As autoridades cariocas parecem eufóricas com o sucesso das operações policiais-militares da guerra contra o tráfico no Rio de Janeiro. Por sua vez, os moradores das favelas ocupadas também parecem felizes.
Nada contra essa felicidade geral; eliminar as chances dos criminosos é uma das metas da democracia e do estado de direito, de uma sociedade civilizada. Mas é impossível não receber com um certo espanto ou reticências a afirmação do secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, de que "o Complexo do Alemão é o coração do mal do Rio de Janeiro."
Então, uma vez dominado o Alemão tudo se resolverá no Rio?
Há poucos dias estava tudo pacificado naquele estado, e agora chegaram ao coração do mal.
É uma frase de efeito, poética até, mas não dá conta da complexidade do situação das drogas e do crime no Rio de Janeiro. Décadas de rendição ao crime, milhares de famílias envolvidas de algum modo, considerando fornecedores e usuários, e, no meio de tudo, a corrupção policial, as milícias, e o oportunismo político.
Áreas imensas da Cidade foram entregues, por desleixo, incúria, preguiça, ou más-intenções aos traficantes. No final do dos anos 70, Homero Icaza Sánchez, conhecido por El Brujo, o primeiro analista de pesquisas da Rede Globo, dizia: "onde existe um vácuo de poder, a ordem será imposta pelos bandidos. Não existe vácuo de poder."
Dito e feito.
A cultura do vitimismo, que perdoa os bandidos, e da ideia de que consumir drogas é um barato que não tem um preço social disseminou-se pelo Rio, até o estado de podridão atual.
O filme Tropa de Elite (I) assinalou que o usuário também faz parte da corrente do crime, pois capitaliza os traficantes. E, ninguém nasceu viciado.
Toda a esquerda engajada atacou o filme e o seu diretor como se um filme fosse um trabalho acadêmico, não uma peça ficcional. Há um esforço, quase estético, em fazer parecer glamouroso usar um baseado ou eliminar uma carreira de pó.
E, muita gente que usa maconha, por um certo viés natureba, ainda reclama de fumantes de cigarros, como se estes fossem uns seres antissociais.
Beltrame está errado.
O coração do mal do Rio de Janeiro está na Zona Sul, onde os abastados, descolados, chiques, intelectuais, universitários, esquerdinhas modernos, alimentam o tráfico consumindo drogas e espalhando a morte nas festas juvenis.
Esse é o coração do mal do Rio de Janeiro, a Cultura Bandida.
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