Se Dilma não fosse Dilma
Percival Puggina
15 Fevereiro 2014
Ao se desligar do programa "Mais Médicos", a
doutora Ramona Matos Rodriguez abriu a caixa de Pandora desse suspeitíssimo
convênio firmado entre o governo brasileiro e a Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS) para locação de médicos cubanos.
Ramona exibiu à imprensa cópia do seu contrato com uma certa
sociedade anônima "Comercializadora de Serviços Médicos" e informou
que dos 10 mil reais por cabeça, pagos pelo Brasil, ela só recebia o
equivalente a mil reais no câmbio atual. Ou seja, confirmou ganhar apenas
aqueles 10% que eu, desde o início das tratativas para vinda dos médicos,
afirmei que constituíam o padrão para contratos desse tipo na Castro &
Castro Ltda. - antigamente conhecida como ilha de Cuba - empresa familiar com
sede e foro na cidade de Havana. E ainda há quem ouse se referir a tais
negociatas como evidências da "admirável solidariedade" da Cuba
comunista para com os necessitados do mundo. Vê se eu posso!
Em torno de dona Ramona se formou a primeira das encrencas
que haverão de cercar esse convênio nascido nas confabulações do Foro de São
Paulo (aquela supranacional esquerdista que a imprensa brasileira faz questão
de solenemente desconhecer). Muitas outras encrencas virão porque tudo que é
mal feito em algum momento cobra conserto.
O problema é que Dilma, apesar de seus 40 ministros, não tem
um ministério nem dirige um governo. Ela preside um clube, destinado ao lazer
dos sócios, vale dizer, dos partidos políticos que compõem sua base de
sustentação. Tivesse ela um bom ministro do Trabalho, este lhe diria que a
situação dos cubanos é totalmente irregular perante a legislação brasileira (a
doutora Ramona já anuncia que vai buscar na Justiça do Trabalho o que lhe é
devido pelo Brasil). Tivesse ela um bom ministro da Saúde, ele a advertiria
sobre a deficiente formação média dos profissionais médicos formados em Cuba. Tivesse ela um
bom ministro da Defesa, ele haveria de alertá-la para os riscos decorrentes da
importação, em larga escala, de agentes enviados por um país que, desde 1959,
se caracteriza por infiltrar e subsidiar guerrilheiros no resto do mundo.
Tivesse, Dilma, uma boa ministra de Direitos Humanos, menos fascinada por
ideologia e mais pela humanidade, esta iria às últimas consequências para
impedir que o Brasil protagonizasse escancarado ato de escravidão, trazendo os
cubanos sob as condições postas por Havana. Tivesse Dilma um bom ministro da
Fazenda, ele certamente lhe demonstraria o quanto é abusivo pagar um overhead
de 900% em relação a cada profissional enviado pelos Castro. Tivesse ela um bom
ministro da Economia, este abriria um berreiro para mostrar que a contabilidade
desse convênio é altamente prejudicial ao interesse nacional diante da
desproporção entre o valor do serviço prestado no Brasil e o montante enviado
para a matriz cubana.
Tivesse Dilma um bom ministro da Justiça, ele ficaria de
cabelos em pé diante do atropelo que esse contrato produz nos mais comezinhos
princípios de Justiça e na legislação nacional. Tivesse Dilma um bom ministro
da Previdência Social, ele mostraria ser líquido e certo o caráter regressivo
ao governo de qualquer ação dos médicos cubanos em busca de seus direitos
previdenciários porque o patrão de fato desses profissionais é o governo
brasileiro. Tivesse Dilma um bom ministro de Relações Exteriores, ele lhe
mostraria o quanto resulta negativo à imagem do Brasil o conhecimento
internacional das bases em que o país firmou esse convênio.
Mas Dilma preside um clube. E se o clube está nem aí para
suas verdadeiras ocupações, menos ainda haverá de estar para quaisquer
preocupações. O clube, afinal, gosta mesmo é de festa e grana.
Se Dilma não fosse Dilma e tivesse um bom ministério, se
estivesse ocupada em solucionar problemas estruturais em vez de ficar quebrando
galhos e agradando parceiros, ela teria atendido à reivindicação dos médicos
brasileiros.
Há muito tempo eles pedem uma carreira atrativa no serviço
público, a exemplo de outras que iniciam em postos remotos e, gradualmente,
promovem seus integrantes para centros maiores. Mas Dilma é apenas Dilma.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA
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