GIOVANA, 19 ANOS |
Giovana Silva nasceu no mesmo ano
em que o nosso grande piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna, tri-campeão mundial,
perdeu a vida batendo de frente a mais de 200 Km horários na Curva Tamburello,
no circuito de Ímola, Itália, no dia primeiro de maio de 1994. Uma cena
horripilante e inesquecível.
Nos seus 19 anos de idade, Giovana talvez pudesse ter sido sua fã, se vivesse na época. Talvez o conhecesse, e o admirasse. Mera especulação. Pode ser que ela nem gostasse de assistir corridas, e nem soubesse de Senna, mas gostasse da sensação da adrenalina percorrendo as veias.
Certamente gostava, caso contrário não faria fotografias do ponteiro do velocímetro atingindo altas velocidades em estradas comuns, e não em autódromos. Ela publicou uma foto no Instagram, em março deste ano, com o ponteiro (de um Gol!) atingindo 180 Km por hora. Giovana gostava de fortes emoções.
Nos seus 19 anos de idade, Giovana talvez pudesse ter sido sua fã, se vivesse na época. Talvez o conhecesse, e o admirasse. Mera especulação. Pode ser que ela nem gostasse de assistir corridas, e nem soubesse de Senna, mas gostasse da sensação da adrenalina percorrendo as veias.
Certamente gostava, caso contrário não faria fotografias do ponteiro do velocímetro atingindo altas velocidades em estradas comuns, e não em autódromos. Ela publicou uma foto no Instagram, em março deste ano, com o ponteiro (de um Gol!) atingindo 180 Km por hora. Giovana gostava de fortes emoções.
180 KM/H EM MARÇO DESTE ANO |
Uma coisa é certa, uma garota com
19 anos de idade em 2013 certamente nunca ouviu falar do penta-campeão mundial
de Fórmula 1, o argentino Juan Manuel Fangio (1911-1995) que obteve os seus
cinco títulos mundiais na década de 1950. Anos heróicos, em que os pilotos
corriam pela aventura, sem qualquer equipamento de proteção que pudesse lhes
salvar a vida em caso de acidente.
O que têm Ayrton Senna e Juan Fangio com a morte de Giovana? Nada. Muito.
SORTE E AZAR
Senna morreu porque o carro que pilotava apresentou um defeito mecânico no sistema de direção em plena curva (Tamburello) e ele nada poderia ter feito para evitar a batida. Senna teve azar.
Fangio morreu de velho. Poderia ter morrido em muitas das oportunidades em que pilotou, pois era um piloto incansável e ousado, um dos mestres inspiradores de Ayrton Senna. Fangio teve sorte.
Sorte e azar aqui não tem nada a ver com competência ou incompetência de pilotos de corrida. Pilotos são sempre competentes. Senna era competentíssimo, mas a Morte o esperava na Tamburello, e ele nada, absolutamente nada poderia ter feito.
Fangio sempre foi mais rápido que a Morte, nas corridas. Morreu de velho.
E Giovana? Giovana tinha apenas 19 anos de idade, nasceu em tempos elétricos, em tempos de impaciência, em que a garotada espera respostas imediatas das máquinas. O computador precisa funcionar de imediato, o celular precisar fazer a ligação agora. Os jovens fazem duas ou três coisas ao mesmo tempo. Ouvem música, estudam e comunicam-se pelo Facebook ao mesmo tempo.
Isso pode ser muito bom. Isso pode ser muito ruim.
Se você está em sua casa ouvindo música, comendo um sanduíche, conversando com amigos pelo Face e, até estudando um pouquinho, nada a temer. O pior que pode acontecer é você cair da cadeira, ou demorar um pouquinho para dar uma resposta a alguém.
Mas se você está em uma estrada movimentada, viajando a velocidades superiores a 150 Km por hora, com motoristas mais lentos à sua frente, caminhões, ônibus coletivos que saem e entram na estrada a qualquer momento, motos e bicicletas, pedestres abusados que cruzam a pista correndo, e ainda quer utilizar o telefone celular para conversar, mandar ou receber mensagens, ou tirar fotografias do velocímetro, então você é um temerário, não tem a menor noção do perigo de fazer algo assim quando não controla a maioria das variáveis à sua volta.
A 170 Km por hora um carro percorre mais de 42 metros em apenas um segundo. Tic – Tac.
O que têm Ayrton Senna e Juan Fangio com a morte de Giovana? Nada. Muito.
SORTE E AZAR
Senna morreu porque o carro que pilotava apresentou um defeito mecânico no sistema de direção em plena curva (Tamburello) e ele nada poderia ter feito para evitar a batida. Senna teve azar.
Fangio morreu de velho. Poderia ter morrido em muitas das oportunidades em que pilotou, pois era um piloto incansável e ousado, um dos mestres inspiradores de Ayrton Senna. Fangio teve sorte.
Sorte e azar aqui não tem nada a ver com competência ou incompetência de pilotos de corrida. Pilotos são sempre competentes. Senna era competentíssimo, mas a Morte o esperava na Tamburello, e ele nada, absolutamente nada poderia ter feito.
Fangio sempre foi mais rápido que a Morte, nas corridas. Morreu de velho.
E Giovana? Giovana tinha apenas 19 anos de idade, nasceu em tempos elétricos, em tempos de impaciência, em que a garotada espera respostas imediatas das máquinas. O computador precisa funcionar de imediato, o celular precisar fazer a ligação agora. Os jovens fazem duas ou três coisas ao mesmo tempo. Ouvem música, estudam e comunicam-se pelo Facebook ao mesmo tempo.
Isso pode ser muito bom. Isso pode ser muito ruim.
Se você está em sua casa ouvindo música, comendo um sanduíche, conversando com amigos pelo Face e, até estudando um pouquinho, nada a temer. O pior que pode acontecer é você cair da cadeira, ou demorar um pouquinho para dar uma resposta a alguém.
Mas se você está em uma estrada movimentada, viajando a velocidades superiores a 150 Km por hora, com motoristas mais lentos à sua frente, caminhões, ônibus coletivos que saem e entram na estrada a qualquer momento, motos e bicicletas, pedestres abusados que cruzam a pista correndo, e ainda quer utilizar o telefone celular para conversar, mandar ou receber mensagens, ou tirar fotografias do velocímetro, então você é um temerário, não tem a menor noção do perigo de fazer algo assim quando não controla a maioria das variáveis à sua volta.
A 170 Km por hora um carro percorre mais de 42 metros em apenas um segundo. Tic – Tac.
COMO FICOU O CARRO APÓS A BATIDA (Foto: Tarcisio Sween/VC no G1) |
Talvez ao tentar tirar uma foto
do velocímetro para registrar a velocidade em que trafegava a garota tenha
fixado a atenção no celular ou no velocímetro por alguns segundos. Em apenas
cinco segundos o carro teria percorrido a distância de 200 metros! Ela pode ter
tirado uma das mãos do volante, o celular pode ter escapado de sua mão e ele
distraiu-se por segundos. O suficiente para a Morte assumir a direção.
A LIÇÃO DE FANGIO
Quando eu tinha menos de dez anos de idade (aprendi a dirigir com dez anos, décadas atrás, no interior) li com a devida atenção um artigo curto na famosa revista Seleções de Reader´s Digest, escrito por Juan Manuel Fangio. O grande piloto dava algumas dicas para dirigir com segurança.
Olhar sempre à frente, ao menos a um quilômetro de distância; olhar no espelho retrovisor ao menos uma vez a cada sete segundos; guiar com as duas mãos ao volante, na posição de dez para as duas horas; nunca falar com o passageiro ao lado; manter toda atenção na estrada.
Isso me foi muito útil na vida, mesmo quando, às vezes, como Giovana, pisei um pouco mais fundo no acelerador. E foram várias essas vezes.
Creio que a juventude de Giovana e a sua experiência com celulares, computadores e jogos eletrônicos, a fizessem perceber a paisagem real da estrada como uma paisagem virtual de uma tela de computador. Como se fosse um jogo. A vida como um jogo.
Um velho teórico tcheco, chamado Bystrina, formulou que a Cultura tem algumas raízes profundas, perdidas no Tempo. Uma delas os jogos, com os quais aprendemos sobre a vida, passamos o tempo, sonhamos. Entre os tipos de jogos: Alea (jogar com a sorte ou azar), Ilynx (a busca da vertigem – velocidade, saltos, surfe), Agon (lutas, jogos).
Uma corrida é um tipo de luta.
Podemos ser o melhor e perder. Podemos ganhar. Fazem-se as apostas. Os torcedores vibram como se fossem eles a disputar. Repentinamente entra em campo o Azar e leva a nossa vitória, ou nossa vida. A vida, simbolicamente, pode sempre ser vista como um jogo. Mas, atenção, apenas simbolicamente.
Na tela, ao errarmos, podemos começar de novo.
A realidade, cruel, não perdoa os nossos erros. Giovana tinha apenas 19 anos de idade.
RIP GIOVANA.
A LIÇÃO DE FANGIO
Quando eu tinha menos de dez anos de idade (aprendi a dirigir com dez anos, décadas atrás, no interior) li com a devida atenção um artigo curto na famosa revista Seleções de Reader´s Digest, escrito por Juan Manuel Fangio. O grande piloto dava algumas dicas para dirigir com segurança.
Olhar sempre à frente, ao menos a um quilômetro de distância; olhar no espelho retrovisor ao menos uma vez a cada sete segundos; guiar com as duas mãos ao volante, na posição de dez para as duas horas; nunca falar com o passageiro ao lado; manter toda atenção na estrada.
Isso me foi muito útil na vida, mesmo quando, às vezes, como Giovana, pisei um pouco mais fundo no acelerador. E foram várias essas vezes.
Creio que a juventude de Giovana e a sua experiência com celulares, computadores e jogos eletrônicos, a fizessem perceber a paisagem real da estrada como uma paisagem virtual de uma tela de computador. Como se fosse um jogo. A vida como um jogo.
Um velho teórico tcheco, chamado Bystrina, formulou que a Cultura tem algumas raízes profundas, perdidas no Tempo. Uma delas os jogos, com os quais aprendemos sobre a vida, passamos o tempo, sonhamos. Entre os tipos de jogos: Alea (jogar com a sorte ou azar), Ilynx (a busca da vertigem – velocidade, saltos, surfe), Agon (lutas, jogos).
Uma corrida é um tipo de luta.
Podemos ser o melhor e perder. Podemos ganhar. Fazem-se as apostas. Os torcedores vibram como se fossem eles a disputar. Repentinamente entra em campo o Azar e leva a nossa vitória, ou nossa vida. A vida, simbolicamente, pode sempre ser vista como um jogo. Mas, atenção, apenas simbolicamente.
Na tela, ao errarmos, podemos começar de novo.
A realidade, cruel, não perdoa os nossos erros. Giovana tinha apenas 19 anos de idade.
RIP GIOVANA.
PS.
A perícia policial ainda não determinou a velocidade do carro
de Giovana; certamente não estava dentro dos limites impostos, basta olhar para
os destroços do veículo.
A imagem no celular, registrando velocidade de 170 KM horários, indica que ela, pouco antes de bater, atingiu aquela velocidade. Imprudência no mais alto grau.
Embora, lamentavelmente, tenha morrido, ao menos não atingiu outras pessoas ou veículos.
Mas uma coisa deve ficar nítida: Ela fazia esse trajeto com frequencia. A que velocidade?
Então fica uma pergunta: Nunca há policiamento ou radares por ali?
A imagem no celular, registrando velocidade de 170 KM horários, indica que ela, pouco antes de bater, atingiu aquela velocidade. Imprudência no mais alto grau.
Embora, lamentavelmente, tenha morrido, ao menos não atingiu outras pessoas ou veículos.
Mas uma coisa deve ficar nítida: Ela fazia esse trajeto com frequencia. A que velocidade?
Então fica uma pergunta: Nunca há policiamento ou radares por ali?
AYRTON SENNA, 1994, CIRCUITO DE MODENA, CURVA TAMBURELLO
JUAN FANGIO PILOTANDO MASERATTI (TESTE) EM MODENA
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