzido pelas promessas de apoio financeiro e, principalmente, petróleo barato. Isso ainda continua a acontecer, basta ler a entrevista recente do presidente do Uruguai à veja em que agradece Chávez pelo petróleo barato,a perder de vista.
Chávez fez isso para fimar a ideia da América Bolivariana, uma cretinice que diz ter sido inspirada em Bolivar. Sempre insuflado por Fidel Castro e pela diplomacia brasileira.

Lentamente Zelaya foi permitindo um clima de insurgência no país (lembram-se do tempos de Jango Goulart?), abrindo espaço para os chamados movimentos populares e da sociedade civil, que não passam, quase sempre, de braços de partidos políticos de esquerda na A. Latina. O que Zelaya fez foi estimular a realização de uma constituínte e alterar a constituição, de modo a poder permanecer indefinidamente, como Chávez.   

Honduras é um país que, igual a outros na região, sofreu com inúmeras ditaduras e golpistas. Assim, de forma preventiva (nada a ver com Zelaya), no governo anterior a ele foi aprovada uma constituição à prova de golpe.
Constituição proíbe extensão de mandato.

O artigo 239 é claro ao expressar que qualquer governante que estimular a mudança da constituição para permanecer no poder estará automaticamente destituído. Zelaya agiu contra o Congresso e contra o Poder Judiciário que o haviam alertado que não poderia fazer a constituínte. Insistiu, com o apoio de Chávez, que enviou a Honduras todas as urnas para a operação, numa intromissão clara em outro país.
O exército hondurenho recebeu ordens dos demais poderes para prender Zelaya por traição à Constituição. Até aí está tudo perfeito e dentro da ordem. NÃO HÁ GOLPE NENHUM.

O erro dos militares, aí sim erraram feio, na minha opinião, foi que, ao invés de prendê-lo e processá-lo, em Honduras, como seria de se esperar, o puseram num avião e o enviaram ao exterior, desterrado. Aí feriram a constituição que não permite isso em Honduras. Posteriormente os militares reconheceram que erraram e disseram que temiam um levante estimulado pela esquerda, o que poderia provocar o derramamento de sangue. E, mesmo com a expulsão de Zelaya isso aconteceu nas semanas seguintes.

Imediatamente após chegar à Costa Rica começou o coro internacional contra o GOLPE. Chávez, Lula, Fidel, Ortega, Morales, todos os amigos de Zelaya e membros do Foro de São Paulo começaram a falar em golpe e isolaram Honduras. O resto é conhecido. Em outra ocasião voltarei com os desdobramentos do assunto do Foro de São Paulo, tema quase proibido na imprensa brasileira.

O embaixador americano em Honduras, que fez os relatos falando sobre golpe, era simpático a Zelaya e como tantos outros americanos, isso já é clássico na diplomacia americana, inepto para entender, de imediato as pretensões de Manuel Zelaya. Ou as compreendeu e as apoiava. 

Muitos questionam, por que o vice não assumiu? O vice era um dos inúmeros candidatos à eleição, estando afastado. Teve que assumir o senhor Micheletti, então presidente do Congresso, que governou até o fim do período de Zelaya e realizou as eleições que, inclusive, já estavam convocadas e em andamento. Micheletti nunca foi golpista. Feitas as eleições, foi eleito Lobo, que assumiu e governa o país, apesar da choradeira dos amiguinhos de Zelaya.

Golpe não houve. O verdadeiro golpista contra Honduras era o senhor Manuel Zelaya, que pretendia alterar a constituição, permanecer no poder indefinidamente e integrar o império bolivariano, que é o que se depreende dos relatdos da imprensa hondurenhas sobre os atos de seu governo.
Como bolivarianos são os nossos governantes, o Brasil emprestou a embaixada brasileira, em Tegucigalpa, para a pantomima da invasão por Zelaya, colocando verdadeiramente em risco a ordem pública naquele país.

Honduras quase teve uma guerra civil, que teria sido estimulada, de forma irresponsável, pelas nossas omissões ou concordância. Tudo fluiu num clima ambíguo de neblina. Pois na neblina legalidade é golpe, e golpe legalidade. 
  

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