1. No dia 16 de maio de 1970 perdi meu pai, um pacato cidadão que transitava por uma rua de São Paulo. Ele ia em busca do pão de cada dia e, sem uma palavra qualquer, nunca mais voltou para casa. Ficaram cinco filhos desamparados.
2. No dia 16 de maio de 1970 perdi um irmão mais velho, rapaz tranqüilo que servia o exército, nos seus tenros 18 anos de idade. Ele também nunca mais voltou para casa. Ficaram quatro pessoas saudosas.
3. No dia 16 de maio de 1970 perdi a minha mãe, que voltava da feira. Carinhosa com os filhos, não era capaz de matar uma barata com o chinelo. Também ficou retida em algum lugar por aí, e abandonou para sempre seus queridos filhos. Três filhos perderam a mãe.
Todos eles foram explodidos por bombas terroristas. (*)
Hoje, passados 15.330 dias cheios de uma saudade dolorosa, e nenhuma esperança de os rever, escuto a minha presidente dizer, chorosa: "Sobretudo merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes, e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia", afirmou a presidente, muito emocionada.
E mais: "Ao instalar a Comissão da Verdade, não nos move o revanchismo, o ódio, ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente do que aconteceu. Mas nos move a necessidade imperiosa de conhecê-la em sua plenitude, sem ocultamento, sem camuflagem, vetos, sem proibições", disse a presidente.
Estaria a nossa querida presidente pensando apenas nas pessoas que foram vitimas de torturadores ligados à ditadura militar? Por um segundo, ao menos, ela chegou a pensar, embora sem ter dito uma palavra de consolo às famílias das vitimas do Terror, nas pessoas que morreram apenas porque os terroristas deixaram uma bomba pérfida, traiçoeira, disfarçada em uma lata, em um pacote em um canto de muro, para explodir e levar inocentes?
É a isso que a presidente Dilma Roussef se refere quando fala naqueles que ela diz que lutaram pela liberdade? Mas que diabos de liberdade se os grupos da luta armada lutavam furiosamente para implantar uma outra ditadura no Brasil? Uma ditadura apoiada pela sangrenta ditadura cubana dos Castros?
Durante a cerimônia de instalação da comissão, no Planalto, a presidente também chorou ao falar sobre o sentimento dos familiares de mortos e desaparecidos durante o regime militar. Será que ela incluiu aí os mortos pelos atentados terroristas? NÃO SABEREMOS, POIS SOBRE ISSO NADA FALOU.
Todos os que perderam parentes, TODOS, têm direito a explicações. Respeito o sentimento dos que tiveram seus parentes mortos, torturados e que desapareceram. Mas nunca ouvi de um ex-terrorista, nem da senhora Dilma Rousseff, que fez parte de alguns dos mais violentos grupos da luta armada, um pedido de desculpas às famílias das vitimas, aos que ficaram, desamparados, estraçalhados pela dor da perda.
Por que uma vitima dos torturadores do Estado parece valer mais que uma vitima dos terroristas, uma mãe, uma irmã, um filho, um pai trabalhador?
Enquanto eu não ouvir um pedido de desculpas sincero, enquanto o Estado não fizer um monumento às vitimas do terror, enquanto as famílias que ficaram 40 anos desamparadas, sem explicações, não forem consideradas tão decentes e merecedoras das atenções das autoridades como as vítimas da ditadura, creio não estar vivendo em um pais digno, democrata, onde as leis valem para todos.
A moralidade revolucionaria de esquerda, que tem licença para matar, por conta de que acredita que os fins justificam os meios, é uma afronta aos cidadãos decentes.
E continuou a presidente: “Sobretudo merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes, e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia", afirmou a presidente, muito emocionada.
"É como se disséssemos que se existem filhos sem pai, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos. Nunca, nunca mesmo pode existir uma história sem voz. E quem dá voz a história são homens e mulheres livres que não têm medo de escrevê-la."
Pois é, presidente, as vitimas dos terroristas também deixaram famílias que continuam sofrendo como se eles tivessem morrendo de novo e sempre a cada dia, há mais de 15.330 dias; DURANTE 42 LONGOS ANOS.
TEXTO PRODUZIDO COM INFORMAÇÕES DE VEJA E A FOLHA
(*)
NÃO PERDI MEU PAI, NEM IRMÃO E NEM MÃE NAQUELAS CIRCUNSTÂNCIAS, EVIDENTEMENTE. Trata-se de retórica, de enfatizar os fatos e a dor dos que sentiram isso na família, 119 assassinados pelos terroristas que nos queriam “libertar”.
Com todo o respeito a todos os que perderam parentes no tempo da ditadura, incluindo aqueles que foram homenageados hoje pela nossa presidente Dilma Rousseff, mas um brasileiro não vale mais que outro.
Será que alguma vez o então garoto de 20 anos Orlando Lovecchio, hoje com mais de 60 anos, ouviu um pedido de desculpas sincero por parte daqueles que colocaram a bomba no Conjunto Nacional, em São Paulo? Lovecchio nunca mais pode ser piloto civil porque ficou sem uma perna após a explosão. Ele apenas passava pelo local.
Ou todos valemos alguma coisa, igualmente, ou então aqui ninguém vale absolutamente nada.
Gutenberg J.
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