Defensores
da impunidade
Percival
Puggina
30
Novembro 2013
Em nosso
país, a mentira é direito humano.
Você
está surpreso? Eu não. Nunca levei a sério políticos e partidos que centravam
sua estratégia rumo ao poder no ataque impiedoso à honra dos adversários e na
afetação de virtudes excelsas. Muito escrevi sobre a conduta irresponsável dos
que, sem qualquer escrúpulo ou discernimento, se apresentavam com lança-chamas
e tonéis de gasolina ao menor sinal de fumaça que surgisse nas proximidades de
seus oponentes.
Mas a estratégia foi exitosa. A sociedade sentiu-se inclinada a
crer na virtude dos acusadores, desatenta para o fato de que onde estiver o ser
humano estarão presentes as potências do mal e do bem. E o que melhor detém a
ação do mal é a certeza da punição.
Na política não existe imunidade natural
frente ao poder de corrupção. Nem frente à corrupção nos escalões do poder. O
que funciona é a certeza de que as instituições estão moldadas de forma a
identificar e punir os culpados. E o Brasil não chega em 63º lugar no ranking
da honestidade sem uma bem consolidada cultura de impunidade.
Em nosso
país, a mentira é direito humano.
A impunidade é cuidadosa construção. Lança
fundações nos meandros de leis e códigos em cujos labirintos se orientam os
bons advogados. Ergue paredes nos flagrantes não homologados por motivos
irrelevantes. Lança pilares e vigas na permissividade das execuções penais e na
benevolente progressão das penas. Ganha telhado quando a criminalidade é tanta
que muitos delitos ficam banalizados, inclusive sob a ótica da sociedade e de
seus julgadores.
A maioria dos crimes praticados no país sequer é notificada
pelas vítimas. O telhado protetor da impunidade foi, assim, posto e bem posto.
Somos um estranho país onde é acusado de criminalizar os movimentos sociais
quem comete a inaudita violência de descrever o que fazem. Somos um país onde condenados
passeiam livremente nas ruas porque não há vaga nos presídios. E não se
constroem presídios.
Pois o
rumoroso processo do Mensalão realiza a façanha, depois de sete longos anos, de
chegar ao período de sentenças definitivas, transitadas em julgado. Não faria o
menor sentido discutir, aqui, a correção das condenações. Quase todas foram
proferidas por ministros do STF indicados pelo governo do partido dos réus.
Ambos, governo e partido reconheceram os crimes.
O próprio Lula, em 12 de
agosto de 2005, no auge do escândalo, falou à nação: "Eu me sinto traído.
Traído por práticas inaceitáveis, das quais nunca tive conhecimento. (...) Não
tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir
desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir
desculpas" (há vídeo no YouTube com o título "Lula pede
desculpas").
No mesmo dia, Tarso Genro, no exercício da presidência do PT,
anunciou a refundação do partido e disse que este iria punir cada um dos
envolvidos em denúncias de corrupção e caixa dois para financiamento de
campanhas (Agência Brasil, 12/08/2005).
O atual
Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na edição da revista Veja de
20/02/2008, em longa entrevista às Páginas Amarelas, reconheceu: "Teve
pagamento ilegal de recursos a partidos aliados? Teve. Ponto Final. É ilegal?
É. É indiscutível? É. Nós não podemos esconder esse fato da sociedade".
Agora,
desmentem a si mesmos!
Adotam uma estratégia desesperada, que fala em
"presos políticos", tenta criminalizar o STF, pretende denegrir a
imagem do ministro Joaquim Barbosa, e deseja vitimizar os presos perante a
opinião pública.
É o derradeiro desserviço prestado pelos réus do Mensalão e
seus companheiros a uma nação que precisa vencer a impunidade. Talvez pretendessem
sair deste processo sentenciados a fazer o que melhor fazem: distribuir algumas
cestas-básicas ao povo.
PERCIVAL PUGGINA
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/14737-defensores-da-impunidade.html
MENSALÃO: EM 2005 LULA SE DISSE TRAÍDO
MENSALÃO: EM 2005 LULA SE DISSE TRAÍDO
Nenhum comentário:
Postar um comentário