FOTO JÚLIO TEIXEIRA DIVULGAÇÃO |
Ipiranga, Rio Vermelho (Y significa rio, Piranga vermelho) na
língua tupi. Às margens do riacho do Ipiranga o príncipe D. Pedro proclamou a Independência
do Brasil, há 191 anos, em setembro de 1822, tornando-se Pedro I.
Não muito longe daquele ponto, Alex Siwec, quase duzentos anos depois, após abandonar o ferido no asfalto da Avenida Paulista, parou o carro às margens do riacho, no amanhecer do dia 10 de março de 2013 e jogou, como quem joga um saco de lixo, um traste velho, um nada, o braço de David, nas águas sujas do riacho.
Naquele dia, após décadas, as águas do Ipiranga voltaram a tingir-se de vermelho.
O transcurso do tempo, em relação ao riacho do Ipiranga, me faz lembra de Heráclito, o filósofo que percebeu que ninguém entra duas vezes no mesmo rio, o que pode significar que o rio é uma metáfora para a nossa própria vida. Ninguém continua igual ao que era no transcurso do tempo.
No caso específico do drama de David, este jamais será o mesmo, ainda que consiga ultrapassar o seu imenso trauma. Alex, com certeza, também nunca mais poderá entrar nas águas tranqüilas do passado sem pensar na dor que causou.
A mim, neste caso, não interessa discutir o problema entre motoristas e ciclistas, nem as exigências do ativistas do ciclismo (que coisa pedantesca) e nem de problemas técnicos de trânsito, campo de quem se identifica como especialista em uma tal mobilidade.
Acho uma estupidez, com ou sem faixa especial para bicicletas, andar no trânsito de uma artéria como a Paulista. Além do mais, embora deva haver civilidade no trânsito, além dos motoristas folgados e absolutamente mal preparados, estou também cansado de observar ciclistas e motociclistas que agem de modo absolutamente selvagem, trafegando em calçadas, pela contra-mão e atropelando pedestres.
Essa é uma questão para uma grande mudança na cultura, na educação e nas forma de punição.
O que me interessa neste caso é tentar entender o drama de dois jovens, um de 21 anos, David, simples trabalhador que teve o braço decepado, e que foi abandonado na asfalto, e outro de 22, Alex, universitário que, além de fugir do local, ao invés de prestar assistência à vítima, ainda teve a coragem, para não dizer a ousadia, ou o desplante, ou a frieza suficiente para jogar fora um braço que, segundo os médicos, poderia ter sido reimplantado.
O que leva uma pessoa a fazer isso com a outra? Um estudante universitário de Psicologia! Nem Freud explica. Ele fugiu, e um pouco mais tarde resolveu apresentar-se à polícia. Por que não levou junto o braço de David? Se foi entregar-se, por que não pensou em entregar o braço que poderia ter sido refrigerado e levado ao hospital?
É uma idéia muito ruim jogar um braço em um córrego tomado pelo lixo. É um indicador da miserabilidade moral a que se chegou nestes tempos. Um braço jogado fora como entulho é um pedaço do outro. Ao jogar a parte, demonstra-se que é possível ou tolerável jogar o todo.
A este ponto chegaram as pessoas 191 anos depois de D.Pedro I. Por isso o Ipiranga ficou vermelho de sangue e de vergonha.
GUTENBERG J.
PS. ANEXADO EM 17/03/2013
No Vídeo, a mãe de David, o ciclista atropelado, encontrou-se com os dois rapazes que o auxiliaram, evitando que morresse por hemorragia, logo após o acidente. Enquanto isso, ao invés de parar, o motorista do carro. Alex evadiu-se do lugar e ainda encontrou tempo para levar um amigo que o acompanhava até a Vila Mariana e depois jogou o braço no riacho do Ipiranga.
Embora o carona não dirigisse o veículo, poderia ter convencido Alex a parar e a prestar socorro a David. Esse ato de afastamento é que levou ao final tão dramático, impedindo o reimplante do braço decepado.
Não muito longe daquele ponto, Alex Siwec, quase duzentos anos depois, após abandonar o ferido no asfalto da Avenida Paulista, parou o carro às margens do riacho, no amanhecer do dia 10 de março de 2013 e jogou, como quem joga um saco de lixo, um traste velho, um nada, o braço de David, nas águas sujas do riacho.
Naquele dia, após décadas, as águas do Ipiranga voltaram a tingir-se de vermelho.
O transcurso do tempo, em relação ao riacho do Ipiranga, me faz lembra de Heráclito, o filósofo que percebeu que ninguém entra duas vezes no mesmo rio, o que pode significar que o rio é uma metáfora para a nossa própria vida. Ninguém continua igual ao que era no transcurso do tempo.
No caso específico do drama de David, este jamais será o mesmo, ainda que consiga ultrapassar o seu imenso trauma. Alex, com certeza, também nunca mais poderá entrar nas águas tranqüilas do passado sem pensar na dor que causou.
A mim, neste caso, não interessa discutir o problema entre motoristas e ciclistas, nem as exigências do ativistas do ciclismo (que coisa pedantesca) e nem de problemas técnicos de trânsito, campo de quem se identifica como especialista em uma tal mobilidade.
Acho uma estupidez, com ou sem faixa especial para bicicletas, andar no trânsito de uma artéria como a Paulista. Além do mais, embora deva haver civilidade no trânsito, além dos motoristas folgados e absolutamente mal preparados, estou também cansado de observar ciclistas e motociclistas que agem de modo absolutamente selvagem, trafegando em calçadas, pela contra-mão e atropelando pedestres.
Essa é uma questão para uma grande mudança na cultura, na educação e nas forma de punição.
O que me interessa neste caso é tentar entender o drama de dois jovens, um de 21 anos, David, simples trabalhador que teve o braço decepado, e que foi abandonado na asfalto, e outro de 22, Alex, universitário que, além de fugir do local, ao invés de prestar assistência à vítima, ainda teve a coragem, para não dizer a ousadia, ou o desplante, ou a frieza suficiente para jogar fora um braço que, segundo os médicos, poderia ter sido reimplantado.
O que leva uma pessoa a fazer isso com a outra? Um estudante universitário de Psicologia! Nem Freud explica. Ele fugiu, e um pouco mais tarde resolveu apresentar-se à polícia. Por que não levou junto o braço de David? Se foi entregar-se, por que não pensou em entregar o braço que poderia ter sido refrigerado e levado ao hospital?
É uma idéia muito ruim jogar um braço em um córrego tomado pelo lixo. É um indicador da miserabilidade moral a que se chegou nestes tempos. Um braço jogado fora como entulho é um pedaço do outro. Ao jogar a parte, demonstra-se que é possível ou tolerável jogar o todo.
A este ponto chegaram as pessoas 191 anos depois de D.Pedro I. Por isso o Ipiranga ficou vermelho de sangue e de vergonha.
GUTENBERG J.
PS. ANEXADO EM 17/03/2013
No Vídeo, a mãe de David, o ciclista atropelado, encontrou-se com os dois rapazes que o auxiliaram, evitando que morresse por hemorragia, logo após o acidente. Enquanto isso, ao invés de parar, o motorista do carro. Alex evadiu-se do lugar e ainda encontrou tempo para levar um amigo que o acompanhava até a Vila Mariana e depois jogou o braço no riacho do Ipiranga.
Embora o carona não dirigisse o veículo, poderia ter convencido Alex a parar e a prestar socorro a David. Esse ato de afastamento é que levou ao final tão dramático, impedindo o reimplante do braço decepado.
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