Arte: Gazeta do Povo |
E no décimo quinto dia de dezembro, do ano de 2010, o senhor Francisco Everardo Oliveira Silva, eleito pelo Estado de São Paulo como o deputado federal mais votado do Brasil, com mais de 1,3 milhão de votos, resolveu visitar o Congresso Nacional.
Ali, ainda não em caráter oficial, percorreu as dependências da casa e concedeu a honra de sua atenção a alguns jornalistas.
O jornalista pergunta: _ Deputado, qual o seu primeiro projeto?
O deputado responde rápido: _ Um apartamento.
Surpresa. O jornalista insiste, paciente: _ Não é disso que se trata. O que fará pelo povo?
O deputado, mais surpreso ainda, responde: _ Que povo?
O jornalista volta à carga: _ O povo que te elegeu.
O deputado então entende e esclarece: _ Vou trabalhar pela Educação.
Everardo é muito mais conhecido por Tiririca, um palhaço da televisão, eleito com o revelador e sincero slogan: "Vote em Tiririca. Pior do que está não fica."
E fecham-se as cortinas.
Assim é o Brasil nesta data.
Lamentável os empobrecimentos moral e intelectual constatáveis a cada nova legislatura. Olavo de Carvalho, há doze anos, descreveu perfeitamente as personagens dessa nova era, no artigo "Benedita e lei maldita":
ResponderExcluir"A decadência geral da política criou um tipo caricatural de líder popular cujo sucesso não se deve às suas qualidades, mas precisamente à falta delas. Vêm do povo, mas não se destacam dele senão pela posição que ocupam, sem que a essa coordenada exterior corresponda nenhuma individualização qualitativa. Neles o povo não reconhece o melhor de si, mas apenas a sua auto-imagem banal de todos os dias, a identidade rasa e direta do irrelevante com o irrelevante. Ninguém quer ser como eles, porque todos já o são; querem apenas ter o que eles têm, estar onde eles estão. São objeto de inveja, não de admiração. Votar neles não é prestar-lhes homenagem: é lisonjear o próprio ego."