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segunda-feira, 7 de maio de 2012

ABANDONO AFETIVO. JUSTIÇA MANDA PAI PAGAR INDENIZAÇÃO A FILHA. É JUSTO OBRIGAR UM PAI A AMAR? Talvez por falta de trabalho, o Judiciário mete-se na vida privada dos cidadãos. Querem construir o paraíso aqui na Terra? Mais fácil será criar outro inferno...



ALGUMAS PROVOCAÇÕES:

1. Seu irmão mais velho gostava mais dos amigos dele do que de você?
2. Sua avó sempre deu mais atenção ao seu primo chato?
3. Sua mãe dava uma mesada maior para o seu irmão caçula?
4. Você não gostou daquele abraço –que pareceu falso- de sua tia Josefa?
5. Seu pai jogava futebol de várzea e não levava você junto para ser o gandula?

Não faz mal, para tudo há um santo remédio: Money! Dinheiro! O vil metal.
Basta que você consiga um bom advogado e entre com uma ação por danos morais no fórum mais perto de sua casa.

1. Alegue falta de solidariedade fraterna
2. Síndrome da avó com exacerbação de chatice
3. Carência de balas e pirulitos
4. Falsidade parental
5. Síndrome de deficiência da pelota

Assim como todos vocês, imagino, li com curiosidade, interesse e surpresa, a notícia do caso da moça de Sorocaba que processou o pai por “abandono afetivo” e obteve uma decisão favorável do STJ mandando o pai malvado a pagar uma compensação, digo, indenização, no valor de R$415 mil reais, depois rebaixada para apenas R$200 mil reais. O pai, segundo li hoje (7/5), vai recorrer, para anular a sentença.

Cada caso é um caso, por certo, mas as leis são gerais. Se o pai de alguém fosse um carrinheiro, catador de lixo, o filho deveria pediria quanto de indenização? Uma lata de cerveja de alumínio amassada? Se fosse dono de uma quitanda o tribunal sapecaria: um cacho de banana nanica, até o fim da vida, uma vez por mês?

Não estou descrendo da dor e da amargura alheias, mas creio que o Judiciário está começando a derrapar em sua função, querendo consertar o mundo. E as pessoas adultas estão começando a agir como se fossem crianças mimadas e birrentas, 

Sempre li –por sorte meus pais sempre adquiriram muitos livros- e aprendi que a vida é feita de altos e baixos, alegrias e tristezas. Nem sempre quem amamos nos ama de igual modo. Nem sempre podemos ter tudo que queremos. Nem sempre nosso trabalho é o melhor do mundo. Nem sempre podemos ter a atenção merecida (ou que imaginamos merecer).    

DIREITO DE SER FELIZ

Nos últimos anos se acentua um modo estranho de encarar a realidade, a crueza da vida, uma tal filosofia do “tenho direito a ser feliz”. Sempre aprendi que para cada direito há um dever nosso correspondente. Como alguém pode decretar que alguém tem que ser feliz?

Há uma filosofia vagabunda –do tipo de auto ajuda- que nos vende que temos o direito de sermos felizes! Quem nos garantirá isso? A Constituição? O Superior Tribunal Federal?

Meu vizinhos que moravam em uma rua calçada era mais felizes que eu que morava em uma rua de terra e areia? Meus amigos que ganhavam brinquedos mais caros eram mais felizes que eu que ganhava carrinhos de plástico injetado vendidos nas Americanas, nos distantes anos 60?

Amigos que andavam descalços eram mais infelizes que eu que tinha um ou dois pares de sapatos? Sempre os vi brincando na rua, subindo em árvores, jogando bola, dando topadas no dedão, mas não creio que um dia pudessem imaginar em processar alguém por carência de sapatos.

Não, não estou advogando o estado de pobreza, nem o conformismo. Apenas registro que não há nada que possa ser decretado, de fora para dentro, como a imposição de alguém ser feliz na marra, por obrigação.

Do mesmo modo acho absurdo um tribunal aceitar julgar um caso assim. Geralmente os pais (os homens) é que são penalizados nas separações (sem entrar no mérito de casa caso, por impossível). Os filhos, com raras exceções, ficam com a mãe.

Um sujeito tem um filho antes de casar. Isso não é crime e nem pode lhe ser atribuída culpa. Isso acontece! Depois se afasta da mulher e da criança, segue com a vida e constrói uma família. Com relação à primeira criança, paga a pensão ordenada pelo Justiça, até os 21 anos. Ela foi reconhecida como filha e é herdeira de seus bens, como os demais irmãos do outro casamento.

O que mais ele deveria fazer? Telefonar vez ou outra? Dar um passeio no zôo? Sabemos que isso não funciona sempre assim.

Se ele, o pai, morasse no Acre, e a mãe e a criança no rio Grande do Sul? E se a mãe, como muitas vezes acontece, envenenasse a criança contra o pai? Seria fácil ver e dar afeto ao filho? Creio que não. Também sabemos disso.

Há milhões de histórias tristes assim. Por conta de vida profissional de meu pai sempre moramos em municípios distantes, de fronteira, muito longe da família, dos avós e tios e primos.

Às vezes pegávamos um trem para, após longa viagem, passar uns dias na casa dos avós. Que felicidade! E quanta felicidade me foi roubada por meu pai que não podia viajar mais vezes por ano! Por que não o processei por isso?!?  ... Não seria um absurdo? Assim é a vida.

Há hoje uma idéia sobre “direito à felicidade”, realmente absurda, que faz crescerem pessoas fracas e incapazes de encarar as dificuldades da vida. Basta observar como o Estado está estendendo a adolescência até os 30 anos! 30 anos! E como transforma os jovens em idiotas sem iniciativa pela super-proteção. Basta analisar o comportamento de crianças birrentas dos jovens indignados espanhóis que vemos no noticiário. Indignados com a crise que os forçará a um padrão de vida mais modesto. A crise é  triste, mas faz parte da vida.

Nos anos da quebra da bolsa, em 1929, centenas se suicidaram, milhões de famílias sofreram, mas a saída foi trabalhar. Ninguém fez marchinhas de indignação, não havia Papai Estado para dar bolsinhas de presente, esmola oficial.  Basta ver fotos daquele tempo, das famílias caipiras americanas, brancas ou negras, igualadas na miséria. Mesmo naquela pobreza absoluta nunca houve momentos de felicidade?

É preciso fazer os jovens aprenderem que tudo tem um determinado valor, que as durezas da vida nos temperam a vontade, nos tornam mais fortes. Acredito, sim, que uma pessoa possa ter mágoas do pai, da mãe, de irmãos. Isso é humano.

O que não parece compreensível é acreditar (mera ilusão!) que uma indenização pecuniária vá compensar a espera de um afago na cabeça, um  sorriso, ou um abraço apertado.

A moça poderá ficar com a conta bancária um pouco mais cheia, mais confortável, mas continuará com o seu próprio coração vazio. E nunca terá, talvez, aquele pai que disse procurar. Só espero que ela seja, realmente, uma boa mãe para seus filhos. 

PS: Uma perguntinha que havia escapado: Filhos ingratos também podem ser processados?


Imagem de:
http://www.free-extras.com/search/1/broken+heart.htm

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