JOAQUIM PONTE MARQUES. |
As histórias são como cebolas, podem ter
muitas camadas. A história do desaparecimento e morte do pequeno Joaquim, que
morava na tranqüila Rua Brigadeiro Tobias de Aguiar, no bairro Alvorada, na
zona norte de Ribeirão Preto, é como uma grande cebola, e cada camada retirada
revela, sempre, algo pior que antes. Escavar uma cebola para chegar à camada
debaixo é como fazer arqueologia; neste caso, a arqueologia de um crime
bárbaro.
Joaquim não desapareceu de casa.
Joaquim não andou sozinho pelo bairro em
uma noite escura.
Joaquim não morreu ao cair no córrego
Tanquinho.
Joaquim foi morto dentro de casa, não
estava longe da mãe, que dormia.
Joaquim, provavelmente, foi asfixiado.
Joaquim foi levado até o córrego Tanquinho
e atirado nas águas sujas e frias, como
se fosse lixo.
Joaquim, a quem todos rezavam esperando que
surgisse, rindo e feliz, apareceu morto e flutuando no Rio Pardo, a mais de 120
quilômetros de casa, no município de Barretos.
AS ESTRANHAS CAMADAS
Primeira Camada
A primeira delas foi a do desaparecimento
de Joaquim. Na terça-feira, dia 12, Natália Mingoni Ponte, 29 anos, chamou a
polícia e disse que seu filho havia desaparecido misteriosamente de casa,
durante a madrugada.
A história, de imediato comoveu as pessoas,
devido ao fato do garoto Joaquim, três anos, ser diabético e ter que tomar
várias injeções diárias de insulina. Inicialmente foi divulgada a imagem de uma
família feliz que dá de cara com um mistério, como num filme de terror.
Joaquim Ponte Marques era filho de Artur
Pontes com Natália. Ambos estavam separados há dois anos. Natália vivia agora
com Guilherme BaYmo Longo, 28 anos. O mistério era que a casa tinha muros
altos, uma cerca de metal pontiaguda, o portão estava fechado a cadeado e o
menino tinha 80 centímetros de altura. Além disso era de madrugada, o que uma
criança faria no meio da rua?
Segunda Camada
A casa não tinha ninguém além de Guilherme,
Natália, Joaquim, e um bebê de 3 para 4 meses, filho do casal. Ninguém ouviu
nada. Não houve invasão, não houve arrombamento, aparentemente não houve
violência. Como alguém poderia acreditar no desaparecimento puro e simples de
uma criança nomeio da noite?
Terceira Camada
Soube-se que Guilherme Longo, técnico em
informática, era viciado em cocaína. Soube-se que ele, há alguns anos, estava
internado em uma clínica para dependentes químicos; Natália é psicóloga e fazia
o tratamento de Guilherme. Em um dado momento houve algo e eles se envolveram
sentimentalmente. Não se se antes ou depois da separação entre Artur e Natália.
Mas Joaquim já estava com um ano quando
separaram-se. Natália saiu da clínica onde trabalhava, e Guilherme também, pois foi dado como
recuperado por ela. Passaram a viver juntos há dois anos. Há cerca de quatro
meses nasceu uma criança filha dos dois.
Quarta Camada
A família feliz. Após a divulgação do
desaparecimento de Joaquim surgem informações sobre que Guilherme havia voltado
às drogas, destruindo o resultado do tratamento. Depoimentos de vizinhos e
parentes à imprensa dizem que a família vivia em harmonia, que o padrasto
tratava Joaquim como se fosse um filho.
Mas depoimentos de amigos e parentes podem
ser falhos, muito falhos, ou tendem a proteger a imagem familiar.
Quinta Camada
As investigações policiais começam a
apontar para contradições entre os depoimentos de Natália e Guilherme. O
delegado, com apoio da Promotoria, pede que a Justiça decrete a prisão
temporária do casal, para facilitar as investigações, mas o juiz negou, sob a
alegação de que os dois estavam colaborando para com as investigações.
Sexta Camada
Guilherme disse que fez o menino dormir,
por volta da meia noite e saiu de casa para comprar drogas. Contou que não
achou um fornecedor e que voltou para casa. Natália conta que foi dormir porque
tinha que cuidar do bebê. Ela acordou às sete para dar insulina para Joaquim e
não o encontrou, dando início às buscas. Guilherme disse que quando voltou sem
as drogas o garoto dormia.
Sétima Camada
Um excelente cão farejador da PM, conhecido
por Apache, cheirou roupas de Joaquim e seguiu uma trilha da casa abeira do
córrego. O cão cheirou roupas de Guilherme e refez a mesma trilha! Com o cheiro
de Natália ele não seguiu a mesma trilha. Ela não estava com os dois. Guilherme
afirmou à polícia que costumava andar muito por ali com o garoto.
Oitava Camada
Neste ponto os leitores já notaram que a
história toda é muito estranha. É certo que numa investigação policial qualquer
pista, ou hipótese, deve ser seguida, mas há coisas mais e coisas menos
possíveis ou prováveis. Não é muito razoável admitir que um garoto de três anos
de idade suma de uma casa fechada de madrugada, não?
Nona Camada
A escola freqüentada por Joaquim
divulgou que o menino estava já há uma semana sem comparecer às aulas,
supostamente devido à diabetes, pois a doença foi descoberta em setembro, e o
menino chegou a ficar uma semana em uma UTI hospitalar.
Nesse tempo, alguém viu o menino em
casa? Ele estava bem?
Décima Camada
Os parentes do pai de Joaquim,
Artur, começaram a questionar um certo desleixo por parte de Guilherme e
Natália em obter informações sobre a criança na delegacia. Guilherme disse, ao
site G1, uma frase que considerei especialmente significativa, embora pudesse
ser atribuída ao cansaço, ou à tensão: ...”Joaquim, eu gostava desse menino”.
Essa frase no passado caiu nos meus ouvidos como uma pedra.
Todos os parentes e a mãe
referiam-se ao garoto no presente, cheios esperança de que ele fosse
encontrado, e vivo! A frase no passado me soou muito mal.
Décima Primeira Camada
Uma vez achado o corpo de Joaquim,
no Rio Pardo, em Barretos, tão longe de casa, a perícia constatou que ele não
morreu afogado! Então foi morto! Ou morreu por conta da diabetes? Se fosse
assim, por que Guilherme e Natália esconderiam o fato?
Quem matou Joaquim?
Décima Segunda Camada
Uma vez encontrado o corpo de
Joaquim, e revelado que ele não morreu afogado, a mãe muda o teor dos
depoimentos à polícia e à promotoria, e conta que pensava em separa-se de
Guilherme, por conta dele haver voltado às drogas e porque ele achava, segundo
ela, o menino Joaquim um estorvo entre eles!
Décima Terceira Camada
Contei num dos textos sobre o caso
Joaquim, aqui no blog, a história dos leões machos que devoram filhotes de
outros leões do grupo quando assumem o comando. Joaquim era filho de Artur.
Talvez Joaquim doente demandasse
muito dinheiro e atenção; talvez a falta de drogas e dinheiro para as drogas o
deixassem nervoso demais. Talvez o tratamento de Joaquim tivesse custado caro.
Nem sei se com bebê novo Natália tivesse voltado a trabalhar. Assim se destrói
uma família.
Décima Quarta Camada
A família não era tão feliz como
parecia no início da história. Natália disse ao promotor (está na imprensa) que
Guilherme andava nervoso e que um certo dia, muito irritado com o choro do bebê
(quatro meses) disse que poderia jogá-lo
na parede para fazê-lo calar-se. Também teria falado em matar-se.
A polícia divulgou que após o sumiço
de Joaquim foram encontradas roupas de cama do menino molhadas com urina.
Crianças podem urinar na cama à noite. Isso pode ter irritado muito Guilherme.
Bem, são conjecturas.
A polícia é que terá que investigar
e detalhar os acontecimentos.
Somente Guilherme estaria envolvido?
(Pode nem estar, alguém pode ter mesmo invadido a casa e matado Joaquim).
Natália, antes de mudar o depoimento ao promotor, estaria tentando proteger
Guilherme, ou a si mesma? Talvez, apesar das dúvidas sobre ele e as drogas, ela
ainda o amasse um pouco. Só o tempo dirá.
A polícia quer saber como Joaquim
morreu e quem o matou. Investiga, também se Natália de algum modo estaria
envolvida; e buscar saber, ainda, se não foi um erro, por desleixo, na
administração de insulina à criança, por falta ou excesso do medicamento nas
doses.
Há uma hipótese, indicada pelo
promotor, mais macabra, mas não menos possível, ou provável: Guilherme poderia
ter dado altas doses de insulina ao menino, para matá-lo. Sabe-se, segundo
depoimento de Natália que o padrasto considerava o menino um obstáculo entre os
dois.
Décima Quinta Camada
Uma história é como uma cebola, pode
ter várias camadas. A escavação vai revelando fatos que conduzem a um final bem
diferente de tudo o que foi imaginado no início. A vida oferece muitas
surpresas.
Mas, uma coisa eu digo, e este blog
foi feito para isso também: Drogas fazem muito mal à saúde. Drogas matam.
Drogas podem fazer matar. Mesmo que Guilherme seja inocente nesta história
toda, pensem sobre isso.
Pensem sempre no assunto.
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