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quarta-feira, 7 de março de 2012

ERA PÓS-KADAFI PODE TRAZER A DISSOLUÇÃO DA LÍBIA. A posse do petróleo talvez venha a ser a causa de outra guerra-civil.


Ditadores tratam a realidade como se esta pudesse ser formatada pela sua vontade. Sejam ditadores como Muamar Kadafi, sejam ideologias totalitárias que funcionam apoiadas em partidos, como o comunismo em Cuba.

Kadafi, apesar de todas as suas loucuras, manteve a Líbia unificada, evitando que o pais se fragmentasse entre as dezenas de tribos nômades originais. Ao seu modo, Kadafi incrementou um tipo de nacionalismo, impensável há algumas décadas em países árabes.

Mas o ex-ditador, agora defunto, para manter a unidade nacional perseguiu adversários e desafetos, assim como o fazem todos os demais ditadores. 

Com isso, quando surgiu a onda de revoltas chamada de Primavera Árabe,  a Líbia também começou a ter confrontos, terminando em uma guerra civil com a ONU apoiando um dos lados, o dos que queriam derrubar Kadafi.

Morto Kadafi, o novo comando nacional, o Conselho Nacional de Transição (CNT) , começa a enfrentar problemas, uma vez que o país, queiram ou não, foi cindido de alto a baixo. 

A Líbia tem áreas com muito petróleo, e outras pobres. Sem Kadafi, certamente as tribos ocupantes dos territórios ricos em petróleo viram a oportunidade de independência.

Nesta semana, na região de Bengazi, dirigentes politicos e tribais anunciaram a criação de uma região autônoma. Claro que isso preocupou o CNT, pois os novos líderes líbios temem uma futura separação, que seria uma ameaça à fonte de financiamento líbio, o petróleo.   

Segundo a imprensa internacional, “o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio, Mustafa Abdel Jalil, advertiu os dirigentes políticos e tribais que na terça-feira, 6, anunciaram em Bengazi a criação de uma região semiautônoma que usará a força para evitar a separação do país.

"Como Conselho Nacional de Transição estamos preparados para o diálogo, sem marginar ninguém nem trair ninguém, mas a Líbia é e será uma unidade indivisível, mesmo que seja pela força", disse Abdel Jalil durante uma conferência sobre a reconciliação nacional realizada nesta quarta-feira, 7, na cidade de Misrata.

Em palavras reproduzidas pela agência de notícias líbia "WAL", o líder do país pediu à região oriental da Cirenaica (Barka, em árabe) que assuma sua responsabilidade.

Além disso, ele voltou a acusar personalidades que se uniram tarde ao levantamento popular de fevereiro de 2011 contra o regime de Muamar Kadafi, assim como simpatizantes pró-Kadafi de estar por trás deste anúncio”.

Como na guerra civil algumas cidades posicionaram-se pró-Kadafi, ficou estabelecido um estremecimento interno. Agora uns acusam os outros de traição. A situação interna não é tranqüila. Milhares de negros de outros países da África e que lutaram junto às tropas kadafistas, passaram a ser perseguidos pelos vencedores, cria-se uma situação de luta racial e de perseguição.

Dizem as fontes internacionais: “Na terça-feira, cerca de 3 mil líderes tribais e políticos anunciaram em Benghazi, a principal cidade do leste da Líbia, a criação da "região federal unionista" de Barka, mas insistiram que o CNT é "o símbolo da unidade do país e seu representante legítimo nos círculos internacionais".

No entanto, este anúncio provocou uma reação de rejeição em cadeia entre a classe política, com Abdel Jalil na liderança. O presidente do CNT já mostrou na terça-feira sua rejeição a esta proposta em discurso dirigido à nação.”

Além das cisões internas, o CNT ainda terá que lidar com grupos apoiados por movimentos externos, como a Al Qaida e outros radicais que gostariam de obter áreas do território ou derrubar o poder para estabelecer outra ditadura, favorável ao islamismo radical, por exemplo.

"O CNT vê o que aconteceu em Bengazi como o início de uma conspiração sobre a qual os líbios devem estar atentos", disse Abdel Jalil em um discurso no qual também acusou países árabes, que não citou, da responsabilidade pelo ocorrido.

Após o triunfo do levantamento armado contra o regime de Kadafi, no dia 20 de outubro, e inclusive antes, começaram a se tornar latentes dois eixos de confronto entre as novas autoridades, um político-militar e outro regional.

Por um lado, começou uma disputa entre o novo poder central encarnado pelo fraco CNT e as milícias rebeldes e, por outro, um conflito entre as principais cidades e regiões do país, especialmente Trípoli, Misrata e Bengazi”, informam as matérias das agências de notícias.

Isso tudo significa que na era pós-Kadafi haverá ainda muita confusão na Líbia, que, assim como o Egito, ficarão, com certeza, creio, muito longe da idéia de que a Primavera Árabe era o abre-alas da Democracia. 

Vários daqueles países que foram varridos pela onda de revoltas terão outras formas de ditadura, apenas isso. Ao invés de leves pressões para obter mudanças políticas, as revoltas forçaram verdadeiras guerras-civis, como a atual na Síria, o que coloca em risco não só um governo ditatorial, mas toda a unidade nacional. Ainda teremos muito derramamento de sangue e insegurança pela frente.

FONTE:
Imagem de Kadafi:
http://www.forte.jor.br/2011/02/21/protestos-contra-kadafi-chegam-a-capital-da-libia/

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