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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A MORTE É UM PROBLEMA DOS VIVOS; OS MORTOS NÃO TÊM PROBLEMAS. O que parecem pensar aqueles que nos olham da caverna da morte? Por falta de imagens de seus parentes vivos, os antigos guardavam fotos de parentes mortos “representando” estar vivos.



MOÇA DORME SUAVEMENTE (1870) - THANATOS ARCHIVE
Independente das questões de natureza metafísica, filosóficas ou religiosas, a morte é o maior problema para os humanos. Diz Norbert Elias que a morte é um problema dos vivos, pois “os mortos não têm problemas”. 

Se a Cultura, como somatório do imaginário humano, é o ponto de convergência do desenvolvimento e orientação de muitas raízes imaginativas, uma delas, talvez a primeira e mais profunda, seja aquela que corresponde à percepção da morte.

Lidar com a noção da morte, do fim da vida, é algo elementar. 

Durante milhares de anos as pessoas e as culturas guardaram as imagens do passado apenas na memória; em um certo tempo os humanos aprenderam a desenhar e a fixar as imagens em suportes externos, como a parede de pedra de uma caverna, a madeira de uma grande árvore; depois em estatuetas e esculturas.

Foi necessário muito tempo para que famílias comuns pudessem ter uma imagem simples como uma fotografia impressa em metal ou no papel para preservar a representação de alguém. No século XIX ter uma pintura de alguém da família era um alto luxo, e muito caro era também conseguir uma imagem fotográfica de uma pessoa.

TALVEZ A ÚNICA FOTO DA FILHA QUERIDA (SÉC. XIX)

Daguèrre desenvolveu o processo fotográfico (daguerreotipia) anunciado ao mundo em 1839. Década depois ainda era caro demais para uma família conseguir ter uma imagem de alguém como simples lembrança.

Depois de 1870, quando, segundo algumas fontes, a Rainha Vitória mandou que fizessem fotos de um morto para ela ter de lembrança é que a fotografia começou a ser utilizada para registrar imagens de mortos queridos. 

Pode parecer mórbido, exótico, curioso, bizarro, mas é perfeitamente compreensível que uma família quisesse ter uma imagem de alguém morto para mostrar às futuras gerações: assim foi seu pai, assim foi sua mãe, estes eram seus avós, etc... As famílias não tinham qualquer imagem, nem dos vivos! 

Às vezes, durante toda uma vida, de 40, 50 ou 60 anos, as pessoas não dispunham de dinheiro para ter uma única fotografia. 

Mal conseguimos imaginar isso, uma vez que hoje em dia crianças com dois ou três anos manejam celulares que dispõem de câmaras fotográficas, entupindo o espaço virtual de imagens, num volume tal que boa parte não passa de puro lixo.

Basta pensar no depósito de idiotices que é o Facebook.

Então, entre 1870 e até 1930 ou 1940, foi bastante comum famílias, de diversas culturas ou países, mandarem fotógrafos fazerem fotos de um morto.   

Geralmente essas imagens foram feitos pouco tempo após a morte de uma pessoa, criança, jovem ou adulto, e procuravam imitar uma cena do cotidiano.

CRIANÇA DORMINDO COM ANJOS (SEC. XIX)

Um irmão com um braço sobre os ombros do outro; uma criança sentada em uma cadeira olhando para a lente da câmara, uma jovem dormindo tranquilamente com a cabeça apoiada sobre almofadas, a mãe acalentando nos braços o nenê.

Cenas absolutamente comuns, como aquelas que costumavam aparecer em fotografias de pessoas vivas, exceto pelo fato de que muitos dos fotografados estavam mortos.

MENINA COM OLHOS ABERTOS (SEC XIX)

Diz um teórico checo Ivan Bystrina que, além da morte, dos sonhos, dos estados alterados da consciência, entre outras, a imitação (mimicry) seria uma das raízes da Cultura. Não sem razão Aristóteles já pesquisava a Mímese, no campo da Estética. A tentativa da Arte de imitar a Realidade.     

Se não foi possível ter uma fotografia de um ente querido em vida, então que se produzissem fotografias “teatrais”, com os mortos representando viver! Suprema ironia...

FONTES:

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