Aos que sabem "de ouvir
dizer"
PERCIVAL PUGGINA
12 OUTUBRO 2013
Em 1988, a sensatez perdeu
inúmeras partidas e o Brasil ganhou uma Constituição grávida de direitos,
infértil de deveres.
Vinte e cinco anos se passaram
desde a promulgação da Constituição Federal. Um nada, na linha da história. Um
vapt-vupt, na existência de cada um. No entanto, o leitor talvez se surpreenda
ao saber que, segundo a pirâmide etária brasileira de 2010, apenas 31% dos
cidadãos brasileiros de hoje tinham 18 anos ou mais naquela data. Portanto,
sessenta e nove por cento sabem do processo constituinte de 1988 apenas por
ouvirem dizer. E em questões de política e história recentes, saber por ouvir
dizer, beber de solitária fonte, é das piores maneiras de ser informado.
Surpreendeu-me a afirmação de
Lula sobre a participação de seu partido na Constituinte. Segundo ele, se
tivesse sido aprovada a constituição que o PT queria, "o país seria
ingovernável, porque nós éramos duros na queda e muito exigentes".
Com efeito, o PT da Constituinte detestou tanto o texto final que votou contra.
Não satisfeito, anunciou que sequer iria assinar aquela coisa. Denegrindo a carta e seus autores, os petistas espalharam pelo país seu escândalo ante o "conservadorismo" do texto. Por um triz os deputados do partido não rasgaram as vestes na Praça dos Três Poderes. E só após muitos apelos de Ulysses Guimarães, consentiram em acrescentar seu precioso jamegão à Carta Magna. De nariz torcido, claro.
Com efeito, o PT da Constituinte detestou tanto o texto final que votou contra.
Não satisfeito, anunciou que sequer iria assinar aquela coisa. Denegrindo a carta e seus autores, os petistas espalharam pelo país seu escândalo ante o "conservadorismo" do texto. Por um triz os deputados do partido não rasgaram as vestes na Praça dos Três Poderes. E só após muitos apelos de Ulysses Guimarães, consentiram em acrescentar seu precioso jamegão à Carta Magna. De nariz torcido, claro.
Quem lê estas linhas em 2013 deve
estranhar o fato de o PT haver sido derrotado pela maioria em 1988. Pois mais
ainda o surpreenderá saber que para aquela importantíssima legislatura o
partido de Lula conquistou apenas 16 das 487 cadeiras existentes à época na
Câmara. E não elegeu um único senador.
Os parlamentares do PT, PCB, PCdoB, PSB e PDT, somados aos esquerdistas do PMDB, compunham pequena minoria naquele plenário. Mas o reduzido grupo, liderado por José Genoíno e Roberto Freire, com apoio da CNBB, produzia um alarido de proporções nacionais em favor de teses comunistas na ordem econômica, socialistas na ordem social, populistas quase sempre. E demagógicas em tudo. Dá para reconhecer o estilo?
Os parlamentares do PT, PCB, PCdoB, PSB e PDT, somados aos esquerdistas do PMDB, compunham pequena minoria naquele plenário. Mas o reduzido grupo, liderado por José Genoíno e Roberto Freire, com apoio da CNBB, produzia um alarido de proporções nacionais em favor de teses comunistas na ordem econômica, socialistas na ordem social, populistas quase sempre. E demagógicas em tudo. Dá para reconhecer o estilo?
Poucos, hoje, terão ouvido falar
do "Centrão", o grupo de congressistas que se organizou para que
houvesse um mimimum minimorum de racionalidade no novo texto constitucional,
opondo-se às teses da esquerda radical, muito minoritária, mas muito
organizada. Este último grupo dispunha, em seu favor, de notável suporte da
mídia militante, que execrava o Centrão e o servia à opinião pública como
Salomé, na bandeja das coisas odiosas, articuladas com as mais nefastas e
malignas intenções.
Abro parêntesis: é bom que se diga, a bem da verdade, que o Centrão não foi sempre majoritário e que as cisões eram frequentes no bloco diante das pressões desencadeadas de fora para dentro do plenário e das comissões. Fecho parêntesis. Assim, em 1988, a sensatez perdeu inúmeras partidas e o Brasil ganhou uma Constituição grávida de direitos, infértil de deveres. Nos anos seguintes presenciaríamos inesquecível surto inflacionário e depois, uma escalada tributária que persiste ainda hoje entre as mais altas do mundo.
Abro parêntesis: é bom que se diga, a bem da verdade, que o Centrão não foi sempre majoritário e que as cisões eram frequentes no bloco diante das pressões desencadeadas de fora para dentro do plenário e das comissões. Fecho parêntesis. Assim, em 1988, a sensatez perdeu inúmeras partidas e o Brasil ganhou uma Constituição grávida de direitos, infértil de deveres. Nos anos seguintes presenciaríamos inesquecível surto inflacionário e depois, uma escalada tributária que persiste ainda hoje entre as mais altas do mundo.
A intenção deste artigo, quando
se comemoram os 25 anos da Constituição, é sublinhar o reconhecimento de Lula
aos pecados de seu grupo no processo constituinte de 1988. Ao declarar que as
propostas petistas tornariam o país ingovernável, ele admite ter sido bom que
não hajam vingado. Mas elas não vingaram graças a resistência dos bravos que
decidiram pagar o preço da impopularidade para que a Carta, enfim aprovada,
fosse o menor dos males possíveis. Na contramão, 14 anos mais tarde, com as
mesmas teses comunistas (na economia), socialistas (no social), populistas (em
quase tudo) e demagógicas (sempre), o PT se tornou o maior partido político do
país.
Com ele, muito distante de
qualquer sinal de contrição, ampliou-se seu exército de falsos
"progressistas". São, entre outros, os fazedores de cabeça no meio
escolar e universitário. E são os manipuladores da informação na mídia, das
consciências em templos e da Justiça em tribunais.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
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