O MARINÊS
DENIS LERRER ROSENFIELD
O Estado de S.Paulo - 21/10
O marinês é uma nova língua
política que se caracteriza por abstrações e fórmulas vagas com o intuito de
capturar o apoio dos incautos. Suas expressões aparentemente nada significam,
porém procuram suscitar a simpatia de pessoas que aderem ao politicamente
correto. Mas só aparentemente nada significam, pois carregam toda uma bagagem
teórica que, se aplicada, faria do Brasil um país não de sonháticos, mas de
pesadeláticos.
Marina Silva ganhou imenso
protagonismo nas últimas semanas ao ingressar no PSB do governador Eduardo
Campos, fazendo um movimento político inusitado. Ao, aparentemente, aderir ao
candidato socialista acabou roubando para ela a cena política, como se fosse,
de fato, a protagonista. De segunda posição, a de vice, age como se encarnasse
a primeira, de candidata a presidente.
No afã de ganhar espaço
midiático, não cessa de dar entrevistas e declarações: num único dia conseguiu
o prodígio de ser entrevistada pelos maiores jornais do País, Estadão, O Globo
e Folha de S.Paulo, que fizeram manchetes dessas declarações. Nada disse, porém
não parava de falar. Vejamos algumas dessas expressões, sob a forma de um
dicionário explicativo.
Coligação ou aliança programática
- eis uma fórmula das mais utilizadas. Numa primeira abordagem, significaria
uma aliança de novo tipo, baseada em programas, e não mais em acordos meramente
pragmáticos. Seu objetivo é mostrar que as ideias são prioritárias, não os
meros interesses partidários.
Acontece que um escrutínio mais
atento dessas ideias mostra uma concepção extremamente conservadora da relação
homem-natureza, devendo ele abandonar a "civilização" do
"lucro" e do "consumo" e voltar à floresta. É como se o
homem atual fosse uma espécie de excrescência natural. A natureza é endeusada
sob a forma de um neopanteísmo, como se mexer numa árvore constituísse uma
agressão a algo sagrado.
Se há desmatamento é porque os
seres humanos precisam alimentar-se, e não por simples ímpeto destrutivo. O
Brasil, lembremos, é o país mais conservacionista do planeta: preservou 61% de
sua cobertura natural nativa, além de mais de 80% da Amazônia. A oposição de
Marina à agricultura e à pecuária, se viesse a ser governo, se traduziria por
um imenso prejuízo para o País, hoje celeiro do mundo.
A candidata, quando ministra do Meio Ambiente, mostrou-se claramente avessa ao progresso, procurando, por exemplo, de todas as formas tornar inviável não só a comercialização dos transgênicos, mas a própria pesquisa. Ou seja, ela se colocou contra o conhecimento científico. O "novo" significa aqui opor-se ao progresso da ciência e ao desenvolvimento econômico. O alegado "princípio da precaução" era nada mais do que o "princípio da obstrução".
A candidata, quando ministra do Meio Ambiente, mostrou-se claramente avessa ao progresso, procurando, por exemplo, de todas as formas tornar inviável não só a comercialização dos transgênicos, mas a própria pesquisa. Ou seja, ela se colocou contra o conhecimento científico. O "novo" significa aqui opor-se ao progresso da ciência e ao desenvolvimento econômico. O alegado "princípio da precaução" era nada mais do que o "princípio da obstrução".
Digna de nota também é sua
concepção dos indígenas, como se seus direitos se sobrepusessem a quaisquer
outros. Ela tem uma aversão intrínseca ao direito de propriedade, não se
importando nem com os agricultores familiares e os pequenos produtores.
Justifica pura e simplesmente sua expropriação, devendo eles ser abandonados.
Ademais, seguindo suas ideias, os indígenas deveriam ser consultados - na
verdade, decidiriam - sobre quaisquer projetos em áreas próximas às deles ou
sobre as quais tenham pretensões de direito.
Convém lembrar que o País tem,
segundo o IBGE, uma população indígena, em zona rural, em torno de 530 mil
pessoas (um bairro de São Paulo), à qual se acrescentam outras 300 mil em zona
urbana. Já ocupam 12,5% do território nacional. Ora, se todas as pretensões de
ONGs indigenistas fossem contempladas, com o apoio militante da Funai,
chegar-se-ia facilmente a 25% do território. Nem haveria índios para ocupar
toda essa vasta extensão de terra.
Acrescentem-se regras cada vez
mais restritivas em relação ao meio ambiente - algumas das quais, até o novo
Código Florestal, que ela procura reverter, tinham o efeito totalitário da
retroatividade - e outras aplicações em curso de quilombolas e populações
ribeirinhas, os "povos da floresta", no marinês, para que tenhamos as
seguintes consequências: 1) O País não poderia mais construir hidrelétricas na
Amazônia, impedindo a utilização nacional dos recursos hídricos. A oposição à
hidrelétrica de Belo Monte é um exemplo disso. 2) Ficaria cada vez mais difícil
a extração de minérios, impossibilitando a exploração de jazidas, o que
produziria um enorme retrocesso econômico e social. 3) A construção de portos e
rodovias se tornaria inviável em boa parte do território nacional, quando se
tem imensas carências nessas áreas. 4) A construção civil seria outra de suas
vítimas. 5) A agricultura e a pecuária e de modo geral o agronegócio, os
motores do desenvolvimento econômico, seriam os novos bodes expiatórios.
Democratizar a democracia - eis
outra expressão muito bonita que encobre sua função essencial. Trata-se, na
verdade, de instituir formas de consulta que confeririam poder decisório aos
ditos movimentos sociais, que compartilham as "ideias" marinistas.
Assim, para qualquer projeto seria necessário fazer consultas às seguintes
entidades (a lista não é exaustiva): Comissão Indigenista Missionária e
Comissão Pastoral da Terra, órgãos esquerdizantes da Igreja Católica, que
seguem a orientação da Teologia da Libertação, avessa ao lucro, à economia de
mercado e ao estado de direito; MST e afins, como a Via Campesina e outros, que
seguem a mesma orientação esquerdizante, propugnando a implementação no Brasil
dos modelos chavista e cubano; ONGs nacionais e internacionais (algumas delas
financiadas por Estados e empresas estrangeiros), como o Greenpeace e o
Instituto Socioambiental, que passariam a decidir igualmente sobre os diferentes
setores listados da economia nacional.
Palavras muitas vezes encobrem
significados inusitados, sobretudo dos que se dizem puros, não contaminados
pela política.
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