GRANDE DEPRESSÃO, DOROTHEA LANGE |
Vez ou outra sou obrigado a remexer arquivos de obras de grandes fotógrafos e nunca deixo de admirar artistas como os fotógrafos que documentaram, para o governo dos EUA, o gigantesco drama que foi para o povo norte-americano o período da Grande Depressão, nos anos 30.
É impossível não ficar emocionado diante de rostos sofridos, duros, de expressão áspera até, que espelham com grande realismo as agruras pela qual passaram. Mas cheios de esperança, de vontade de trabalhar.
GRANDE DEPRESSÃO, CARL MYDANS |
Milhões de americanos sem emprego, sem reservas financeiras, sem políticas de wellfare-state (redes protetoras do estado), com muitos filhos pedindo comida, sem roupas, ou sapatos, perambulando pelo imenso território em seus velhos Fords dos anos 10 ou 20, quase se desmontando, à procura de migalhas, de pequenos serviços, de bicos, ou da sombra protetora de uma arvora à beira da estrada, ou uma barraca improvisada de lona de caminhão.
GRANDE DEPRESSÃO |
Que povo lutador.
A DEPRESSÃO DE 2012 NA ESPANHA |
Também não posso deixar de me admirar diante das fotos dos tais indignados jovens espanhóis.
Rosados, rechonchudos, bem educados.
Mimados pelo Estado, viciados em favores oficiais. Cínicos e cheios de si. E malcriados, muito malcriados. Só aprenderam a ter direitos. Vinde a nós. Nada de deveres.
Com a crise que assola a Europa, nem de perto parecida com a Grande Depressão, fica evidente o estrago que pode fazer o “mimo” oficial, as esmolas dos favores do estado. Na verdade, não há almoço grátis, o povo sempre paga a conta.
INDIGNADOS PELO CORTE DAS MESADAS OFICIAIS |
Nas imagens vemos jovens bem nutridos que não sabem o que fazer diante da vida; foram engordados pelas esmolas públicas até os 30 anos de idade, cevados como animais cujas jaulas foram abertas repentinamente. Que fazer diante dos dramas da vida real?
Disso e muito mais é do que trata o texto do professor Olavo de Carvalho reproduzido abaixo.
Pensem muito a respeito. Pode ser um pouco difícil iniciar uma vida sem esmolas. Mas lembrem-se, embora sedutoras, podem viciar de modo mortal.
A ENGENHARIA DA DESORDEM
OLAVO DE CARVALHO
13 SETEMBRO 2012
Transforme os pobres em mendigos remediados e em poucos anos você terá criado uma massa de pequenos aproveitadores cínicos, empenhados em eternizar a condição de dependência e extrair dela proveitos miúdos, mas crescentes, fazendo do próprio aviltamento um meio de vida.
Todo mundo sabe que a base eleitoral do ex-presidente Lula, bem como a da sua sucessora, está nas filas de beneficiários das verbas do Fome Zero. Embora a origem do programa remonte ao governo FHC, o embrulhão-em-chefe conseguiu fundi-lo de tal maneira à imagem da sua pessoa, que a multidão dos recebedores teme que votar contra ele seja matar a galinha dos ovos de ouro.
No começo ele prometia, em vez disso, lhes arranjar empregos, mas depois se absteve prudentemente de fazê-lo e preferiu, com esperteza de mafioso, reduzi-los à condição de dependentes crônicos.
O cidadão que sai da miséria para entrar no mercado de trabalho pode permanecer grato, durante algum tempo, a quem lhe deu essa oportunidade, mas no correr dos anos acaba percebendo que sua sorte depende do seu próprio esforço e não de um favor recebido tempos atrás. Já aquele cuja subsistência provém de favores renovados todos os meses torna-se um puxa-saco compulsivo, um servidor devoto do "Padim", um profissional do beija-mão.
O político que faz carreira baseado nesse tipo de programa é, com toda a evidência, um corruptor em larga escala, que vive da deterioração da moralidade popular. É impossível que o crescimento do Fome Zero não tenha nada a ver com o da criminalidade, do consumo de drogas e dos casos de depressão.
Transforme os pobres em mendigos remediados e em poucos anos você terá criado uma massa de pequenos aproveitadores cínicos, empenhados em eternizar a condição de dependência e extrair dela proveitos miúdos, mas crescentes, fazendo do próprio aviltamento um meio de vida.
O assistencialismo estatal vicioso não foi, porém, o único meio usado pela elite petista para reduzir a sociedade brasileira a um estado de incerteza moral e de anomia.
Na mesma medida em que se absteve de criar empregos, o sr. Lula também se esquivou de dar aos pobres qualquer rudimento de educação, por mais mínimo que fosse, para lhes garantir a longo prazo uma vida mais dotada de sentido. Durante seus dois mandatos o sistema educacional brasileiro tornou-se um dos piores do universo, uma fábrica de analfabetos e delinquentes como nunca se viu no mundo.
Ao mesmo tempo, o governo forçava a implantação de novos modelos de conduta – abortismo, gayzismo, racialismo, ecolatria, laicismo à outrance etc. –, sabendo perfeitamente que a quebra repentina dos padrões de moralidade tradicionais produz aquele estado de perplexidade e desorientação, aquela dissolução dos laços de solidariedade social, que desemboca no indiferentismo moral, no individualismo egoísta e na criminalidade.
Por fim, à dissolução da capacidade de julgamento moral seguiu-se a da ordem jurídica: o novo projeto de Código Penal, invertendo a escala de gravidade dos crimes, consagrando o aborto como direito incondicional, facilitando a prática da pedofilia, descriminalizando criminosos e criminalizando cidadãos honestos por dá cá aquela-palha, choca de tal modo os hábitos e valores da população, que equivale a um convite aberto à insolência e ao desrespeito.
Só o observador morbidamente ingênuo poderá enxergar nesses fenômenos um conjunto de erros e fracassos. Seria preciso uma constelação miraculosa de puras coincidências para que, sistematicamente, todos os erros e fracassos levassem sempre ao sucesso cada vez maior dos seus autores.
Tudo isso parece loucura, mas é loucura premeditada, racional. É uma obra de engenharia. Se há uma obviedade jamais desmentida pela experiência, é esta: a desorganização sistemática da sociedade é o modo mais fácil e rápido de elevar uma elite militante ao poder absoluto. Para isso não é preciso nem mesmo suspender as garantias jurídicas formais, implantar uma "ditadura" às claras. Já faz muitas décadas que a sociologia e a ciência política compreenderam esse processo nos seus últimos detalhes.
Leiam, por exemplo, o clássico estudo de Karl Mannheim, A estratégia do grupo nazista (no volume Diagnóstico do Nosso Tempo, ed. Zahar). A fórmula é bem simples: na confusão geral das consciências, toda discussão racional se torna impossível e então, naturalmente, espontaneamente, quase imperceptivelmente, o centro decisório se desloca para as mãos dos mais descarados e cínicos, aos quais o próprio povo, atônito e inseguro, recorrerá como aos símbolos derradeiros da autoridade e da ordem no meio do caos. Isso já está acontecendo.
A ascensão dos partidos de esquerda à condição de dominadores exclusivos do panorama político, praticamente sem oposição, nunca teria sido possível sem o longo trabalho de destruição da ordem na sociedade e nas almas. Mas também não teria sido possível se o caos fosse completo.
O caos completo só convém a anarquistas de porão, marginais e oprimidos. Quando a revolução vem de cima, é essencial que alguns setores da vida social, indispensáveis à manutenção do poder de governo, sejam preservados no meio da demolição geral.
Os campos escolhidos para permanecer sob o domínio da razão foram, compreensivelmente, a Receita Federal, o Ministério da Defesa e a economia. A primeira, a mais indispensável de todas, porque não se faz uma revolução sem dinheiro, e ninguém jamais chegará a dominar o Estado por dentro se não consegue fazer com que ele próprio financie a operação.
A administração relativamente sensata dos outros dois campos anestesiou e neutralizou preventivamente, com eficiência inegável, as duas classes sociais de onde poderia provir alguma resistência ao regime, como se viu em 1964: os militares e os empresários. Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça.
Publicado no Diário do Comércio.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/13406-a-engenharia-da-desordem.html
IMAGENS DA DEPRESSÃO:
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